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Projeto da UFPR monitora qualidade do ar em Curitiba e promove a formação de redes para conscientização ambiental

07 agosto, 2020
08:32
Por laurasomoza
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Ciência e Tecnologia
Entrevista Prof. Emílio Mercuri

Um projeto da Universidade Federal do Paraná, com colaboração da Estonian University of Life Sciences – EMÜ, localizada em Tartu, na Estônia, investe no monitoramento da qualidade do ar e na conscientização dos moradores de Curitiba para deixar a cidade mais sustentável. Intitulada “Curitiba, o Ar que você respira”, a iniciativa tem gerado dados mensais sobre a poluição ambiental em oito estações da cidade, mas pretende se expandir a partir da consolidação de uma rede partilhada pelos cidadãos. A chamada para voluntários receberem equipamentos de medição da qualidade do ar e compartilharem os dados está aberta e deve ser enviada por e-mail para lactea@ufpr.br. 

CWBreathe faz parte da pesquisa “Monitoramento e estudo de relações entre material particulado e variáveis meteorológicas em Curitiba”, do Laboratório de Computação e Tecnologia em Engenharia Ambiental (Lactea), que tem como objetivo criar uma rede de monitoramento da qualidade do ar na capital. 

Professor Emílio Mercuri (centro), com Eda e Steffen, na EMÜ, em Tartu (Foto: Acervo pessoal)

O professor do departamento de Engenharia Ambiental, Emílio Graciliano Ferreira Mercuri, conta que o processo começou há três anos, quando, com recursos do programa de internacionalização Erasmus, conheceu, na Estônia, o trabalho do pesquisador Steffen Noe: o SMEAR Estonia. Lá, o monitoramento é realizado a partir de uma torre de 300 metros e investiga a poluição dos ecossistemas de um ponto de vista abrangente.   

A pesquisa foi construída a partir desta parceria, que rendeu programas de mobilidade  internacional e terá desdobramentos nos próximos anos. “A ideia é construir uma rede complementar de monitoramento e gerar um índice de qualidade do ar que possa ser monitorado diariamente”, explica Mercuri. Para isso, no entanto, é preciso que os moradores da cidade partilhem da iniciativa, levando à prática o conceito de ciência cidadã. “A ciência cidadã é baseada na participação, consciente e voluntária, dos cidadãos que geram grandes quantidades de dados, partilham o seu conhecimento e discutem e apresentam os resultados”. 

Esse engajamento dos cidadãos também poderá ser obtido por meio elaboração de sensores que gerem indicadores para o banco de dados do projeto. Os equipamentos podem ser feitos espontaneamente a partir de um tutorial  disponibilizado pelo projeto. Outra possibilidade é que os interessados participem da chamada que irá selecionar aqueles que receberão um kit mais completo de monitoramento.  

“Elaboramos um conjunto de sensores que vai dentro de uma caixa de impressão 3D feita na UFPR, com a logo do projeto, e que envia os dados para o nosso banco de dados. Basicamente solicitaremos às pessoas que forneçam energia elétrica e internet para o funcionamento dos sensores em suas próprias casas. Em troca elas estarão colaborando com o monitoramento da qualidade do ar do seu bairro”, pontua Mercuri. 

Estação meteorológica do IAT (Instituto de Água e Terra, antigo Instituto Ambiental do Paraná IAP) em Ponta Grossa tem sensor do projeto instalado para comparação (Fotos: Divulgação CWBreathe)

Um outro eixo da iniciativa é, a partir dos indicadores, reforçar aspectos relacionados à sustentabilidade. A ideia é produzir conteúdo em redes sociais e conduzir palestras, cursos e oficinas em escolas de ensino fundamental e médio de Curitiba e Região Metropolitana. De acordo com o professor, as atividades irão abordar a poluição do ar e as ilhas de calor nas cidades, com dinâmicas em grupo que instruam as pessoas a construírem seus próprios kits de sensores de qualidade do ar, somando-se à rede. 

Segundo o professor Steffen Manfred Noe, cujo trabalho, na Estônia, inspirou o projeto da UFPR, o objetivo é intensificar a cooperação e a transferência bilateral de conhecimento. Ele explica que a estação SMEAR faz parte de uma rede global, que tem como objetivo encontrar respostas para desafios ambientais. O projeto de qualidade do ar de Curitiba poderia ser a semente para algo semelhante. “Isso permitiria um trabalho pioneiro, pois seria primeira estação do tipo SMEAR operando na América do Sul”. 

Eda Tursk, especialista em relações internacionais da Universidade da Estônia, lembra que a cooperação entre as instituições começou em 2015, com alunos de intercâmbio, e que Mercuri foi o primeiro professor da UFPR a visitar a EMU. “Mais visitas e mobilidades estudantis serão realizadas nos próximos semestres”, projeta. 

Qualidade do ar está boa nos pontos monitorados 

O monitoramento de material particulado (MP) em Curitiba e região indica, segundo o relatório do mês de junho disponibilizado pelo projeto, que a qualidade do ar na região metropolitana estava relativamente boa, com exceção da região de Campo Largo, com classificação moderada.  Em 13 dos dias monitorados o índice no município excedeu os limites do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), mas o relatório destaca que ainda é necessário ampliar os pontos de medição. Segundo Mercuri, até uma estrada de terra pode influenciar os indicadores. 

Kit mede MP10, MP2.5, temperatura e umidade do ar e pode ser adquirido pela população, por meio de edital

Tecnicamente, o relatório trabalha com a análise de material particulado 2,5 e 10 presentes no ar, esses indicadores representam a fração das partículas totais em suspensão com diâmetro de até 2,5 e 10 micrômetros, respectivamente. Se enquadram nesta categoria substâncias como poeira, neblina, aerossol, fuligem, entre outros. Segundo o padrão do CONAMA, ao longo do dia, o limite de MP 2,5 não pode ser superior a 25 micrômetros por metro cúbico e o de MP 10 deve ser menor do que a média de 50 micrômetros por metro cúbico. 

De acordo com o professor, os sensores que o CWBreathe pretende disseminar são capazes de medir o material com precisão razoável, fornecendo aos municípios informações importantes, como a detecção de fontes de poluição e a exposição humana aos poluentes do ar. “A ideia é justamente ser uma rede complementar de monitoramento”, explica. Os pontos avaliados na cidade estão em Araucária, Batel, Boa Vista, Campo Largo, Jardim Botânico, Jardim das Américas, Mercês e Orleans. Os dados são coletados em uma frequência de 5 segundos e armazenados em arquivos de texto para cada hora de monitoramento. 

Quanto a uma possível alteração nos dados causados em decorrência da desaceleração de atividades por conta da pandemia, Mercuri avalia que houve uma redução de aproximadamente 50% no total de partículas suspensas no ar nas duas primeiras semanas após o fechamento do comércio, que ocorreu no dia 20 de março de 2020. Essa redução está diretamente associada à diminuição da circulação de veículos, que são a principal fonte de material particulado na capital paranaense. 

 

Crédito da imagem de destaque: rodrigomullercwb por Pixabay

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