O uso de máscaras caseiras no combate à pandemia de Coronavírus tem trazido muitas questões sobre sua eficácia, produção e modos de uso. As precauções aumentam quando se leva em conta que, se não forem manipuladas com os cuidados devidos, podem mais atrapalhar do que ajudar. Em nota técnica, a Comissão de Acompanhamento e Controle de Propagação do Coronavírus da Universidade Federal do Paraná (UFPR) recomenda o uso de máscaras caseiras, desde que confeccionadas de modo adequado, especialmente para reduzir a transmissão do vírus por indivíduos assintomáticos.
Pessoas assintomáticas são aquelas que desenvolvem sintomas leves do vírus e que podem nem saber que estão contaminadas. A professora Lucy Ono, uma das integrantes da Comissão, explica que o grupo tem estudado todos os trabalhos sobre essa forma de transmissão. Ela cita uma pesquisa alemã, publicada na Nature, que identificou a eliminacão de uma alta carga viral por assintomáticos. “Como não estamos fazendo testes, qualquer um de nós poderia estar assintomático e transmitindo“, comenta. Assim, o uso universal das máscaras caseiras pode contribuir para diminuir a propagação por gotículas liberadas por pessoas doentes e assintomáticas para os ambientes.
A comissão lembra que máscaras cirúrgicas devem ser utilizadas por profissionais da saúde, por isso é recomendado à população em geral a utilização das máscaras caseiras, que não podem ser confeccionadas de qualquer forma. “Há tecidos apropriados e estamos aguardando orientações com relação aos tipos que poderiam ser utilizados“, explica a professora.
Outra explicação importante é que o uso das máscaras caseiras não tem mostrado grau elevado de proteção para as pessoas não infectadas. O grau de proteção está muito mais associado ao fato de ela prevenir o espalhamento das gotículas dos assintomáticos do que de garantir que sujeitos saudáveis não se contaminem. Por isso, como estratégia de prevenção, a utilização do artefato deve ser sempre combinada à estratégia de higienização das mãos, distanciamento e isolamento social, por exemplo.
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Este material foi editado a partir de uma nota técnica produzida pela equipe de especialistas da UFPR, a partir de uma pesquisa mais abrangente no sentido de avaliar objetivamente os prós e contras do uso da máscara. Consulte a nota completa aqui.
1. Há fundamentação científica para o uso indiscriminado de máscaras por todas as pessoas?
A Organização Mundial da Saúde ainda não fez recomendação de uso de máscara cirúrgica por pessoas saudáveis, mas apenas por pessoas apresentando sintomas da COVID-19, para dificultar a disseminação do vírus.
As máscaras cirúrgicas, confeccionadas com várias camadas de TNT, quando usadas por pessoas que apresentam sintomas gripais, dificultam a liberação de gotículas contaminadas para o ambiente, pois cobre o nariz e boca. Mas as máscaras cirúrgicas, quando usadas por pessoas não infectadas, conferem baixa proteção contra a infecção de pessoas saudáveis, pois não há vedação total para o nariz e a boca.
Para pessoas saudáveis, no máximo, a máscara cirúrgica serviria como uma barreira mecânica que não veda totalmente o contato com as gotículas que fossem espalhadas por pessoas doentes que não estão usando máscara em um contato próximo, de menos de 2 metros. Por isso, a OMS fez a recomendação de distância de cerca de 2 metros entre pessoas.
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Máscaras cirúrgicas devem ser preferencialmente utilizadas por profissionais da saúde e pessoas doentes, para evitar sua escassez no mercado. Seja consciente!
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2. Como essa questão é tratada em outros países que vivem a pandemia?
O Centro de Controle de Doenças da China recomenda desde o início do surto em seu território o uso de máscaras por todos, mesmo os sem sintomas. Isso acontece quando houver necessidade estrita de sair a locais públicos, combinado à manutenção das medidas de distanciamento social e de higiene de mãos e superfícies.
Levando-se em consideração que a China tem sido exemplo mundial de contenção da propagação do novo Coronavírus e que há evidências robustas de transmissão assintomática do novo coronavírus, o uso indiscriminado de máscaras por todos poderia, em certo grau (ainda não determinado por estudos, se baixo ou alto), contribuir para diminuir a liberação de gotículas contaminadas no ambiente, embora não seja preciso o grau de proteção já que ainda não há estudos a respeito.
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Uso indiscriminado pode contribuir para diminuir a liberação de gotículas por assintomáticos
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3. As máscaras ajudam a conter a transmissão do vírus por parte de assintomáticos?
A transmissão assintomática se dá por pessoas que estão infectadas mas ainda não desenvolveram sintomas da doença ou que desenvolverão um quadro com sinais e sintomas muito leves, a ponto de não serem diagnosticadas clinicamente. Essa tem sido considerada a principal forma de transmissão da COVID-19.
Nesse sentido, o uso da máscara não conferirá mais proteção direta a quem está saudável e fazendo uso dela, mesmo mantendo a recomendação de distância de 2 metros entre pessoas, mas poderia conferir proteção indireta a todos. Isso aconteceria pois pessoas infectadas, inclusive as completamente assintomáticas (mas que ainda podem transmitir o vírus), teriam suas gotículas contaminadas contidas pelo uso de máscara. Qualquer um de nós, nesse momento em que não estão sendo feitos testes amplos para detecção do vírus na população, poderíamos estar portadores assintomáticos e transmissores do vírus.
4. Como a OMS tem se posicionado sobre as máscaras?
Uma grande preocupação da OMS, até a última terça (1), quando os governos fazem recomendação de uso de máscaras por pessoas saudáveis, é que as máscaras cirúrgicas comerciais, que são um recurso limitado nesse momento de grande demanda, precisam estar disponíveis para o uso por pessoas doentes e por profissionais da área de saúde. Quando os profissionais da saúde, que estão tratando as pessoas doentes, adoecem, assim como a falta de leitos e respiradores em hospitais, pode levar ao colapso do sistema de saúde no país.
5. Qual seria a eficácia de máscaras faciais caseiras de tecido?
Os estudos realizados com diferentes tecidos até agora têm mostrado baixa eficiência de barreira para entrada de partículas pequenas (chamadas de aerossóis). Por exemplo, quando foram utilizadas máscaras feitas de tecidos (camiseta de algodão, lenço, toalha), elas permitiram a entrada de 74 a 90% dos aerossóis. Para medidas de comparação, máscaras do tipo N95, nesses mesmos experimentos, permitiram a entrada de apenas 0,12% dos aerossóis. Isso indica que a proteção direta conferida às pessoas saudáveis que fazem uso de máscara de tecido seria possivelmente baixa.
Com relação à saída de partículas pelas máscaras de tecido caseiras de algodão, um estudo publicado em 2013 avaliou o potencial de liberar microrganismos como bactérias através das máscaras caseiras e cirúrgicas ao tossir e observou que a máscara cirúrgica reduziu em 85% a eliminação de bactérias para o ambiente, enquanto a máscara caseira feita com tecido de algodão (de camiseta) reduziu em 78% a eliminação de bactérias no ambiente.
Como a liberação dessas bactérias dos voluntários envolvidos nos estudos tem relação direta com a liberação de gotículas por meio das máscaras, o estudo concluiu que, mesmo que EM MENOR GRAU que as máscaras cirúrgicas, as máscaras de algodão poderiam contribuir diminuindo a disseminação dessas gotículas no ambiente.
O estudo realizado teve algumas limitações descritas pelos autores. Elas estão listadas na nota técnica da Comissão (LINK).
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A proteção direta conferida às pessoas saudáveis que fazem uso de máscara de tecido seria possivelmente baixa. Entretanto, estudos indicam que mesmo as máscaras caseiras podem reduzir disseminação das gotículas nos ambientes
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6. Quais tecidos são recomendados para confecção de máscaras caseiras?
Devem ser aguardadas recomendações de tecidos pelo Ministério da Saúde. Até o momento, os tecidos avaliados por diferentes autores que trouxeram alguma capacidade para reduzir a liberação de gotículas para o ambiente sem causarem grande desconforto respiratório para os usuários foram algodão 100% (camiseta e pano de prato de trama mais grossa). Mais recentemente tem-se usado TNT.
7. Um possível uso indiscriminado de máscaras caseiras de tecido substituiria outras medidas de prevenção?
É importante frisar que todos os estudos indicam que o uso de máscara, cirúrgica ou caseira, não substitui a necessidade de mantes as medidas de distanciamento social, de higiene das mãos, de etiqueta da tosse e da higienização das superfícies, que devem ser estritamente seguidas.
O uso da máscara atuaria apenas como uma medida complementar a todas essas que, em conjunto, são nossas principais armas para combater o vírus SARS-CoV-2 causador da COVID-19
8. Como as máscaras caseiras de tecido não-descartáveis devem ser usadas? Qual risco a população corre ao não usar corretamente?
O modo de uso seria o mesmo indicado para máscaras cirúrgicas comerciais. De forma resumida:
– Antes de colocar a máscara, lave suas mãos com água e sabão;
– Cubra sua boca e nariz com a máscara, verificando se não há espaços soltos entre a máscara e sua face;
– Evite tocar na máscara enquanto estiver fazendo uso dela e se tocá-la, lave suas mãos com água e sabão;
– Substitua sua máscara assim que perceber que ela ficou úmida; por ser uma máscara caseira de tecido, recomendamos que ela seja lavada com água e sabão e seja bem seca antes de reutilizar;
– Para retirá-la, não toque na parte da frente da máscara, remova segurando pelo elástico ou pela fita que a amarra, e se não puder lavar imediatamente, coloque em saco plástico separado até o momento em que for lavar (o mais breve possível);
– Assim que retirar a máscara, lave suas mãos com água e sabão.
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Siga as recomendações caso opte por utilizar as máscaras caseiras!
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