Em busca de soluções para problemas ambientais relacionados à falta de água em solos semiáridos da região Nordeste, uma pesquisa do Programa de Pós-graduação em Química da Universidade Federal do Paraná apontou uma maneira efetiva de aumentar o conteúdo de água no solo. O trabalho ganhou destaque internacional neste mês de julho com a publicação no periódico Scientific Reports, do grupo Nature.
O projeto está relacionado à caracterização de biochars ou biocarvão – um carvão vegetal produzido para utilização agrícola – obtidos a partir de diferentes matérias-primas, com objetivo de estabelecer correlações entre tais propriedades e possíveis mudanças na capacidade de retenção de água em solos semiáridos.
Estela Batista desenvolveu o tema em sua tese de doutorado. De acordo com a pesquisadora, os resultados demonstraram que a aplicação do biochar aumentou a capacidade de retenção de água destes solos pobres em nutrientes. O reaproveitamento da biomassa para utilização na agricultura, por meio da produção de biochar, também evitaria o acúmulo de resíduos, diminuindo a poluição ambiental.
“A aplicação do biochar no solo pode ser vista como uma estratégia de adaptação potencialmente eficaz para contribuir, ao lado de outras práticas de gerenciamento agrícola e da pecuária, no sentido de melhoria dos períodos de estresse hídrico em épocas de seca no Nordeste do Brasil e em outras partes do mundo, onde ocorrem fenômenos similares”, explica Estela.
A pesquisa publicada no periódico Scientific Reports foi orientada pelo docente Antonio Salvio Mangrich. O assunto é considerado de extrema importância no Brasil e em diversos países. “A falta de água dificulta as atividades agrícolas e agropastoris. No nosso caso, os nordestinos estão migrando para a Amazônia, provocando desmatamento. Indiretamente, estamos preservando o Bioma Amazônico, proporcionando condições para que o povo nordestino não precise sair para outras áreas”, afirma o orientador.
“Essa publicação nos enche de orgulho, pois é um periódico visto no mundo inteiro. Por ser acessível a muitos pesquisadores, independente da área que atuam, certamente será lido por todos interessados no assunto”, avalia a pesquisadora.
Parceria entre UFPR e UFS
A iniciativa de estudo na área surgiu por meio de uma parceria entre a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Universidade Federal de Sergipe (UFS), para atender um projeto da Capes e do Ministério da Integração. A proposta é produzir “biochar” pelo método pirólise e diferentes tipos de resíduos agroindustriais, com objetivo de solucionar dois problemas ambientais: o acúmulo de resíduos agroindustriais e a falta de água que ameaça as regiões áridas e semiáridas.
O projeto está apoiado em duas teses de doutorado, orientadas pelo professor Antonio Salvio Mangrich. A tese de Estela Batista, intitulada “Biochar como ligante macromolecular no solo visando aumentar a capacidade de retenção de água nos solos do Nordeste do Brasil”, é uma delas.
A pesquisa propõe o reaproveitamento de resíduos de casca de coco, bagaço de cana-de-açúcar, bagaço de laranja, entre outros. A ideia é evitar a acumulação e contribuir para o controle da poluição, proporcionando melhores condições de saúde pública e viabilizando a sustentabilidade do crescimento da produção agrícola.
“O acúmulo de resíduos sólidos da casca de coco, por exemplo, gerado pelo consumo da água de coco, representa um sério problema ambiental nas cidades litorâneas quando depositado de forma inadequada”, explica o docente Antonio. “Isso coloca em risco o meio ambiente e pode contribuir para a proliferação do mosquito da dengue”.
A região do semiárido nordestino é exposta a secas rigorosas que, somadas a baixa capacidade de retenção de água e à forte incidência solar, provocam infiltração e evaporação rápida, causando deficiência de água.
A UFPR contou ainda com a colaboração de diversos pesquisadores. A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) contribuiu para a determinação dos grupos ácidos no biochar.
Melhorias para a região Nordeste
A pesquisadora Estela conta que a atividade agrícola sob a condição de falta de água é pouco intensa e não contínua. Diante disso, a aplicação de biochar proveniente de resíduos agroindustriais pode melhorar as características físicas, químicas e biológicas do solo, especialmente a capacidade de retenção de água.
Tais estratégias contribuiriam para amenizar os efeitos dos longos períodos de secas na região Nordeste, proporcionando maiores espaços de tempo para o desenvolvimento da agricultura e da pecuária.
Além disso, os alunos da Universidade Federal de Sergipe estão ensinando os agricultores da região a produzir biochar e aplicar nos solos. “A ideia é ajudar a reduzir a quantidade de água de irrigação exigida pelas culturas nestas regiões, onde os recursos de água são escassos. Isso fará com que o biochar desempenhe um papel significativo na gestão de água, reduzindo insumos agrícolas e maximizando a produtividade das culturas”, esclarece Estela.
Por meio do método, o solo reteria água durante os períodos de chuva, liberando-a aos poucos durante a seca, alongando assim o uso do solo nordestino para as atividades da agricultura e da pecuária.
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