Uma parceria entre universidades brasileiras e internacionais concluiu que o fornecimento de alimentos e bebidas para espectadores nos Jogos Olímpicos Rio 2016 não cumpriu os padrões da Organização Mundial de Saúde, os conselhos dietéticos do Governo Brasileiro e os próprios objetivos do Comitê Organizador. Liderado por Joe Piggin, pesquisador da Universidade de Loughborough, o The Phansmer Research Group é composto por Doralice Lange de Souza, professora do Setor de Ciências Biológicas da UFPR, Sabrina Furtado, mestranda em Educação Física na UFPR, e membros da Université Paris Descartes (França), Universidade Federal de Minas Gerais e Universidade Federal do Rio Grande.
O grupo de pesquisa examinou a política de saúde pública, coletou dados em diversas instalações esportivas destinadas aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos e entrevistou espectadores que participaram da Rio 2016. Antes dos Jogos começarem, documentos endossados pelo COI determinavam que os alimentos ofertados deveriam ser “saudáveis, nutritivos e equilibrados” e que “os produtos e receitas brasileiros deveriam ter uma posição de destaque em todos os cardápios”. No entanto, a pesquisa do grupo mostra que esse não foi o caso. Em vez disso, alimentos e bebidas ultra processados dominaram os menus.
Piggin observa que cerca de 8 milhões de refeições foram servidas aos espectadores durante as 4 semanas dos Jogos. “Foram 8 milhões de oportunidades para ensinar e reforçar o comportamento saudável de pessoas de todas as idades. As diretrizes alimentares para a população brasileira sugerem que os alimentos e bebidas ultra processados devem ser evitados porque tendem a ser consumidos em excesso, deslocam alimentos naturais ou minimamente processados e seus meios de produção, distribuição, comercialização e consumo prejudicam a cultura, a vida social e o meio ambiente”, explica o pesquisador.
Dicas para o futuro
O relatório Phansmer propõe que mudanças significativas sejam feitas em futuros Jogos Olímpicos e Paralímpicos para garantir que os espectadores não sejam privados de acesso a alimentos e bebidas saudáveis. O relatório também sugere que a alimentação saudável deva ser considerada como tema de importância superior aos interesses dos patrocinadores.
Outras questões que impediram os espectadores de terem uma dieta saudável nos Jogos incluem o confisco de comida e bebida dos mesmos nos pontos de entrada de locais de jogos, dificuldade de acesso à água potável em algumas instalações esportivas e uma política que favoreceu os patrocinadores e excluiu outras opções saudáveis.
O grupo de pesquisa argumenta que o Comitê Olímpico Internacional (COI), os futuros Comitês Organizadores Locais (LOCs) e patrocinadores corporativos devem se comprometer com padrões mais elevados de refeições para os espectadores, consultando especialistas independentes em saúde pública. O grupo também argumenta que megaeventos como os Jogos Olímpicos devem permitir que os espectadores levem sua própria comida e bebida ou devem garantir que os espectadores possam comprar alimentos saudáveis. O aumento de opções vegetarianas também é necessário, bem como melhorias na apresentação visual de alimentos em todos os menus.
“Megaeventos esportivos como os Jogos Olímpicos e Paralímpicos são eventos globais significativos”, aponta Piggin. “Considerando as questões de saúde global relacionadas à má nutrição, este estudo expôs uma série de falhas na Rio 2016, o que deve ser tratado com urgência pelo COI, LOC e patrocinadores corporativos”.
A OMS recomenda que seus Estados membros não comercializem bebidas açucaradas e alimentos não saudáveis em locais onde crianças e adolescentes se reúnem (como instalações esportivas e eventos). O grupo Phansmer recomenda mudanças significativas na maneira como megaeventos tratam seus espectadores. “Os Jogos ficaram muito aquém da política da OMS, das orientações do governo brasileiro e das próprias diretrizes dos Jogos. Faz-se necessária uma maior ênfase na promoção da saúde em eventos como estes”, conclui o estudo.
Confira o estudo na íntegra clicando aqui.