A professora aposentada Diva Guimarães, 77 anos, que emocionou o Brasil na edição do ano passado da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) ao relatar sua luta contra o preconceito racial, disse hoje, em Curitiba, que o combate ao racismo deve começar na família, a partir da Educação que os filhos recebem dos pais. “Ninguém nasce racista. As pessoas aprendem a ser racistas – e começam a aprender em casa. Se a criança tiver Educação em casa, vai se transformar em um indivíduo bom e nunca vai se perder”, comentou.
Diva Guimarães foi uma das convidadas especiais do Seminário 130 Anos de Lei Áurea, organizado pela Defensoria Pública da União, com o apoio do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Federal do Paraná (Neab-UFPR), na sede do Instituto Federal do Paraná. Durante dois dias, desde ontem, o encontro debateu o tema “Panorama de desigualdade racial e dos desafios de uma política etnorracial para a população negra“.
A professora também lamentou a postura de muitos pais de deixar que as escolas eduquem seus filhos. “Não podemos terceirizar a Educação, jogando os filhos na Escola para que ela os eduque. A base da Educação vem de casa. Não se pode transferir isso para os professores. A escola é um complemento”, disse Diva, para quem muitos brasileiros ainda vivem na época da colonização. “Para que isso termine, temos que descolonizar a nossa mente. Quando isso ocorrer, as coisas vão melhorar”.
Construção de identidade
A professora Lucimar Dias, coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Federal do Paraná (Neab-UFPR), afirmou que é fundamental às pessoas que sofrem preconceito racial construir uma identidade. “Precisamos aprender a olhar para si e para o outro com novos elementos. A luta pelo movimento negro tem sido vitoriosa. No entanto, embora já tenhamos alguns avanços, apesar de não termos rompido com o racismo, estamos acreditando em nós mesmos e na nossa capacidade. Nós podemos e devemos falar”, comentou.
Na sua avaliação, é crucial que o movimento negro participe do processo eleitoral deste ano para fortalecer o combate contra o preconceito. “Tudo o que fizemos só terá eco se garantirmos que outras vozes negras falem por nós. Precisamos pensar em um Brasil para todos. Para isso, é necessário ter poder político. A nossa solidariedade tem gênero e cor e ela deve se manifestar em lugares de poder”, avaliou.
Ainda de acordo com Lucimar, é preciso romper o sistema de opressão instituído da “branquitude”, que prejudica as mulheres negras – um dos grupos mais discriminados pela sociedade. “A branquitude é um sistema, assim como o racismo, que define onde mulheres brancas e negras devem estar. Precisamos pensar neste sistema, que dá vantagens a alguns grupos, em relação a outros. Se não pudermos discutir isso de forma fraterna e séria para que o sistema diminua estas vantagens, não vamos avançar”, disse a professora.
Marielle é símbolo
Outra participante do encontro foi Laerte, enfermeira aposentada e integrante da Rede Feminista de Saúde e da Rede de Mulheres Negras do Paraná. Ela disse que o assassinato da vereadora carioca Marielle, em 14 de março deste ano, marcou o movimento. “Ela é um símbolo, uma mulher negra que ousou se destacar e que, por isso, foi silenciada. Mas tenho chamado bastante atenção também para outros cinco jovens que também foram assassinados no Rio de Janeiro quase na mesma época que a Marielle e de quem não sabemos nem os nomes. Ou seja: o genocídio dos negros se tornou tão comum que ninguém fala disso. Estão dizimando a população negra que, de alguma forma, está ascendendo, e está sendo cerceada por isso”, comentou.
Claudia Ikandayo, moradora de Londrina, destacou a importância do encontro. “Precisamos de mais eventos afirmativos como este, trazendo à sociedade a conscientização sobre a igualdade racial neste País, que está passando por sérios problemas políticos e por um retrocesso, com o não reconhecimento da raça negra e do povo que vem da resistência”, disse.
Para ela, porém, no caso das mulheres, há ainda mais retrocesso. “Viemos de um avanço feminino, desde a década de 90, que gerou um crescimento do reconhecimento social. Este retrocesso está tirando as mulheres do protagonismo feminino, haja vista o alto índice de feminicídio que vemos todos os dias“. Por este motivo, Claudia defendeu o fortalecimento das políticas públicas de inclusão, o reconhecimento e o investimento em uma educação de ponta. “Ninguém nasce racista e intolerante. Isso vem de berço. Mas acredito que os professores podem reacender esta educação e este reconhecimento”.
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