Análise comparativa da progressão da COVID no Brasil, Itália e Coreia do Sul.
Tendo em vista o aumento expressivo do número de casos confirmados no Estado do Paraná (23 casos confirmados, dados da SESA –PR de 19/03) e no Brasil (621 casos confirmados com 6 mortes, dados do MS de 19/03), bem como o aumento do número de Estados onde está comprovada a transmissão comunitária* (que agora são em cidades de 5 Estados mais o Distrito Federal, dados do MS de 19/03), a comissão elevou o nível de alerta da COVID-19, convertendo as recomendações anteriores em medidas compulsórias e acrescentou novas medidas de contenção à toda comunidade da UFPR.
As novas recomendações publicadas em 19/03 foram baseadas na análise que se segue, realizada pela Comissão de Acompanhamento e Controle de Propagação do Coronavírus na UFPR, em 19/03/2020, comparando a evolução da COVID-19 no Brasil com aquelas da China, Itália e Coreia do Sul. A China e a Itália foram escolhidas para essa análise comparativa por apresentarem os maiores números de infectados registrados de casos de COVID-19 até o momento, com mortalidades da ordem de 4% e 8%, respectivamente; já a Coreia do Sul, tem se destacado pelo baixo percentual de mortalidade, de 1%, de acordo com dados do relatório da OMS de 19/03.
As curvas de crescimento de número de casos confirmados para a COVID-19 em função do tempo nesses 3 países (extraídas da seção dedicada às estatísticas da COVID-19 do site Worldmeter em 19/03) foram analisadas e foi possível fazer algumas inferências e conclusões detalhadas abaixo.
1. CHINA
Na China, a partir do dia 22/01, que marca 571 casos confirmados, e é o primeiro ponto relatado pelo Worldometer, já se observa o início de uma tendência de crescimento exponencial do número de casos (Figura 1). O CDC China relatou ter identificado o 1º caso de transmissão comunitária em 14/01. Como parte das medidas de contenção do avanço do vírus, a cidade de Wuhan, epicentro da pandemia, foi isolada em 23/01 quando contabilizava 830 casos (o transporte público foi suspenso, a maioria das lojas e empresas foram fechadas e os moradores foram aconselhados a seguir medidas de isolamento domiciliar); e em 13/02 (3 semanas após o fechamento de Wuhan), quando contabilizavam cerca de 63 mil casos (com 1.380 mortes), com uma média de cerca de 21 mil casos/semana, a província de Hubei foi isolada. Após essa medida drástica de contenção da disseminação do vírus, realizada durante o crescimento exponencial franco do número de casos de COVID-19, ainda foram contabilizados mais 17 mil novos casos (com 1.851 novas mortes) durante as 5 semanas que se sucederam até 18/03 (média de cerca de 3,4 mil casos/semana). É possível observar que as medidas estritas de quarentena adotadas em Hubei, mesmo já durante o crescimento exponencial da expansão de casos, levaram à diminuição da velocidade de aparecimento de novos casos da COVID-19 ao longo do tempo. Atualmente o governo chinês indicou o fim da epidemia no seu território em 12/03, tendo pela primeira vez noticiado ausência de detecção de casos de transmissão local no dia 19/03.
Figura 1 – Casos confirmados da COVID-1 na China ao logo do tempo. Gráfico disponibilizado pelo site Worldmeter.
2. ITÁLIA
Na Itália, os primeiros casos foram detectados em 31/01. A partir do dia 20/02 (quando se contabilizaram 4 casos confirmados), observa-se o início da curva de crescimento do número de casos com tendência exponencial (Figura 2). Não foram encontrados registros consistentes na literatura sobre os primeiros casos de transmissão comunitária, mas os primeiro caso local foi descrito por veículos de comunicação em 19/02 e pela OMS em 23/02. Como parte das medidas de contenção do avanço do vírus, a região da Lombardia foi isolada em 23/02 após o registro de 157 casos confirmados (com 3 mortes), mas o fechamento de escolas e universidades iniciou apenas em 05/03 – 11 dias após o isolamento da Lombardia e quando já eram contabilizados cerca de 3,8 mil casos da doença; além disso, até então, as medidas de contenção tomadas foram menos restritivas que as ocorridas no território chinês; e em 08/03 (2 semanas após o fechamento da Lombardia), quando já contabilizava mais de 7,3 mil casos (com 366 mortes) e uma média de cerca de 3,6 mil casos/semana, desde o início do crescimento exponencial iniciado em 20/02, medidas de quarentena mais restritas (para todos o país e não somente para a região norte) começaram a ser aplicadas. Seguido a essa medida mais drástica de contenção da disseminação do vírus realizada durante o crescimento exponencial franco do número de casos de COVID-19, ainda foram contabilizados mais 28,3 mil novos casos (com 2.612 novas mortes) durante os 10 dias que se sucederam até 18/03 (média de 19,8 mil casos/semana). Na China, analisando o mesmo período de 10 dias após o fechamento de Hubei, pôde-se verificar o aumento de 13,3 mil novos casos, com média de 9,3 mil casos/semana, menor que o valor de 21 mil casos/semana de antes da quarentena de Hubei. Esses dados indicam que as medidas de quarentena, adotadas mais tardiamente no território italiano, foram menos eficientes na redução da taxa de aparecimento de novos casos da COVID-19, sobrecarregando o sistema de saúde com a necessidade de número de leitos acima do disponível em hospitais para atender os casos graves da COVID-19. Na Itália, as universidades e escolas também parecem ter suspendido suas atividades tardiamente, iniciando a suspensão das atividades de parte delas em 05/03, quando o Itália já contabilizava cerca de 3,8 mil casos confirmados. Uma vez que há relatos de que crianças e jovens muitas vezes são portadores assintomáticos do vírus, mas são capazes de transmiti-lo, é possível que uma parte dessa população já tivesse o SARS-CoV2 uma vez que estava circulando naquela região.
Figura 2 – Casos confirmados da COVID-1 na Itália ao logo do tempo. Gráfico disponibilizado pelo site Worldmeter.
3. CORÉIA DO SUL
Na Coreia do Sul, o primeiro caso foi diagnosticado em 20/01 e a partir do dia 18/02 (quando se contabilizaram 31 casos confirmados), observa-se um aumento da curva de crescimento do número de casos de tendência exponencial (Figura 3). Em 24/02, o CDC/EUA aumentou o nível de alerta considerando haver transmissão sustentada da COVID-19 na Coreia do Sul. Como parte das medidas de contenção do avanço do vírus, a Coreia do Sul, antes mesmo de 18/02, iniciou estratégia de contenção do vírus por meio de testagem ampla das pessoas que tiveram contato com casos positivos dentro dos clusters familiares, identificando os contactantes positivos e isolando-os, estratégia que a princípio não tem sido considerada pelo Ministério da Saúde devido à escassez de insumos e de kits para a realização de número muito grande de testes. Diferentemente da China e da Itália, as medidas de contenção mais drásticas (na forma de testagem ampla das pessoas e isolamento imediato dos casos positivos) se iniciaram precocemente. Em 18/03 (cerca de 30 dias após o início do crescimento exponencial), a Coreia do Sul contabilizava 8,4 mil casos (com 84 mortes), com uma média de cerca de 1,9 mil casos/semana, desde o início do crescimento exponencial iniciado em 18/02, um valor mais baixo que o observado por semana em Hubei na China e Itália durante o período de crescimento exponencial do número de casos. Os resultados indicam que as medidas de contenção adotadas mais precocemente no território coreano parecem ter influenciado na diminuição da velocidade de aparecimento de novos casos da COVID-19 ao longo do tempo, não sobrecarregando o sistema de saúde com a necessidade de número de leitos acima do disponível em hospitais para atender os casos graves da COVID-19.
Figura 3 – Casos confirmados da COVID-1 na Coreia do Sul ao logo do tempo. Gráfico disponibilizado pelo site Worldmeter.
4. BRASIL
O número de casos confirmados no Brasil foram plotados em função do tempo, considerando como dia 0 a data de 26/02/2020, quando o 1º caso confirmado laboratorialmente da COVID-19 foi registrado, e 21º dia a data de 18/03 comparativamente aos dados de Itália e Coreia do Sul (Figura 4). Esse gráfico revela, em primeiro lugar, uma tendência exponencial no aumento do número de casos no Brasil. Este crescimento de tendência exponencial também é corroborado pela identificação de casos de transmissão comunitária em pelo menos cidades de 5 Estados brasileiros mais o Distrito Federal até a data de 18/03. A Comissão de Acompanhamento e Controle de Propagação do Coronavírus na UFPR conclui que, tendo analisado as estratégias adotadas até agora por diferentes países, medidas de distanciamento social e restrição de aglomerações dentro e fora da instituição, incluindo agora a recomendação de realização de atividades remotas por todos os seus servidores, poderão contribuir para diminuir a velocidade de propagação da COVID-19, especialmente se tomadas precocemente durante o início de possível crescimento exponencial do número de casos confirmados no Brasil.
Figura 4 – Casos confirmados da COVID-1 no Brasil, Itália e Coreia do Sul ao longo do tempo. Gráfico produzido com os dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde do Brasil e do Worldmeter.
Redigido pela Comissão de Acompanhamento e Controle de Propagação do Coronavírus na UFPR, 19/03/2020
Referências bibliográficas:
World Health Organization, Coronavirus disease 2019 (COVID-19) Situation Report – 58, 18/03/2020. Accesso em 19/03/2020: https://www.who.int/docs/default-source/coronaviruse/situation-reports/20200318-sitrep-58-covid-19.pdf?sfvrsn=20876712_2
COVID-19 CORONAVIRUS OUTBREAK, Worldmeter. Acesso em 19/03/2020, https://www.worldometers.info/coronavirus/
*Os dados de transmissão comunitária foram atualizados pelo Ministério da Saúde e já se localizam por todo o país.
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