Ocado projeto Estúdio Fronteira, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo. Foto: Pedro Costa/SCH/UFPR

Projeto Estúdio Fronteira difunde tecnologias indígenas de construção na Universo UFPR

24 maio, 2025
13:22
Por Camille Bropp
UFPR

Uma oca de palha baseada na engenharia de um povo Guarani foi erguida por participantes da oficina promovida pelo projeto Estúdio Fronteira, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR), neste sábado (24), no espaço do evento Universo UFPR, em Curitiba. O conhecimento sobre a forma de construção tradicional foi repassado pelo construtor Elias Fernandes Cordeiro, de origem Mbyá-Guarani.

A construção tem estrutura de madeira (pinus) e cobertura de amarrações de palha feita de sapé, um tipo de capim, que foi colhido na aldeia Araça’i, em Piraquara, na Região Metropolitana. Na oca Guarani original, são necessárias três camadas de cobertura de sapé para concluir a habitação, que é capaz de proporcionar proteção para múltiplas famílias ao mesmo tempo que utiliza materiais renováveis.

A professora Marina Millani Oba, que coordena o projeto de extensão, explica que essa não é uma oca tradicional, mas um suporte para o diálogo proposto pelo projeto.

“É uma sala de disposição ao ar livre, um espaço de encontro para os nossos. Para as comunidades que participaram do projeto, para os estudantes indígenas da universidade, para quem quer conhecer mais sobre os territórios indígenas. Já que habitamos um território, né? Um parque, uma cidade, um estado, um país, um continente indígena”.

O Estúdio Fronteira é um projeto de extensão focado em modos de produção de espaço não hegemônicos, que realiza desde 2020 ações relacionadas à construção com saberes tradicionais, incluindo indígenas. A proposta é promover o diálogo com os saberes tradicionais, o que oportuniza ainda uma reflexão sobre o conhecimento acadêmico, especialmente no que ele cede à incorporação de violências, explica Oba.

Na Universo UFPR, o projeto está apresentando a Terra em Trama, atividade contemplada por um edital do Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura. A curadoria é compartilhada entre: Dival da Silva, cacique da Terra Indígena São Jerônimo da Serra, de etnia Xetá; Florencio Rekayg Fernandes, doutor em Antropologia pela UFPR e indígena Kaingang; Jani Kaxuka, professora de língua guarani e história, da etnia Mbyá-Guarani; e Marina Oba.

Cartografia

A estrutura expositiva resulta da interação entre estudantes e construtores indígenas, em uma colaboração que reúne diversas etnias e áreas de conhecimento. Um ponto de contato foi ao Projeto Aproxima, da Justiça Federal do Paraná (JFPR), que agregou órgãos públicos e especialistas, em parceria também com a UFPR, para resolver questões de cidadania de comunidades vulneráveis do Litoral — indígenas, quilombolas e caiçaras.

O estudante de Design Nauan Bernardo, de 27 anos, é da etnia Kaingang e participa do PET Litoral indígena, em Matinhos, composto por estudantes indígenas da instituição. Nos últimos anos, o PET mapeou as áreas indígenas do Paraná, construindo fundamentos teóricos sobre essa cartografia.

Tornou-se ainda um espaço para a convivência de diversos povos: Xetá, Kaingang, Mbyá-Guarani, Guarani Nhadewa, Avá-Guarani, Baré, Tariano, Baniwa, Tikuna e Kaixana (do Alto Rio Negro, na Amazônia), Terena e Umutina Balatiponé (do Centro-Oeste), Quéchua e Aimara (do Sul da Bolívia, na região da Pan-Amazônia), entre outros.

Nesse sentido, o PET Litoral Indígena, instituído em 2009 no Setor Litoral da UFPR, tem uma equipe intercultural e interdisciplinar com estudantes bolsistas e voluntários pertencentes a povos indígenas e matriculados em cursos de graduação em toda a UFPR. Segundo a tutora, professora Ana Elisa de Castro Freitas, do curso de Licenciatura em Artes em Matinhos, a equipe atual conta com 12 bolsistas e seis voluntários dos povos.

Da sua comunidade, Bernardo conhece outras formas de construção, visto que os Kaingang têm cultura de casas subterrâneas. As histórias sobre essas construções chegaram a ele por meio de contos e arte, como grafismos, cestos e balaios. A convivência no PET e com o Estúdio Fronteira — outra iniciativa convidada pela JFPR — fez com que o estudante conhecesse melhor as culturas de outras etnias, entre elas as ocas de palha dos Mbyá-Guarani.

Bernardo considera que levar tradições indígenas para o interior da academia também é uma forma de inclusão e acolhimento para os estudantes e os pesquisadores indígenas. “Acadêmicos indígenas mostram que é possível ocupar a universidade com orgulho levando consigo o saber ancestral e construindo pontes entre culturas conhecimentos e territórios”.

Foto de destaque: Pedro Costa/SCH/UFPR

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