Em chamadas recentes, governo federal incentivou aprimoramento da gestão do SUS. Foto: Fernando Frazão/ABr

Conheça 8 projetos e pesquisas da UFPR que propõem inovações ao SUS

23 junho, 2025
08:21
Por Camille Bropp
Ciência e Tecnologia

Iniciativas contempladas em editais do Ministério da Saúde foram apresentadas este mês na Semana de CT&I+ SUS – Semana de Ciência, Tecnologia e Inovação para o SUS, que destaca sugestões de melhorias na gestão do sistema

Por Aline Gonçalves/UFPR Litoral

Dar subsídio às políticas públicas do SUS, oferecendo inovações por meio de dados, recursos tecnológicos e novos processos, está no foco de oito projetos desenvolvidos na Universidade Federal do Paraná (UFPR) que foram contemplados em editais do Ministério da Saúde — por meio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação e do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (Sectics) — em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), durante o ano de 2024.

As iniciativas, que visam ampliar e qualificar ações do Sistema Único de Saúde (SUS), foram apresentadas neste mês na Semana de CT&I+ SUS – Semana de Ciência, Tecnologia e Inovação para o SUS, realizada em Brasília.

Confira abaixo os oito projetos em andamento na UFPR:

1. Guia para vítimas de violência doméstica

O projeto “Eu Decido”, do Departamento de Saúde Coletiva da UFPR, tem trabalhado em uma plataforma on-line de apoio à decisão e ao planejamento de segurança, em auxílio às mulheres vítimas de violência por parceiro íntimo (na sigla da saúde pública, VPI).

O aplicativo Eu Decido possibilita identificar sinais de violência em relacionamentos, avaliar o nível de segurança atual, desenvolver um plano de segurança personalizado, conhecer recursos disponíveis para apoio e tomar decisões informadas sobre o futuro. Para usar o aplicativo, a usuária responde a um questionário que e recebe recomendações personalizadas, podendo acessar recursos e informações úteis.

Coordenado pelo professor Marcos Signorelli, o projeto é desenvolvido em parceria com o Grupo Interdisciplinar de Pesquisas sobre Território, Diversidade e Saúde (TeDiS) da UFPR, as Casas da Mulher Brasileira de Curitiba (PR), de Campo Grande (MS) e Boa Vista (RR), bem como diversos governos municipal, estadual e federal, universidades no Brasil e no exterior, e órgãos de pesquisa.

2. Aprimoramento do diagnóstico de leucemia

Jaqueline de Oliveira na bancada

Vinculado ao Departamento de Genética da UFPR, o projeto “Desenvolvimento de kit molecular para detecção dos principais marcadores de impacto clínico em pacientes com leucemia linfoide aguda” pretende criar recursos para subsidiar as escolhas médicas nos tratamentos contra a doença no SUS.

A líder do projeto, professora Jaqueline Carvalho de Oliveira, explica que a meta é desenvolver um kit molecular para análise de alterações genéticas, que são importantes para a definição do tratamento dos pacientes pediátricos com leucemia. Esse recurso ainda não está disponível no SUS.

“O apoio financeiro é essencial para conseguirmos gerar esses dados, que são importantes para conhecer melhor nossa população e implementar esse exame que diretamente beneficiará os pacientes”, expôs a professora.

Segundo ela, na etapa atual do projeto estão sendo padronizadas as reações, em colaboração com outros grupos de pesquisa do Brasil. “O próximo objetivo seria realmente transformar essa pesquisa em um produto que possa estar acessível ao Ministério da Saúde e ao SUS”.

3. Letramento em saúde para comunidades caiçaras

No Departamento de Enfermagem da UFPR, um dos projetos financiados busca promover a educação em saúde, com apoio de recursos tecnológicos, em comunidades afastadas de Guaraqueçaba, no litoral paranaense. A iniciativa complementa outras ações de saúde no município já realizadas por projetos do departamento.

O projeto “Letramento digital em saúde da população caiçara paranaense”, coordenado pela professora Maria de Fátima Mantovani, é uma pesquisa multimétodos a ser desenvolvida em duas etapas — a coleta de informações nas localidades, que começa em julho, e o desenvolvimento dos recursos digitais de letramento.

Segundo Mantovani, os recursos do edital custeiam viagens de deslocamento e acomodação para a equipe de pesquisa e o desenvolvimento das tecnologias educativas, além de ajudar na disseminação da experiência em eventos e artigos científicos.

4. Saúde mental no trabalho

Também vinculado ao Departamento de Enfermagem, o Observatório Nacional Saúde Mental & Trabalho elabora um diagnóstico situacional dos agravos (danos à saúde) e da rede de atenção em saúde do trabalhador, a fim de propor modelos de vigilância e demais políticas públicas.

Sob coordenação da professora Fernanda Moura D’Almeida Miranda, a iniciativa está levantando a situação de saúde mental em trabalhadores no Brasil e ajudando a identificar fatores determinantes. Esses fatores estão relacionados ao ambiente psicossocial — o clima organizacional —, mas também às desigualdades sociais em saúde.

De acordo com Miranda, o financiamento concedido pela chamada do Ministério da Saúde e do CNPq foi decisivo para a viabilização e o fortalecimento do projeto. O observatório conta com pesquisadores e profissionais de saúde das cinco regiões do país, totalizando a inserção de 19 universidades e 19 serviços do SUS.

“Os recursos possibilitam a aquisição de softwares especializados, licenças de plataformas digitais e aquisição de equipamentos usados para a coleta, análise e divulgação de dados. Também foi possível ofertar bolsas de pesquisa, contratar profissionais, cobrir custos logísticos, como passagens, o que facilita a articulação entre pesquisadores, instituições e serviços do SUS”, afirma.

5. Apoio a quem enfrenta o câncer de mama

O projeto “Necessidades não atendidas de sobreviventes de câncer de mama, mulheres cisgênero e população trans masculina”, coordenado pela professora Luciana de Alcantara Nogueira (Departamento de Enfermagem), visa ampliar o apoio às pessoas que estão passando ou passaram por tratamento de câncer.

A coordenadora informa que o projeto está na etapa de validação, durante a qual 200 sobreviventes de câncer de mama preencherão o instrumento de pesquisa traduzido. A ideia é levantar as necessidades de sobreviventes de câncer de mama que escapam das principais políticas públicas.

“Os recursos da chamada serão utilizados nas etapas de tradução, validação, mensuração das necessidades não atendidas de sobrevivência de câncer de mama e na adaptação do plano de cuidados. Além disso, viabilizarão participações em eventos científicos e publicações em periódicos de alto impacto”, diz Nogueira.

6. Mapa do acesso ao aborto legal

Ainda no âmbito da defesa dos direitos e da promoção da saúde da mulher, está em desenvolvimento na Clínica de Direitos Humanos da UFPR, do Setor de Ciências Jurídicas, um projeto que mapeia desafios, barreiras e potencialidades do acesso ao aborto legal em serviços do SUS do país, por meio de pesquisa documental, advocacy e litigância estratégica.

Taysa Schiocchet

Chamado “Atendimento à violência sexual e acesso ao aborto legal por meninas e mulheres usuárias do SUS: avaliação diagnóstica e estratégias de atuação na perspectiva da justiça reprodutiva”, o projeto é coordenado pela professora Taysa Schiocchet, que atua nos programas de pós-graduação em Direito e em Saúde Coletiva da UFPR.

O projeto conta com a colaboração das universidades de Brasília (UnB), de São Paulo (USP), e das federais do Pará (UFPA) e da Bahia (UFBA).

“Nosso projeto trata de justiça reprodutiva, direitos reprodutivos e, mais especificamente, aborto legal em casos de violência sexual, de estupro de mulheres, meninas e pessoas que podem gestar e abortar. É um tema muito rodeado de desinformação, de falta de informação. Pretendemos realizar ações de maior impacto sobretudo no meio digital, nas redes sociais”, detalhou Schiocchet.

7. Resistência do câncer de mama a medicamento

A professora Carolina Mathias, do Departamento de Genética da UFPR, pesquisa a genética por trás do câncer no Laboratório de Citogenética Humana e Oncogenética (Labcho). Nessa linha, teve selecionado o projeto “Investigação ômica translacional da resistência ao tamoxifeno em câncer de mama receptores hormonais positivos: mecanismos e biomarcadores”.

O projeto busca avaliar a resistência do câncer de mama a uma droga específica [o tamoxifeno] no tratamento do câncer de mama, um aspecto importante no tratamento oncológico. “O monitoramento das pacientes em tratamento é de grande relevância para o SUS e, até o momento, não há nenhuma forma de rastreio molecular das pacientes”, explica.

Segundo ela, sem o financiamento não seria possível realizar o projeto, uma vez que as técnicas que serão utilizadas são atualmente o que existe de mais avançado na biologia molecular.

“Estamos na etapa de revisão dos prontuários das pacientes e na expansão da rede de colaboração de captação de amostras de pacientes com câncer de mama. Os próximos passos envolvem a extração de moléculas de DNA e RNA do tecido tumoral e do sangue das pacientes para a investigação dos marcadores moleculares”.

8. ZikaBus terá nova exposição

O projeto LabMóvel ZikaBus tem a intenção de promover a educação científica, conscientizando sobre a problemática da dengue no Brasil. A iniciativa se baseia em um micro-ônibus adaptado que transporta uma exposição sobre o mosquito Aedes aegypti e as arboviroses (dengue, zika, febre chikungunya e febre amarela urbana), principalmente para o público das escolas.

Selecionado em uma das chamadas MS/CNPq do ano passado, o projeto pretende alcançar outros grupos sociais. “Estamos ampliando essa ação para trabalhar além das visitas às escolas, sendo uma continuidade da ação através das redes sociais e de produção de conteúdo para a internet. Vamos trabalhar também em parceria com as unidades básicas de saúde”, explica o professor Rodrigo Arantes Reis, do Departamento de Bioquímica da UFPR e coordenador do labmóvel.

A equipe multidisciplinar do projeto conta com bolsistas da área ambiental, de biologia, de licenciatura em ciências, de comunicação e saúde, que estão envolvidos na pesquisa e montagem de uma nova exposição para o segundo semestre.

Sobre os editais MS/CNPq

Os projetos apresentados na Semana de CT&I+ SUS foram selecionados nas chamadas públicas 29, 30 e 33, lançadas no ano passado pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação e do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (Sectics) do MS, em parceria com o CNPq.

Na soma, as chamadas apoiam projetos de pesquisa e de inovação com focos em pesquisa sobre doenças e agravos não transmissíveis (DANT); prevenção e enfrentamento à desinformação científica em saúde; e genômica e saúde pública de precisão.

Cada edital previu ainda suporte a ações de educação científica voltadas a diferentes públicos, incluindo, assim, o incentivo à divulgação científica.

Edição: Camille Bropp

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