Atualmente, cerca de 13,8% do território nacional é reservado aos mais de 250 povos indígenas presentes no Brasil, que falam mais de 150 línguas. No estado do Paraná existem hoje três etnias indígenas, Guarani, Kaingang e Xetá. A maioria vive nas 17 terras demarcadas pelo governo federal e estima-se que cerca de 3,5 mil indígenas moram em Curitiba. Os dados são da Fundação Nacional do Índio (Funai). Reconhecendo a importância desse contexto, pesquisadores do Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) estudam as principais questões que compõem o universo indígena, do ponto de vista histórico, cultural e político. As pesquisas buscam a legitimação da presença dos povos tradicionais em Curitiba, aliando os interesses indígenas atuais, e mostram a importância da demarcação de territórios e a preservação ambiental dos que são ocupados.
O professor Ricardo Cid Fernandes, do Programa de Pós-graduação em Antropologia da UFPR, teve toda a sua formação relacionada à população indígena. Ele e os orientandos de doutorado estudam os povos indígenas Kaingang, que ocupam áreas de Mata Atlântica que vão do Rio Grande do Sul até São Paulo, passando por Paraná e Santa Catarina. Quando questionado sobre um aspecto comum em suas pesquisas, Fernandes responde: “territorialidade”.
O pesquisador salienta que a importância da demarcação de territórios indígenas não se encontra apenas na garantia de um direito histórico dessas populações, mas também contribui fortemente na preservação ambiental dos territórios ocupados. “Se olharmos o mapa do estado do Paraná hoje, principalmente no interior, se tem mancha verde, são terras indígenas. Há mata de araucária, águas puras, biodiversidade. O entorno é área de cultivo. Saindo da terra indígena, você só vê soja, trigo, milho e criação de gado. O mato desapareceu”, aponta Fernandes.
Além das transformações territoriais e ambientais, outro ponto de interesse do pesquisador são as transformações culturais. Fernandes explica que a pesquisa indígena se ocupa de compreender junto aos povos de que forma eles carregam essa identidade. Estudam-se aspectos da língua, mitologia e rituais. O pesquisador acrescenta que o senso comum dirá que esses índios não são mais índios. “Não é porque usa celular ou roupa que não é índio. Essa questão está superada. Tendo cultura, vai ter mudança. A questão é: o que fazer com a tradição deles?”.
Garantia de direitos
por meio da educação
Natural da terra indígena de Rio das Cobras, no município de Nova Laranjeiras (PR), Florencio Rékayg, da etnia Kaingang, mestre em Educação e doutorando em Antropologia pela UFPR, reconhece a importância da valorização das próprias tradições. Com foco na formação de estudantes indígenas, além de professores indígenas e não indígenas, Florencio relata que sua maior motivação está em poder contribuir com o seu povo e nas garantias de seus direitos por meio da educação. “Participei de várias atividades na formação de professores indígenas no Paraná, debates, eventos, como participante e ministrante”, conta. Atualmente, pela UFPR, pretende pesquisar o termo Jykre, cultura no processo de escolarização e experiências Kaingang no Sul do país.
Como forma de solucionar possíveis dificuldades de estudantes indígenas, a UFPR tem criado mecanismos para incentivar a permanência. A Universidade foi uma das pioneiras na criação de vagas suplementares para indígenas no ensino superior. Em 2004, por meio da resolução número 37/04 do Conselho Universitário (Coun), a instituição já dava os primeiros passos para a criação de um plano de metas de inclusão racial e social.
Nesse cenário, em 2010, o Laboratório de Interculturalidade e Diversidade (LaID) da UFPR Litoral desenvolveu o Programa de Educação Tutorial (PET) Litoral Indígena, um projeto composto exclusivamente por estudantes indígenas da instituição. O objetivo é acolher, orientar e estimular estudantes e pesquisadores indígenas a pensarem sobre suas realidades socioambientais e desenvolverem iniciativas ligadas às suas origens.
Ana Elisa de Castro, doutora em Antropologia Social e coordenadora do projeto, afirma que o principal objetivo é formar estudantes e intelectuais indígenas de alto nível garantindo que a formação profissional nas mais diversas áreas não signifique abrir mão das perspectivas de suas aldeias. “Os alunos podem se reconhecer como indígenas dentro dos campos que estudam e atuam”.
Por Gabriel Ramos
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