Larissa Bruno tem 12 anos. Chegou criança ao bairro das Laranjeiras e nem lembra de ter morado em outro lugar. Ali cresceu, brincando de esqui com garrafa pet na lama ou se pendurando em cipós, com os amigos Kaline, Cristofer, Natanael e João Vítor. No lugar cercado de verde, a família chegou a criar, antes de Larissa nascer, até uma capivara, domesticada, que saia passear e sempre voltava para casa. Agora, a menina sente saudades e tristeza quando pensa no mundo de sua infância. “Senti que tudo acabou”, confessa.
O bairro das Laranjeiras foi o mais arrasado pelas chuvas. A mãe de Larissa, Teresangela Valper da Siqueira, teve que se mudar e alugou uma casa no Batel. A avô da menina, que também morava nas Laranjeiras antes da terra “engolir tudo” e os deslizamentos arrasarem o bairro, está morando no andar de cima do restaurante da filha, perto da rodoviária de Antonina. O espaço foi emprestado pela dona do imóvel, sem nenhum custo. Elas esperam o fim da construção das casas populares sob responsabilidade da Cohapar, no bairro Batel. Mesmo com melhores perspectivas, Larissa lamenta: “Não vai ser igual”.
Teresangela, no entanto, espera a casa própria, para escapar do aluguel. “Sem a casa da gente, somos ninguém”, diz.
Josilene Martins Neuburger se recusa a sair da sua casa para um dos abrigos oferecidos pela prefeitura, mesmo com o risco de novos deslizamentos. “Só saio daqui para outra casa. Ficamos um mês no abrigo e foi uma tortura. Não tem nada como a casa da gente”, afirma. A nova casa, no entanto, só deve ficar pronta em setembro.
Solidariedade
O empréstimo da parte de cima do imóvel para a avó de Larissa e o apoio governamental são exemplos de ações individuais ou dos poderes públicos e até empresas privadas para ajudar as pessoas atingidas pelos deslizamentos a refazerem suas vidas. Teresangela, por exemplo, teve ajuda dos colegas de empresa do irmão, que fizeram uma arrecadação que lhe permitiu pagar o aluguel do imóvel do seu restaurante.
Mas o envolvimento da comunidade começou no mesmo momento em que as chuvas solapavam as populações que viviam em zonas de risco. Segundo Ernesto Silva Villatore, da Defesa Civil, quase 200 pessoas se envolveram nos trabalhos durante as chuvas. Muitas foram voluntárias, como Ivan Camargo Archipow, segurança da prefeitura. Archipow estava em licença prêmio quando as chuvas começaram. Já na quarta, 9 de março, dois dias antes do momento mais crítico, ele estava de plantão, ajudando deslocar pessoas, avisando a vizinhança e fazendo vistorias. Ele pressentia que algo ruim podia acontecer, pois menos de uma hora de chuva enchia um copo de água. “A necessidade de ajudar o próximo era o mais importante”, conta.
Depois das chuvas, as campanhas de arrecadação de gêneros alimentícios em diversos lugares conseguiram mandar para Antonina uma quantidade considerável de mantimentos e recursos. Em poucas semanas, a cidade recebeu 93 toneladas de água, alimentos, roupas, leite, entre outros. Neste esforço, a UFPR foi fundamental, direcionando seu apoio a Matinhos e Antonina, cidades atingidas pelas chuvas com quem mantém relações mais permanentes.
Turismo
Uma das consequências imediatas das chuvas foi o desaparecimento dos turistas de Antonina, o que paralisou o comércio local por cerca de um mês. Mais uma vez, funcionou a parceria da comunidade com a iniciativa privada. Empresários de Curitiba organizaram, em parceria com líderes locais, o evento “Antonina Weekend, dentro do projeto “Viva + Antonina”. Nos dias 18 e 19 de junho, diversos chefs de cozinha renomados da capital vieram para a cidade preparar pratos exclusivos. Cada um assumiu a cozinha de um dos restaurantes da cidade. O objetivo era trazer o turista de volta, mostrar que a cidade está refeita e não oferece mais riscos aos visitantes. O sucesso foi estrondoso. Pessoas tiveram que esperar até as 16 horas para comer, por conta da quantidade de comensais que visitaram a cidade.
Depois, foi a vez da prefeitura se unir com o MP Lafer Auto Clube do Paraná para organizar, nos dias 26 e 27 de junho, o 9º Encontro Paranaense de Carros Antigos e Especiais de Antonina, que trouxe jipes, automóveis, camionetas, caminhões e motocicletas para a cidade. Pro fim, a UFPR trouxe o Festival, com um caráter diferente, sabendo da responsabilidade de ajudar na reconstrução da cidade, atraindo o turista e contribuindo com as atividades culturais da cidades através de oficinas focadas na vocação da cidade.
Por fim, os esforços devolveram a cidade à normalidade.
Risco permanente
Segundo o relatório da Mineropar, houve 54 deslizamentos durante as chuvas de março em Antonina. Muitas áreas estão interditadas. Outras continuam como áreas de risco, mas com a população ainda habitando as suas casas. Para os geólogos da Mineropar, Antonina não dispõe de um Plano Preventivo de Defesa Civil. “Nem a Defesa Civil do Estado, nem a Defesa Civil Municipal tomaram a iniciativa, até esta data, de estabelecer um plano de ação com vistas ao monitoramento, controle e intervenção, no caso de se repetirem acidentes geológicos como os de março de 2011”, diz o relatório.
A Defesa Civil da cidade contesta. Segundo Villatore, a prefeitura recebeu ontem, 13, os alarmes para avisar riscos de deslizamentos. O equipamento deverá ser instalado nos bairros do Portinho e Caixa D´Água, que são os que apresentam maior risco. No total, cerca de 5 mil pessoas vivem nas duas localidades. Após a instalação dos alarmes, haverá treinamento de evacuação todos os dias 20 de cada mês, “até a população estar bem treinada”, conta Villatore.
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No Tucunduva, houve mais um deslizamento na última quarta, 6. Ainda é preciso cautela.
Foto: Ronaldo Duarte
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Fonte: Mário Messagi Júnior
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