A Universidade Federal do Paraná (UFPR) publicou uma resolução que reconhece os servidores técnico-administrativos em educação (TAEs) como coordenadores de pesquisa e formaliza o acesso à plataforma institucional para registro de projetos aprovados. O documento, disponibilizado no portal da Secretaria dos Órgãos Colegiados (SOC), é fruto de aprovação no Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão (Cepe) da UFPR em sessão realizada no dia 27 de janeiro e foi publicado no dia 23 de fevereiro.
A categoria atua em diferentes cargos, como previsto no Plano de Carreira, conforme a Lei Nº 11.091 de 2005. Na UFPR, os TAEs desempenham suas funções como assistentes administrativos, contadores, arqueólogos, biólogos, médicos, sociólogos, entre tantos outros ofícios. Há a presença de técnicos administrativos em todos os setores da universidade, por exemplo, nos laboratórios de aulas práticas e de pesquisa, no Complexo Hospital de Clínicas (CHC), no Sistema de Bibliotecas (SiBi) e na Agência de Tecnologia da Informação e Comunicação (AGTic).
Apesar de a resolução reconhecendo a categoria como coordenadores de pesquisas científicas ter sido publicada somente em 2023, há muito tempo os TAEs realizam pesquisas de excelência na instituição, bem como seus representantes atuam intensivamente no Cepe. Para a categoria, a iniciativa certifica que a UFPR desenvolve pesquisas em muitos outros âmbitos que não somente aqueles restritos aos seus servidores docentes
Com a palavra, os TAEs
Doutor em Antropologia e Arqueologia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Sady Pereira do Carmo Junior coordena o projeto de extensão “Gestão do Acervo Arqueológico do MAE-UFPR”, do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE). O programa tem como objetivo a valorização e a organização do acervo, além da realização de pesquisas documentais, museológicas e arqueológicas. A equipe é composta por sete TAEs de nível superior que são responsáveis por produzir material científico e educacional, orientar estudantes e realizar publicações.
Para Sady, a mudança advinda da nova medida tem grande importância para a valorização da categoria. “A resolução vem como reconhecimento do trabalho, já que os projetos de pesquisa coordenados por TAEs agora podem ser registrados no banco de dados da universidade”, diz.
A possibilidade de novos investimentos em pesquisas realizadas por TAEs é um dos impactos da nova resolução, na percepção de Sibelle Trevisan Disaró, pesquisadora do Laboratório de Foraminíferos e Micropaleontologia Ambiental (LaFMA) e do Museu de Ciências Naturais (MCN) – ambos do Setor de Ciências Biológicas da UFPR. “Vai ajudar, provavelmente, para que nós consigamos mais investimento, uma vez que a gente consegue oficializar nossas pesquisas na universidade”.
A técnica da instituição também acredita que a medida serve como um incentivo para fomentar a categoria a produzir ciência. “Nós somos uma força de trabalho grande para a universidade, então, à medida que somos reconhecidos, somos muito mais motivados a trabalhar, a nos envolver em mais atividades e, assim, abrir oportunidades para que os alunos atuem nos laboratórios onde estamos trabalhando”, reflete.
Gustavo Biscaia de Lacerda, pesquisador que atua no Setor de Ciências Exatas da Federal do Paraná, considera ser antigo o desafio enfrentado pelos TAEs. Em sua visão, até a década de 1950, professores e pesquisadores caminhavam em pé de igualdade e com parcerias entre as categorias. Entretanto, Lacerda afirma que, por volta dos anos 1960, houve uma separação entre os dois grupos de profissionais.
“A partir da década de 60, a academia brasileira assiste a um processo cada vez mais intenso e sistemático de profissionalização; a partir disso, não se lê mais relatos dessas parcerias, o que sugere que a profissionalização da academia conduziu à separação mais pronunciada entre as categorias, com a diminuição do papel daqueles que hoje chamamos de TAEs”, contextualiza.
Na opinião de Lacerda, a medida aprovada pelo Cepe é uma possibilidade de reverter preconceitos. “A grande amplitude da importância dessa resolução está também na reversão – parcial, inicial, mas, de qualquer maneira, efetiva – dos preconceitos institucionais contra os servidores técnico-administrativos, ao reconhecer que pelo menos alguns de nós somos pesquisadores de pleno direito”, expõe.
A realidade de grande parte dos TAEs, de possuir qualificação superior à exigida pelo cargo que ocupam, também é um ponto destacado em sua argumentação. “Não creio exagerar nem errar se afirmar que a maior parte dessa qualificação extra ocorreu após o ingresso dos servidores. Isso significa que a UFPR apoiou a qualificação de seus quadros. Portanto, houve, como há, esforços institucionais; há investimentos públicos nessa capacitação.”
Com a nova resolução, há maior reconhecimento das produções científicas da universidade, aponta o pesquisador. “Trata-se, também, de reconhecer que a UFPR desenvolve pesquisas em muitos outros âmbitos, não somente naqueles restritos aos servidores docentes. Com isso, é possível que, literalmente, seja possível ‘descobrir’, isto é, desvelar uma parte importante das atividades desenvolvidas na universidade. Assim, todo um conjunto de pesquisas pode vir à luz”, ressalta.
Para a conselheira Elis Regina Ribas, os reflexos da decisão reverberam muito além do universo dos TAEs. “A principal [relevância] é o reconhecimento da categoria, que tem profissionais que foram concursados para desenvolver suas funções. Entre as quais está a realização de pesquisas, para bem atender às inúmeras demandas da sociedade e prestar serviços à comunidade – não apenas acadêmica, mas àquela em que a UFPR tem influência direta oferecendo ensino público, gratuito e de qualidade”, conclui a representante da bancada dos TAEs no Cepe.
Por Thiago Fedacz, sob supervisão de Aline Fernandes, Bruna Bertoldi Gonçalves e Jéssica Tokarski
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