O aproveitamento de lodos de esgoto limpos para a recuperação da fertilidade de solos agrícolas. Este é o principal resultado do que se vem pesquisando desde 1993, num projeto desenvolvido na Universidade Federal do Paraná sob a orientação do professor Luiz Lucchesi vice-coordenador do curso de Agronomia. “Só em Curitiba, na beira do Rio Iguaçu existe lodo acumulado por mais de 30 anos”, comenta o professor. “O que nós estamos estudando e mostramos ao CONAMA é a possibilidade de se produzir – de maneira econômica, prática e adequada – lodos limpos, do tipo ‘Classe A’, para o uso na agricultura, e solução deste grave problema ambiental.”
O lodo “Classe A” segundo explica Lucchesi, é aquele que não atrai vetores, é livre de agentes patogênicos e, portanto, é o mais seguro não só para o meio ambiente como para o próprio agricultor que faz a sua distribuição sobre o solo. De outro lado, no lodo “Classe B” há maior presença de patógenos, geração de odores e a atratividade de vetores. O que diferencia os dois não é apenas a qualidade do produto final, mas principalmente o tipo de tratamento recebido.
Seguindo uma tendência mundial, a nova resolução do CONAMA estipula que num prazo de cinco anos a reciclagem de lodo Classe B nas lavouras do Brasil será banida. O que a UFPR defende é que desde já, pelo menos no Paraná – um dos maiores produtores e exportadores agrícolas – só se utilize o lodo Classe A, de modo a preservar a imagem no mercado internacional. Mesmo assim, o Classe B ainda é o mais reciclado no País.
NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE – “Nós bebemos água captada da Bacia do Alto Rio Iguaçu”, continua Lucchesi. “Assim como em outras bacias do País, esta também necessita ser despoluída. Uma das principais causas de degradação das águas ainda é o esgoto. O resultado da despoluição, ou seja, da coleta e do tratamento de esgotos, será água limpa e lodo de esgoto. Quanto mais investimentos houver mais água limpa será produzida e também mais lodo. Disso surgem as questões: o que se fazer com o lodo gerado? Acumulá-los, queimá-los ou reciclá-los?”
ALGUNS NÚMEROS INTERESSANTES – De acordo com o professor, cada habitante produz diariamente de 100 a 200 gramas de lodo. Num cálculo grosseiro, só para a população de Curitiba, cerca de 1,3 milhão – sem contar a da região metropolitana – existiria uma produção de aproximadamente 130 toneladas de lodo de esgoto por dia, que poderiam ser transformadas em 130 toneladas de lodo Classe A, ou seja, em produto para reciclagem na agricultura.
As nossas ‘lagoas de lodo’ estão saturadas e esse lodo acaba saindo por cima das barragens e atingindo os rios. Como o lodo é poluente nos rios, mas não nas lavouras, o caminho da reciclagem ainda é o melhor quando comparado às alternativas como incineração, acúmulo em leitos ou descarte em aterros
“Aplicando 10 toneladas de lodo limpo por hectare, Curitiba necessitaria de três a cinco mil hectares de terra para dar cabo do lodo produzido. O Paraná tem, em área total, 20 milhões de hectares. Ou seja, a reciclagem agrícola é uma solução mais do que factível.”
A proposta do projeto desenvolvido na UFPR é de atender grandes e pequenas comunidades por meio de centrais de transformação de lodo em produto Classe A distribuídas em pontos estrategicamente localizados no Estado. O custo de construção de cada uma delas giraria em torno dos R$ 500 mil a R$ 1 milhão. “É uma questão de escala”, completa Lucchesi, “quanto maior for o volume tratado menor será o custo da reciclagem por tonelada.”
Durante o ano de 2003, o projeto embasado nas pesquisas da UFPR foi encampado pela SANEPAR. Na época, o professor Lucchesi propôs um plano de gerenciamento de lodo de esgoto, sugerindo uma central de processamento na ETE-Belém – Estação de Tratamento de Esgoto – às margens do Rio Iguaçu. O lodo produzido foi o Classe A que eliminou totalmente os ovos de helmintos (lombrigas e vermes). De pastoso, o lodo foi transformado em uma substância granulada, sem patogênicos, e ainda enriquecida com microorganismos benéficos para o solo. “O que conseguimos fazer foi produzir um produto limpo, Classe A, de fácil estocagem, transporte e distribuição no campo, isto possibilitou uma grande contribuição para a limpeza da Bacia do Alto Rio Iguaçu, ao mesmo tempo em que também beneficiávamos o ambiente no destino, por meio da fertilização do solo”, explica o professor.
A planta da ETE-Belém, que funcionou somente durante o ano de 2003, foi a primeira do tipo na América Latina. Hoje há uma segunda instalada em São José dos Pinhais, destinada ao tratamento de lodos industriais. “O que estamos pesquisando é o enriquecimento com nutrientes. Também fazemos análise dos metais pesados, coliformes fecais e da qualidade agronômica”, complementa Lucchesi.
INTERESSE DOS JAPONESES – Devido ao sucesso das pesquisas, o projeto de reciclagem agrícola de lodos da UFPR já tem inclusive um PIN – Project Idea Note aprovado no âmbito da Câmara de Comércio Brasil – Japão. “Ele está sendo proposto como um MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo para ser ofertado às empresas japonesas sob o Protocolo de Kyoto. O PIN é o primeiro passo para se enquadrar um projeto no processo de geração de créditos de carbono. O interesse adveio do fato da reciclagem agrícola reduzir a emissão de metano – gás causador do efeito estufa, gerar melhorias na qualidade da água e do solo e produzir um impacto social altamente positivo”, finaliza Lucchesi.
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Fonte: Vivian de Albuquerque
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