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Pesquisa inédita de Medicina Veterinária na UFPR ganha verba e parceria internacional

Alguns dos animais estudados na pesquisa (foto arquivo HV)
Alguns dos cães Whippets estudados na pesquisa (foto HV/UFPR)

Uma pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da UFPR acaba de receber apoio internacional e terá continuidade promissora numa parceria com a Michigan State University (MSU), dos Estados Unidos. A pesquisa, inédita, identifica e relata uma forma de Atrofia Progressiva de Retina que acomete cães da raça Whippet, atendidos no Serviço de Oftalmologia Comparada do Hospital Veterinário da UFPR. Trata-se de uma doença análoga à Retinose Pigmentar (RP) dos seres humanos.

Conduzida pelo grupo de pesquisadores formado pelos professores Fabiano Montiani-Ferreira, do Departamento de Medicina Veterinária, Mario Sato, do curso de Medicina da mesma instituição, pelo doutorando e médico veterinário André Tavares Somma e pelo médico Naoye Shiokawa (Retina & Vítreo Consultoria, Curitiba-PR), a pesquisa aponta que as características clínicas sugerem que a doença identificada nos Whippets é um tipo inédito de Retinose Pigmentar, com características clínicas únicas. Tal descoberta tem impacto para a oftalmologia veterinária, oftalmologia médica e saúde pública.

Com a pesquisa em mãos, o professor Montiani-Ferreira enviou ao exterior um projeto para dar continuidade à investigação, particularmente para a caracterização molecular da doença.  Após participar de um edital competitivo de pesquisa internacional em conjunto com o renomado pesquisador Simon Petersen-Jones, a Michigan State University decidiu conceder uma verba de pesquisa denominada “MSU Endowed Research Funds – Harvey J. Fiege Fund” para que junto com a equipe do professor Petersen-Jones seja sequenciado e investigado o DNA de animais afetados e não afetados a fim de descobrir qual a mutação que é responsável pela doença, uma vez que isto pode representar um grande avanço na pesquisa e no diagnóstico das RPs que afetam os seres humanos. Nos próximos meses, cada grupo vai se dedicar a uma parte do projeto. Está prevista também a ida do doutorando André Somma à Michigan State University como parte de seu trabalho de pós-graduação.

Exames da retina dos animais (fotos HV-UFPR)
Exames da retina dos animais, à esquerda o não afetado pela doença (fotos HV-UFPR)

A retinose pigmentar (RP) é um tipo de degeneração da retina, tecido responsável pela captura de luz e transformação da mesma em estímulos elétricos que viram imagens no cérebro. Os indivíduos afetados por RP perdem a visão progressivamente. Mais comumente, a visão nos ambientes mais escuros é afetada inicialmente seguida da perda da visão em ambientes iluminados. A doença pode acometer animais e seres humanos e é considerada sem cura.

A PESQUISA

Após identificarem os primeiros animais apresentando a doença, atendidos no Hospital Veterinário da UFPR, os pesquisadores divulgaram o interesse em caracterizar a doença nos animais desta raça por meio de e-mails, cartazes e postagens nas mídias sociais. Ao final de dois anos, por meio de exames simples e não invasivos, como fotografias do fundo de olho, os pesquisadores identificaram dezesseis cães afetados com a doença, todos da raça Whippet, além de examinarem inúmeros animais clinicamente saudáveis, sendo que alguns deles seriam potenciais carreadores da doença. Cegueira noturna e ausência de respostas durante testes visuais foram sinais sempre presentes em cães afetados mais velhos. Dentre os sinais clínicos oculares destacaram-se: hiper-refletividade generalizada progressiva, atenuação dos vasos sanguíneos retinianos e descolamentos multifocais de retina que ficaram bastante evidentes em imagens de tomografia de coerência óptica (TCO). Nos animais jovens (até um ano de idade) o exame funcional de eletrorretinografia (ERG) demonstrou um padrão denominado negativo (semelhante à cegueira noturna estacionária – CNE) que ocorre em seres humanos e posteriormente, nos animais mais velhos (acima de um ano de idade), o traçado do exame tornou-se uma linha horizontal em paralelo com a deterioração progressiva da função da retina.

A IMPORTÂNCIA DESTE ESTUDO

A RP é na verdade um conjunto de doenças hereditárias que causa sinais clínicos similares (degeneração progressiva da retina). Por este motivo, ganhou um nome coletivo. Possíveis tratamentos a serem desenvolvidos no futuro certamente irão variar de acordo com o tipo da RP. Para tanto, torna-se importantíssimo saber qual o defeito genético de cada paciente, pois são várias as possíveis mutações que causam estes sinais clínicos. Aí é que entram os animais. “A identificação e o acompanhamento de animais afetados espontaneamente com uma das muitas formas esta doença são de suma importância, uma vez que há a possibilidade de serem examinados para melhor compreendermos sua fisiopatologia, progressão e possivelmente a cura com o desenvolvimento de novos tratamentos. Tal modelo é particularmente importante porque as semelhanças entre os olhos caninos e humanos facilitam as abordagens terapêuticas e métodos de avaliação não invasivos que tornam mais fácil para desenvolver e testar novos tratamentos”, explica o professor Montiani-Ferreira. Esta área de transferência de conhecimento dos animais para o homem é denominada de medicina translacional e vem se tornando uma ferramenta bastante útil para o progresso rápido da ciência médica sem o uso prejudicial de animais, por tratarem-se de doenças espontâneas (não experimentais).

A análise dos cruzamentos que foram realizados pelos criadores e pelos proprietários destes Whippets sugere que a doença seja de herança autossômica recessiva. Todos estes resultados foram apresentados pelo médico veterinário André Tavares Somma no começo deste ano, no Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias.

Apesar da etapa de caracterização clínica da investigação já estar encerrada, a equipe ainda está cadastrando animais com este problema e a população pode contribuir. Assim, qualquer pessoa que seja responsável por um cão da raça Whippet com alguns os sinais da doença relatados acima pode em contato com os pesquisadores por meio do e-mail montiani@ufpr.br. Existe interesse em continuar identificando indivíduos carreadores e orientar os responsáveis sobre o convívio com animais cegos e sobre como evitar que a doença continue se propagando.

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