As temáticas são, para o professor, artista plástico e pesquisador da UFPR, Marcelo Conrado, frutos de questões bastante contemporâneas, associadas às novas tecnologias e novas formas de produção artística. O trabalho do DJ é um bom exemplo para ilustrar a relevância desses debates. “O DJ é autor ou não é?”, questiona, salientando que um deslocamento e uma ressignificação de algo que já existe também são formas de criação.
As perguntas são fruto de um novo momento da arte e do direito, que Conrado começou a investigar quando fez sua tese de doutorado. Artista plástico desde antes de se interessar pelo Direito, ele pesquisou a arte e os direitos autorais a partir dos conceitos de autoria, obra e originalidade.
A liberdade de expressão também tem forte apelo nestes novos cenários, o que pode deixar artistas no limite da auto-censura. Apropriação de símbolos religiosos, uso de nudez e até manifestações da arte urbana, como grafite e pichação, por exemplo, emergem como temas a serem discutidos no encontro entre Arte e Direito. “É necessário que as pessoas que trabalham com a arte tenham instrumentos, mais do que nunca, para lidar com essas questões”, pontua.
Outro tema predominante dos estudos desenvolvidos pelo grupo é o grafite e a pichação nos espaços urbanos. Os debates sobre o assunto costumam relacionar desde a dimensão da autoria até a da propriedade, que questionam quem é dono de um grafite, se é o artista ou o proprietário do muro onde ele
O que é original?
A última atividade artística de Conrado demonstrou essas grandes questões de um modo bastante claro. Intitulada “O que é original”, a exposição*, que foi montada no Museu Oscar Niemeyer, debateu temas do direito a partir da pintura, da fotografia e da interação com o público. Todo o conceito foi planejado para que os espectadores fossem levados a pensar em questões relacionadas à autoria, perguntas que ele costuma fazer em suas pesquisas.
Um exemplo foi a imagem da exposição que fez sucesso em uma postagem do Instagram do MON. A fotografia foi capturada em um banco de dados. A frase “o endereço mais difícil é o do lugar do outro” veio da Internet. Já a montagem da frase na imagem foi feita por um design. “De quem é a obra?”, questiona o artista e pesquisador, após deixar claro que nenhum dos recursos utilizados era seu. “Existem direitos autorais?”, reforça.
A exposição também contou com um espaço para a exibição de telas criadas por Conrado e um terceiro ambiente, que promovia a interação com o público. Juntas, as três partes reforçavam discussões sobre autoria, que pode tanto ser fruto do esforço individual do artista, até uma recriação ou um trabalho coletivo.
A partir do dia 10 de outubro, uma das imagens, com a frase “Prefiro a decadência à modernidade”, irá compor a exposição “Pequenos gestos: memórias disruptivas”, com curadoria de Fabrícia Jordão, no Museu de Arte Contemporânea do Paraná.
Apoio aos artistas
As dúvidas legais dos artistas e produtores culturais sobre temas como direitos autorais e liberdade de expressão também são parte da preocupação dos projetos da Clínica. Além de prestarem atendimento e esclarecerem dúvidas, os pesquisadores estão envolvidos na finalização de um guia prático, elaborado pela Editora da UFPR.
Temáticas como a liberdade de expressão, segundo Conrado, rendem muitas dúvidas. “As dúvidas envolvem desde como usar símbolos religiosos e nudez até questões sobre grafite e pichação”, pontua. “São novos desafios do direito na perspectiva da arte”. Na visão dele, para garantir sua proteção o artista tem de sinalizar que faz uma obra de arte e avisar aos espectadores quanto a temas sensíveis.
O grupo também articula trabalhos de consultoria para a área de produção cultural, explicando como funciona emissão de alvarás, as leis de incentivo à cultura e as regras para a produção de eventos, por exemplo.
*As imagens que ilustram esse conteúdo são reprodução da exposição do MON.