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UNIVERSIDADE
FEDERAL DO PARANÁ

Walter Boeger: estudo das enfermidades emergentes por meio da parasitologia evolutiva

A Universidade Federal do Paraná tem muitas áreas de excelência espalhadas por seus setores e campi. Entre elas estão laboratórios e grupos de pesquisa liderados por pesquisadores que alcançaram o topo da carreira no Brasil. São pesquisadores que, segundo os critérios estabelecidos pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), se destacam entre seus pares, alcançando o nível 1A, o mais alto na modalidade de bolsas Produtividade em Pesquisa. O portal da UFPR está publicando uma série de reportagens sobre os pesquisadores 1A da universidade e o trabalho científico que desenvolvem.

Walter Boeger cursava a graduação em Oceanografia quando, por influência de um professor, se interessou pelo estudo da parasitologia de peixes. Foi o primeiro passo para uma bem-sucedida carreira de pesquisador – que o levou a estudar as relações e interações entre as espécies – e, a partir daí, ajudar a entender fenômenos como as chamadas enfermidades emergentes, as quais se espalham rapidamente.

Boeger é pesquisador e professor da Universidade Federal do Paraná há 25 anos e integra o grupo de pesquisadores 1A da instituição. Suas áreas de atuação são evolução, filogeografia e biogeografia de organismos aquáticos e seus parasitos. Todo esse conhecimento o faz ver o planeta como uma grande rede de interações.

O professor possui ampla produção acadêmica: mais de 150 artigos científicos publicados em periódicos especializados, escreveu três livros e mais oito capítulos de livros. Orientou 24 dissertações de mestrado, 17 de doutorado e diversas monografias de conclusão de graduação. É editor chefe da revista brasileira Zoologia e membro do corpo editorial das revistas Comparative Parasitology, Folia Parasitológica e Papéis Avulsos de Zoologia. Para Boeger, a principal forma de mudar o mundo é por meio do conhecimento gerado na academia e de uma linha de comunicação com os tomadores de decisão.

“Precisamos de mais técnicos e cientistas influenciando os políticos do mundo inteiro. Não podemos apenas utilizar o planeta, devemos saber interagir com ele. Mas essa interação depende da contínua produção conhecimentos científicos sobre o funcionamento do sistema natural”.

Oceanólogo formado na Universidade Federal do Rio Grande (FURG), o pesquisador ingressou na UFPR em 1992, mas antes disso atuou no Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas (INPA), em Manaus, e na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). “Sou um pouco nômade, passei por todos os cantos deste país. Quando apareceu a oportunidade de morar em um lugar no qual a qualidade de vida era alta para atuar em uma universidade largamente respeitada, eu aproveitei”, conta.

Sua área de pesquisa foi escolhida desde a graduação. No segundo ano de curso, Boeger teve a influência de um de seus professores, o professor Joaber Pereira Jr., para trabalhar com parasitologia de peixes. Desse modo ele iniciou a carreira na área, na qual se aperfeiçoou e focou por muito tempo. “Parasitos são animais que vivem dentro e sobre outros, usando outras espécies de animais ou plantas como recursos. Curiosamente, eles representam mais de 50% da diversidade que o planeta possui”, explica o especialista, que tem mestrado e doutorado na área.

Segundo ele, foi justamente esse tema que o levou a se interessar por outra área de estudo: macro e microevolução – processos que produzem e reduzem a diversidade no planeta. A experiência com parasitologia o aproximou do sistema de interação entre espécies, sistema para estudar a vida no planeta. “O interessante do parasitismo e da simbiose, de forma geral, é que as relações são próximas e não deixam dúvidas sobre a existência da associação, como no caso de outros tipos de associações ecológicas tais como predação e competição. Assim, a parasitologia representa um modelo excepcional para compreender associações entre espécies”.

“Eu brinco com meus alunos que o oxigênio que eles respiram provavelmente teve parte sintetizada por algas no mar da China. Pois não há uma barreira político-geográfica nesse planeta. O que existe é um grande planeta formado por essa malha de interação de sistemas biológicos e não-biológicos que chamamos de Gaia”, diz o pesquisador. A hipótese de Gaia, que Boeger defende, propõe que a bioesfera e os componentes físicos da Terra são intimamente integrados, de modo a formar um complexo sistema integrado que mantém as condições climáticas e biogeoquímicas em homeostasia (condição de relativa estabilidade da qual o organismo necessita para realizar suas funções adequadamente para seu equilíbrio).

Como resultado do conhecimento acumulado, o professor escreveu um livro em parceria com o pesquisador Daniel Brooks, da Universidade de Toronto (Canadá) e Eric Hoberg da U.S National Parasite Collection (EUA). Brooks passou um período trabalhando na UFPR por meio do programa de Escolas de Altos Estudos (CAPES) e do Ciências sem Fronteiras (CNPq). Durante esse tempo, eles focaram na área de teoria da evolução e na adequação do paradigma tradicional darwiniano ou neo-darwinista para acomodar o conhecimento empírico que possuímos sobre a evolução de associações entre espécies. O produto final, o livro intitulado “Perfect Storm: climate, pathogens and us”, foi recentemente enviado para a Universidade de Chicago (University of Chicago Press).

“A obra trata exatamente sobre o momento pelo qual passamos. Momento de grandes mudanças impostas pela espécie humana e pela alteração climática e como isso afeta as interações”, afirma Boeger.

 LEMPE

Foto: Marcos Solivan

O professor de Zoologia foi o fundador do Laboratório de Ecologia Molecular e Parasitologia Evolutiva (LEMPE) da UFPR, que possui raízes na pesquisa aplicada. “O laboratório foi resultado de um projeto do governo do estado que tinha como finalidade fazer um programa de repovoamento de organismos aquáticos no Paraná”, conta.

Atualmente o foco de trabalho do LEMPE é o Paradigma de Estocolmo, uma nova visão sobre a evolução do sistema biológico que compõe Gaia.

No laboratório são testadas e expostas ideias desse novo paradigma de evolução. “Sob esse paradigma, é possível compreender o aumento de casos de enfermidades emergentes. Essa é a grande preocupação dos epidemiologistas atuais, as enfermidades emergentes que podem se espalhar rapidamente pelo mundo”, explica.

“A alteração climática faz com que espécies de animais e plantas comecem a se mover, buscando condições ideais de vida. A mescla de comunidades promove a intensificação da troca de agentes infecciosos, os quais podem resultar em enfermidades emergentes. Como o sistema biológico é altamente flexível, se um vírus – ou outro organismo parasito – é apresentado a novas espécies de plantas e animais, pode adicionar esse novo hospedeiro ao ciclo de vida”, explica Boeger. É nesse sentido que o pesquisador apóia as ações proativas, que são mais racionais e baratas do que as reativas. Assim, torna-se necessário conhecer os problemas para, então, poder antecipá-los e preveni-los.

O pesquisador acredita que, no momento, não há tecnologia para resolver os problemas associados às enfermidades emergentes. “A tecnologia nos deu a falsa impressão de que estamos seguros. Nós não estamos seguros, existem limites e eles serão impostos em um determinado momento”, diz. O pesquisador defende que essa é uma questão que deve ser resolvida com base em um robusto esqueleto teórico sobre a evolução do sistema biológico e suas interações, mas depende da colaboração entre cientistas de diversas especialidades, técnicos, poder público e iniciativa privada. “A incapacidade de agir em colaboração pode produzir danos gravíssimos à civilização, especialmente no período de crescentes alterações climáticas ao qual estamos submetidos”, finaliza.

Helen Mendes

Jéssica Tokarski

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