Em uma visita à Embaixada do Brasil, em Pequim, o sociólogo Tom Dwyer ouviu o embaixador dizer a ele a outros colegas ali presentes que já era hora de todas as áreas do conhecimento no Brasil estudarem a questão da China. ‘Saímos dali silenciosos, cientes do fardo lançado sobre nós a partir daquele momento’, brincou o professor titular da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, que desde então passou a pesquisar as relações entre o Brasil e a China.
Dwyer falou sobre o tema ‘A China e o Brasil – Mudanças, Permanências e Desafios Para a Sociologia Brasileira’ em conferência realizada hoje pela manhã, no XV Congresso Brasileiro de Sociologia, que termina hoje na Reitoria da Universidade Federal do Paraná. ‘Há pouco tempo, tudo o que acontecia na China era irrelevante no Brasil. Mas, de uma maneira súbita, as relações com aquele país passaram a ocupar um lugar central no processo de alteração da posição do Brasil no mundo. Mas este é um encontro de muitos perigos’, alerta o pesquisador que vem estudando, particularmente, aspectos relacionados à juventude chinesa.
Para Dwyer, neozelandês radicado há quase 30 anos no Brasil, é preciso começar a agir por aqui como os chineses já vem fazendo há muitos anos, ou seja, conhecer melhor o país com o qual vêm estreitando cada vez mais o número de fluxos e intercâmbios comerciais ou culturais. ‘Se as populações de nossos países, e sobretudo aqueles que agem nas esferas da política e internacional, não chegam a se conhecer melhor, aprender a se respeitar, os inevitáveis conflitos que surgirão podem se agravar’, diz.
Ele aponta falhas em relação ao aprendizado do mandarim nas universidades, que ainda não se debruçaram com mais afinco sobre o país asiático para enfrentar os desafios trazidos pelas novas relações entre Brasil e China. ‘Só em Pequim, há sete universidade com curso de Português; aqui, somente a Universidade Estadual de São Paulo -USP. Os empresários e diplomatas chineses sabem falar o português perfeitamente, e o contrário ainda não acontece. Os sociólogos da China já traduziram obras de brasileiros como Fernando Henrique Cardoso, Celso Furtado, entre outros, e nós, o que conhecemos da Sociologia chinesa??.
Surge também a necessidade de se formar tradutores especializados em Ciências Sociais para evitar equívocos de interpretação. ‘Os chineses têm conceitos sociológicos que têm a ver com a cultura, que inclui o equilíbrio, e que os tradutores por vezes suprimem por não compreenderem’, diz. Ele lembra que na China há cinco pontos cardeais: além de Norte, Sul, Leste e Oeste, há o Centro como direção. ‘Ou seja, o equilíbrio que orienta o povo chinês’, diz Dwyer.
O pesquisador aponta que é preciso lançar um olhar mais cuidadoso sobre a sociedade chinesa. ‘Pela imprensa ficamos sabendo que a China se tornou um país capitalista. É uma visão reducionista, a China é outra coisa’, diz. Ele explica que o país vive um momento de transição socialista em que são enfraquecidos os laços entre população e Estado. ‘Isso provoca uma clivagem entre os ‘poderosos’, as elites políticas e intelectuais, e os ‘fracos’, ou seja, aqueles que não são ligados ao partido, que gera uma grande desigualdade?, conta. Mas essa desigualdade, explica, não se traduz em miséria. ‘A miséria não foi erradicada, mas hoje é difícil identificá-la em um país que vive um renascimento impressionante, comparável ao que viveu durante a Dinastia Tang, entre os anos 618 e 907’, conta.
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Fonte: ACS e Assessoria do evento
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