Os endófitos são micro-organismos que vivem no interior das plantas sem causar, aparentemente, dano a seus hospedeiros. No Brasil, a diversidades desses organismos ainda é um universo a ser explorado, conforme concluíram os pesquisadores do Departamento de Genética da Universidade Federal do Paraná (UFPR) no artigo “BrazilianPlants: AnUnexplored Source ofEndophytes as Producersof Active Metabolites”. Publicado na revista Planta Médica, os pesquisadores Daiani Cristina Savi, Rodrigo Aluizio e Chirlei Glienke revisaram a pesquisa sobre a comunidade de endófitos encontrados no País.
Há certa discordância dentro da comunidade científica sobre o que qualifica um endófito ou um patógeno (micro-organismo que prejudica as plantas durante a interação). De acordo com os autores, embora a coexistência de plantas e endófitos permaneça incerta, o fato de as plantas não se defenderem dos colonizadores internos caracteriza a relação simbiótica entre a planta e o endófito. Nessa interação, pode haver o fornecimento de metabólitos úteis à planta, ajudando-a a obter nutrientes essenciais – como nitrogênio, fósforo e ferro – e a defender a planta contra patógenos.
O Brasil abriga mais de 55 mil espécies de plantas e, embora essa diversidade esteja bem documentada, o número e a riqueza de microrganismos endofíticos permanecem sem registro. Nesse cenário, dois biomas são reconhecidos como locais ímpares globais de biodiversidade: o Cerrado Brasileiro e a Mata Atlântica que representam uma fonte inesgotável de microrganismos.
Na última década, o interesse de pesquisadores por essa área tem aumentado significativamente. Os autores descobriram 67 trabalhos publicados entre 2012 e 2017 que fizeram isolamento de endófitos, identificação de espécies e bioprospecção no Brasil. Esses artigos examinaram 54 espécies de plantas, sendo as famílias Fabaceae (leguminosas), Myrtaceae (murta) e Asteraceae (margarida) as mais representadas.
Os endófitos descobertos nesses estudos foram divididos entre bactérias e fungos. Em meio aos fungos, os organismos do filo Ascomycota foram maioria, enquanto nas bactérias, apareceram organismos nas classificações Bacteroidetes e Firmicutes. Esses filos são os dominantes na composição dos microbiomas nos países ocidentais.
Nos 67 trabalhos revisados pelos autores, pelo menos sete compostos desconhecidos foram isolados dos metabólitos. “Os endófitos encontrados no Brasil têm sido associados como fonte de moléculas bioativas, algumas delas com uma nova estrutura molecular. Os avanços biotecnológicos contribuem para aumentar a importância da diversidade brasileira e novas espécies e compostos bioativos ainda devem ser relatados”, concluíram os autores.
Pantanal
Em fevereiro, pesquisadores da UFPR realizaram uma expedição à Serra do Amolar, no Mato Grosso do Sul. A atividade também pode ajudar a desvendar a função de novos endófitos. “Foi possível coletar materiais que não existem em outro lugar do mundo, como a planta Cambará”, ressalta Chirlei. As folhas da planta medicinal estão sendo analisadas por docentes, mestrandos, doutorandos e estudantes de iniciação científica do departamento. Segundo a professora, os micro-organismos serão isolados e daqui a cerca de um ano devem produzir metabólicos secundários com atividade biológica, como antibióticos e citotóxicos contra células tumorais.
