Terceiro eixo da rede abrange a atividade humana sobre o oceano. Foto: LEC UFPR/Acervo

Década do Oceano: Rede de pesquisa liderada pela UFPR traz mar de desafios e oportunidades

23 julho, 2024
18:00
Por Camille Bropp
Ciência e Tecnologia

Coalizão Paraná pela Década do Oceano já reúne cerca de 90 pesquisadores paranaenses em torno da cooperação e da divulgação de conhecimento sobre temas oceânicos

Centrada em ciência oceânica, uma área de conhecimento que toca profundamente o Brasil, a rede de pesquisa Coalizão Paraná pela Década do Oceano já reúne cerca de 90 cientistas, sob liderança do Laboratório de Ecologia e Conservação (LEC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). São pesquisadores jovens e sêniores da UFPR, da Universidade Estadual do Paraná (Unespar) e do Instituto Federal do Paraná (IFPR) que se dedicam a estudar ecossistemas, como manguezais e estuários; biologia marinha; crise climática; comunicação de ciência, entre outros assuntos. A variedade temática revela o papel essencial que o oceano desempenha para a vida na Terra e as possibilidades estratégicas de colaboração que a rede possibilita.

“A rede Coalizão é um espaço para que nossa comunidade científica some e ganhe força para conectar e engajar, uma oportunidade de trabalhar de forma colaborativa e integrar experiências para o bem coletivo. É hora de a ciência aplicada e aberta banhar nosso litoral do Paraná. A Coalizão vem trazer essa bandeira”, diz Camila Domit, professora na UFPR Litoral, em Matinhos (PR), e coordenadora da rede.

Enquanto permanece aberta a interessados na cooperação científica, a Coalizão trabalha nas metas de divulgação científica propostas no edital CNPq/MCTI-FNDCT Nº 61/2022, de fortalecimento do Programa Ciência no Mar e Ciência Antártica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

Outra frente de atuação está relacionada à Década das Nações Unidas da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, cujas ações nacionais são coordenadas e executadas pelo MCTI. Recentemente a rede Coalizão Paraná foi endossada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como ação local vinculada à iniciativa global da Década do Oceano.

O Paraná é um estado chave para essa atuação, visto que a sua zona costeira abriga alta biodiversidade, incluindo espécies migratórias e endêmicas, muitas delas em risco de extinção e expostas a múltiplos impactos. Além disso, conta com áreas de baías e estuários com altos níveis de produtividade biológica, incluindo áreas de berçário para animais marinhos e recursos pesqueiros.

Todas essas características fazem da região o que biólogos chamam de “hotspot de biodiversidade”. Daí ser considerada pela Unesco parte da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica e um Sítio do Patrimônio Mundial. Isso significa que é identificada como área prioritária para conservação mundial, incluindo aspectos sociais, culturais e ecológicos.

Cooperações consolidadas

A Coalizão paranaense é uma ampliação da Coalizão UFPR pela Década do Oceano, que teve início em 2019 por meio de uma articulação dos docentes e discentes do Programa de Pós-Graduação em Sistemas Costeiros e Oceânicos (PGSISCO) do Centro de Estudos do Mar (CEM) da UFPR, em Pontal do Paraná.

O novo projeto evolui na interdisciplinaridade e nas metas ao propor a implementação de uma rede científica capaz de integrar múltiplas áreas da ciência oceânica e desenvolver oportunidades para projetos colaborativos, escalonando ações individuais de pesquisadores das três instituições e construindo pontes entre ciência, governo e sociedade.

Ações e produtos são baseados em cinco eixos temáticos: i. ecossistemas marinhos e costeiros, ii. biodiversidade marinha e costeira, iii. humanidades e oceano, iv. interação continente-atmosfera-oceano e v. futuro do oceano. A ideia é que as atividades em cada eixo sejam desenvolvidas e integradas de forma sinérgica, avançando, potencializando e multiplicando os resultados de cada um deles.

A rede científica hoje conta com pesquisadores de áreas diversas, entre elas ecologia, oceanografia, zoologia, fisiologia, física, pedagogia, educação, comunicação, jornalismo e divulgação científica. É dessa forma que o oceano é apresentado em seus diferentes ambientes do litoral — como nos ecossistemas Floresta, Costão Rochoso, Rios, Manguezal, Estuário, Praias arenosas, Restinga. Também se identificam os variados grupos da biodiversidade oceânica, entre microrganismos, plantas, invertebrados e vertebrados. A diversidade chega à gama de interações, como a que acontece entre o oceano, o continente e a atmosfera e toda relação com a humanidade.

Por meio da rede, pesquisadores de todos os níveis de pesquisa trocam conhecimento e experiências, além de poderem unir resultados e bancos de dados. Assim, conseguem elencar prioridades em termos de linhas e áreas científicas, bem como encontram os melhores caminhos para ajudar a governança local e regional a tomar decisões sustentáveis que agreguem justiça social, proteção ambiental e ganhos econômicos.

“O mundo todo está buscando formas de transformar nossos hábitos e interações com o planeta de forma a vivermos de maneira mais sustentável, natural e integrativa. A Década do Oceano e os ODSs [Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU] trazem ótimas diretrizes, mas a ciência dialogada e comunicada precisa alcançar a sociedade e os tomadores de decisão para que as mudanças possam ocorrer”, reforça Domit.

Cultura científica

A Coalizão Paraná propõe ainda uma abordagem multifacetada a fim de fomentar conexões com vários grupos e atores atuantes no território litorâneo, facilitando a divulgação de ideias e experiências relacionadas aos objetivos. É dessa forma, alinhada com os esforços nacionais em apoio à Década das Nações Unidas da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, que o projeto e a rede associada se colocam como pontos de impulso para o avanço da divulgação e na cultura científica, promovendo a alfabetização e cultura oceânica.

O foco é instigar mudanças comportamentais em toda a sociedade por meio da ciência. A proposta é que isso seja obtido por meio da comunicação pública da ciência, um conceito fundado em diálogo que age para fortalecer o elo ciência-sociedade-política. Dessa forma, a Coalizão busca consolidar uma cultura científica e oceânica que dá ao oceano o seu peso em importância também no imaginário social e que surge da apropriação de conhecimento pela sociedade. No ponto final desse processo, chega-se ao desenvolvimento de resultados e produtos para diversos públicos, tais como oficinas, conferências, eventos e materiais de comunicação.

O projeto também vem colaborando com outras iniciativas regionais, incentivando o aprendizado mútuo e a troca de conhecimentos. É o caso das interações com o INCT-Mar COI e a Cátedra Unesco para Sustentabilidade Oceânica (IO-USP); o Painel Futuro Oceânico Brasileiro (PainelMar); o grupo de mobilização nacional para a implementação dos Grupos de Apoio à Mobilização Regional da Década do Oceano (GAM), bem como com a Maré de Ciência e a Aliança Brasileira para a Alfabetização Oceânica — ambos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) —, e a Liga das Mulheres pelo Oceano.

Criada pelas Nações Unidas, a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável é uma iniciativa que abrange os anos 2020 e procura gerar compromissos entre governos, sociedade e ciência para promover mudanças significativas nas sociedades humanas e no planejamento de futuro, incluindo a exploração da chamada economia azul — conceito que envolve novas formas de desenvolvimento econômico que respeitam os limites sustentáveis do oceano. Contudo, para que essas transformações ocorram, é essencial gerar e comunicar conhecimento científico.

Iniciativas como a Coalizão Paraná pela Década do Oceano permitem organizar a massa crítica de atores envolvidos nessa maré de transformações e facilitar a integração entre ciência, sociedade e governos. A Coalizão vem ao encontro da atividade da UFPR como centro de excelência em ciências ambientais e sociais, tais como a oceanografia, a geologia, geografia e as ciências biológicas.

“O oceano provê o ar que respiramos, o clima que garante a nossa vida no planeta, nos oportuniza trocas culturais e integração com outras nações, ele nos nutre com alimentos e bem-estar, além de nos permitir o desenvolvimento econômico e tecnológico. São tantos benefícios diretos e indiretos que não há como negar que devemos ao oceano reciprocidade em forma de respeito, cuidados e dedicação, garantindo sua saúde, qualidade, dinâmica temporal e espacial, sua riqueza e beleza. A Década do Oceano vem nos chamar para assumirmos essa responsabilidade e nos engajarmos nas mudanças necessárias para construirmos o futuro que precisamos para alcançarmos uma sociedade saudável, ambientalmente equilibrada, desenvolvida economicamente, com redução da vulnerabilidade social”, explica Domit.

? Acompanhe as notícias da Coalizão Paraná pela Década do Oceano

Sugestões

09 setembro, 2025

Ação busca valorização da comunidade surda ao longo do mês de setembro  No dia 26 de setembro acontece […]

08 setembro, 2025

Resultado da ação humana, seja por acidente ou negligência, a introdução de animais e plantas exóticas que se […]

06 setembro, 2025

Professora Maria Amélia Sabbag Zainko, falecida em 2024, recebeu uma homenagem póstuma, realizada no Setor de Educação Profissional […]

05 setembro, 2025

Conciliar a maternidade com a vida universitária ainda é um desafio presente em todas as instituições de ensino […]