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Pesquisadora da Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular analisa a qualidade da água em cinco pontos do Rio Iguaçu

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Pesquisa identificou concentrações de poluentes orgânicos chamados “persistentes” acima do permitido pela legislação. Foto: Wikimedia Commons / Domínio público

A pesquisadora Flávia Yoshie Yamamoto avaliou em sua tese de Doutorado a qualidade da água em cinco reservatórios ao longo do Rio Iguaçu, no interior do Paraná. Os reservatórios de Foz do Areia, Segredo, Salto Santiago, Salto Osório e Salto Caxias são de usinas hidroelétricas e ficam em áreas que vão das proximidades de União da Vitória (região sul do Paraná) até a região de Cascavel (oeste do estado).

Doutora em Biologia Celular e Molecular, Flávia defendeu sua tese no último mês de abril, sob a orientação do professor Ciro Alberto de Oliveira Ribeiro. O desenvolvimento da pesquisa contou com três etapas distintas:

Na primeira, houve a análise química para detecção de substâncias tóxicas tanto na água, sedimento e músculo dos peixes associadas a diversas respostas biológicas em órgãos como fígado, cérebro, brânquias e sangue dos peixes de três espécies (lambari, cará e joaninha), coletados nos cinco reservatórios. “A escolha por espécies diferentes foi porque elas podem apresentar diferentes taxas de bioacumulação e respostas biológicas distintas”, relata Flávia. Nesta fase, a pesquisadora percebeu que as análises de cianobactérias, dos metais e respostas nos peixes demonstraram tanto uma maior poluição nos reservatórios mais próximos da capital, Curitiba, como dos mais distantes, sugerindo que os reservatórios encontram-se impactados tanto pela poluição oriunda de Curitiba, quanto por outras fontes de poluentes liberados ao longo do rio, como os provenientes da agricultura.

Com este diagnóstico, Flávia partiu para a segunda parte da pesquisa: avaliar se estes compostos tóxicos poderiam estar interferindo no funcionamento do sistema endócrino- reprodutivo dos peixes. Para isto foi produzido um anticorpo para detectar uma proteína que é capaz de demonstrar a presença destes poluentes no ambiente aquático. Nesta fase, os padrões de comprometimento dos peixes foram parecidos com os da primeira, sendo que as fêmeas coletadas nos primeiros reservatórios foram principais alvos de desregulação endócrina, apresentando um menor grau de maturação sexual como um efeito toxicológico reprodutivo.

Num terceiro momento, a pesquisadora entendeu ser necessário fazer outras análises mais sofisticadas para ver os mecanismos de ação destes químicos, ou seja, como eles agem no sistema endócrino, possíveis somente pelo uso da tecnologia a nível molecular. Para estas análises, Flávia manteve 300 peixes de uma espécie de tilápia em tanques-rede de 2 m³, distribuídos em cada um dos cinco reservatórios. Depois de dois meses, estes peixes foram retirados dos tanques e os tecidos coletados foram transportados para os Estados Unidos, onde foram feitas as análises moleculares durante o período do doutorado-sanduíche de Flávia, na University of California, Riverside.

Neste experimento, Flávia identificou concentrações de poluentes orgânicos chamados “persistentes” acima do permitido pela legislação, que após vários anos continuam nas águas dos reservatórios e por conseqüência, contaminam os peixes. As análises moleculares mostraram uma alteração em enzimas envolvidas com o metabolismo de hormônios esteroides. “Não podemos definir um gradiente de contaminação, ou seja, que os reservatórios apresentam uma melhora na qualidade da água ao longo do percurso do rio, como sugere o último relatório do IAP”, explica Flávia. Tanto que a composição dos contaminantes é diferente – nos mais próximos à Curitiba, são influenciados pela ação dos efluentes domésticos e, mais ao interior, por substâncias tóxicas advindas da agropecuária.

Nenhum trabalho deste tipo ainda tinha sido feito no Rio Iguaçu. No Brasil, este tipo de estudo que inclui análises moleculares ainda é muito pouco desenvolvido. Por isso, Flávia ressalta a importância de políticas públicas para a preservação do rio, para que os impactos ambientais de atividades antrópicas sejam minimizados nas regiões dos reservatórios e não impliquem na saúde dos peixes, e por conseqüência, do próprio homem. “Por isso que estudos como esse precisam ser mais aprofundados, principalmente no Rio Iguaçu, considerado o segundo rio mais poluído do Brasil”.

 

Por Aspec Bio – Assessoria a Projetos Educacionais e de Comunicação / Setor de Ciências Biológicas

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