Durante dois anos, uma equipe de pesquisadores formada por integrantes dos departamentos de Fisiologia, Farmacologia e Patologia Básica, e também do Hospital de Clínicas, trabalhou em conjunto com a Associação Paranaense de Portadores de Parkinsonismo. O objetivo era aplicar os conhecimentos de uma pesquisa já feita em ratos, em pacientes da Associação. E os resultados são mais que promissores.
“Nós já tínhamos conferido a existência de vários relatos na literatura que mostravam os efeitos antidepressivos de ácidos graxos poliinsaturados da família Ômega 3”, comenta uma das pesquisadoras, a professora Anete Curte Ferraz, do Laboratório de Neurofisiologia da UFPR. “A partir deles, fizemos testes em ratos e verificamos que existiam realmente benefícios na suplementação da alimentação com o óleo de peixe, rico nestes ácidos graxos. Ou seja, nas fases críticas de desenvolvimento do sistema nervoso central –
durante os períodos de gestação e lactação – os ácidos graxos poliinsaturados – grupo ao qual pertencem os ácidos graxos Ômega 3 – promoveram alterações funcionais, as quais perduraram até a fase adulta. Isso aconteceu mais ou menos no mesmo período em que uma neuropsicóloga da Associação de Portadores de Parkinsonismo nos procurou querendo trabalhar a questão dos pacientes com depressão, sintoma que atingia pelo menos 50% deles”.
O trabalho desenvolvido com a Associação consistiu no chamado “duplo-cego”. Os pacientes, após passarem por uma rigorosa seleção – com psicólogos, psiquiatras e neurologistas – e serem classificados com transtorno depressivo, foram divididos em dois grupos: um que passou a receber placebo (óleo mineral) e outro a suplementação com óleo de peixe, fornecido numa parceria fechada com a Fundação Herbarium de Saúde e Pesquisa.
“A técnica é chamada de duplo-cego, porque a neuropsicóloga que acompanhou os pacientes não sabia quais eram de qual grupo, assim como os próprios pacientes – quem toma e quem observa é “cego”, explica Anete. “E assim foram trabalhados, durante três meses, os 31 pacientes aprovados para o estudo. Pessoas que usavam antidepressivos há mais de um ano sem os efeitos desejados, ou que se recusaram a fazer o tratamento medicamentoso para o transtorno e que não utilizavam nenhum tipo de droga e não estavam no estágio avançado da doença de Parkinson”.
Os resultados dos testes realizados antes e após os três meses de suplementação mostraram uma diminuição dos sintomas depressivos com remissão acima de 50% da pontuação – segundo a Escala de MADRS, uma das ferramentas utilizadas neste estudo – em 42% dos pacientes suplementados com o óleo de peixe, enquanto apenas 6% dos pacientes do grupo placebo apresentaram remissão acima dos 50%.
“Esta pesquisa é recente e representa a primeira investigação terapêutica sobre estes ácidos graxos em pacientes com doença de Parkinson associada à depressão”, explica Anete. “Por isso mesmo, torna-se uma boa notícia no tratamento para depressão, principalmente por ser um suplemento alimentar com poucos efeitos colaterais e, no caso do paciente parkinsoniano, pelo fato deste já fazer uso de muitas medicações que possuem uma série de efeitos adversos. Trinta e um pacientes ainda é um número muito pequeno e não pode ser generalizado. Mas os dados já sugerem que o óleo de peixe pode sim ter efeitos sobre a depressão. O que é preciso agora é ampliar o estudo com um número maior de pacientes. Também pretendemos avaliar o mecanismo de ação dos ácidos graxos ômega-3, presentes no óleo de peixe. Para isso já estamos iniciando os exames nas amostras de sangue dos pacientes pesquisados, congeladas para esta segunda etapa do trabalho”, conclui.
O trabalho já está publicado no “Journal of Affective Disorders”, da editora Elsevier. Ele pode ser acessado, na íntegra, no endereço www.elsevier.com/locate/jad.
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A pesquisa analisou os efeitos do óleo de peixe em pacientes com doença de Parkinson
Foto: Arquivo Google
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Fonte: Vivian de Albuquerque
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