“Nós temos um instrumento acessível a todos e que protege com eficácia similar à da vacina”. É assim que Emanuel Maltempi de Souza define a importância do uso correto de máscaras como medida contra o coronavírus. Professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular e presidente da Comissão de Acompanhamento e Controle de Propagação do Novo Coronavírus na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Souza acredita que as máscaras são as principais aliadas para combater o vírus até que toda a população esteja vacinada.
Desde março de 2020, ainda no início da pandemia de Covid-19, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e órgãos como o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) recomendam a utilização de máscaras. Um ano depois, diversos estudos científicos já comprovaram a eficácia do uso do artefato, associado a outras medidas de proteção, para diminuir os riscos de contágio pelo SARS-CoV-2.
Com a identificação de variantes do novo coronavírus mais infecciosas e mais letais em circulação e com a constatação de que a principal forma de transmissão da doença é feita de pessoa para pessoa – por meio de gotículas expelidas –, as medidas principais de combate à pandemia devem focar no bloqueio da aspiração de aerossóis contaminados. Isso pode ser alcançado por meio do uso correto de boas máscaras e do distanciamento físico.
Para entender quais são os melhores tipos de máscara, a maneira adequada de usá-las e os cuidados que devemos ter com elas, conversamos com três cientistas da UFPR: Cristina de Oliveira Rodrigues, médica com experiência em doenças infecciosas e parasitárias; Emanuel Maltempi de Souza, bioquímico com experiência na área de biologia molecular; e Herbert Winnischofer, químico com ênfase em química inorgânica, química supramolecular e nanotecnologia.
Uso adequado da máscara
Dicas dos especialistas:
♦ Higienize as mãos antes de colocar a máscara, antes e depois de retirá-la e depois de tocá-la, a qualquer momento.
♦ Escolha uma máscara que se encaixe perfeitamente. Este é o ponto principal.
♦ Certifique-se de que a máscara se ajusta bem ao rosto, cobrindo o nariz, a boca e o queixo.
♦ Durante a utilização, não toque na máscara. Se precisar ajustar, utilize as laterais ou as alças e higienize as mãos depois.
♦ Troque a máscara a cada duas ou três horas ou antes, caso esteja úmida.
♦ Ao tirar a máscara, guarde-a em um saco plástico limpo. Se for de tecido, lave-a após o uso. Se for descartável, jogue-a em uma lixeira apropriada.
♦ Não use máscaras com válvulas de expiração, pois elas podem contaminar as pessoas a sua volta caso você esteja infectado.
Máscaras de tecido
Segundo Souza, qualquer barreira física que projeta nariz e boca é importante e é por isso que devemos usar máscaras. “Usando esse artefato, impedimos que partículas aspiradas entrem diretamente em contato com o nariz e com a boca e que os aerossóis emitidos por nós, ao respirarmos, contaminem o ambiente. A função é dupla: ficamos menos expostos à contaminação do ambiente e também não o contaminamos”.
As máscaras de tecido ou caseiras devem ter três camadas de tecidos diferentes, sem costura frontal. “Os tecidos utilizados precisam possuir trama densa de fios, não podem ser translúcidos e devem permitir a transpiração”, orienta Winnischofer. A lógica é que, com mais camadas, os aerossóis tenham mais dificuldade de penetrá-las.
De acordo com a literatura científica, máscaras confeccionadas nesse padrão têm uma eficácia que pode chegar a 80%, proteção que é multiplicada quando aliada ao distanciamento físico. Alguns modelos têm uma espécie de bolsinho, um compartimento para inserir mais um elemento filtrante como um papel filtro ou um filtro coador de café. “Esse papel tem uma boa capacidade de filtração, mas não pode umedecer”, aconselha o bioquímico.
Esse tipo de máscara é recomendado para ambientes arejados, sem aglomeração e que permitam o distanciamento físico. As máscaras devem ser trocadas a cada duas ou três horas ou antes, caso estejam úmidas.
Com as lavagens constantes, o tecido tende a se danificar e perder a proteção. Por isso é importante inspecionar o material e observar se as fibras afrouxaram, se tem pontos em que o tecido está corroendo e se ainda há um aspecto de tecido novo. Os cientistas orientam que as máscaras de tecido não sejam esfregadas ou lavadas em máquinas. “Deixar de molho e lavar de forma branda fará com que tenham vida mais longa”, indica Souza.
Tecido antiviral
Algumas marcas prometem tecidos antivirais, ou seja, que inativam o vírus. Segundo os entrevistados, apesar de conferir uma proteção adicional, esse não é um material altamente recomendado. “As características de barreira física para o vírus são as mais importantes e máscaras de tecido antiviral só serão eficientes se garantirem as outras propriedades básicas e se forem usadas de forma correta”, avalia Winnischofer. “Se você pretende comprar algo especial, compre uma máscara industrial certificada pelo Inmetro, que tem uma capacidade de filtração conhecida e determinada em normas técnicas”, completa Souza.
Máscaras de plástico ou material firme
Esses equipamentos não são considerados seguros, levando em conta a necessidade de proteção contra a transmissão do coronavírus. Os artefatos desse tipo servem apenas para bloquear as gotículas de saliva projetadas na direção da área recoberta. “Ela não filtra e deixa passar o ar e os aerossóis livremente pelos espaços abertos ao redor da boca e do nariz”, explica o químico, lembrando que não pode haver espaço entre a pele e a máscara.
Máscaras cirúrgicas
No início da pandemia, ainda em 2020, a recomendação era que a população em geral utilizasse apenas máscaras de tecido e deixasse as industriais para os profissionais de saúde, pois a produção mundial era insuficiente e havia o risco de que o produto faltasse em hospitais. Atualmente, entende-se que não há mais a falta dessas máscaras e a indústria tem produzido muito mais. Portanto, pessoas que não são profissionais de saúde também podem optar por um desses modelos para uma proteção mais eficaz.
As máscaras cirúrgicas, hoje encontradas facilmente em farmácias, seguem as referências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), possuindo características de proteção garantidas. Em geral, elas possuem duas ou três camadas de diferentes tecidos de polipropileno (TNT), além de um clipe nasal que auxilia o ajuste no rosto. Para que o equipamento fique ainda mais aderido à face, Cristina sugere fazer um nó nas alças de orelha no local em que elas se juntam à borda da máscara.
Esse tipo de máscara pode conferir uma proteção acima de 90%, principalmente se aliado ao distanciamento físico. “Se você tiver oportunidade, use a máscara cirúrgica, pois, de forma geral, ela tem uma performance melhor do que a máscara caseira”, recomenda Souza.
Os modelos cirúrgicos são indicados, principalmente, para utilização por qualquer pessoa em ambientes que não permitam o distanciamento de um metro e meio; para pessoas com suspeita de Covid-19 ou com sintomas da doença; para cuidadores ou familiares que dividam espaço com casos positivos; e para integrantes do grupo de risco.
Assim como as de tecido, elas devem ser trocadas a cada duas ou três horas ou antes, se estiverem úmidas. As máscaras cirúrgicas não são reutilizáveis e devem ser descartadas após o uso, pois tendem a perder suas características, ficando frouxas ou muito sujas.
Máscaras PFF2 ou N95
Na prática, esses modelos podem ser considerados iguais. Os respiradores N95 são chamados dessa forma nos Estados Unidos, enquanto PFF2 é a sigla para Peça Facial Filtrante, utilizada no Brasil. As duas possuem alto poder de vedação, chegando até a 99% de proteção, e são recomendadas para ambientes com alto risco de contaminação.
Os modelos possuem camadas internas com filtros de polipropileno fundidos tratadas quimicamente, além de filtro de fibra de celulose/poliéster. De acordo com Souza, a proteção conferida por esses respiradores pode ser comparada com a de vacinas. “Quando as pessoas são contaminadas usando máscaras, normalmente a doença é leve porque o acessório permitiu que apenas uma pequena quantidade de vírus passasse. Isso leva a uma doença menos grave, já que a gravidade da doença está relacionada com a quantidade de vírus que a pessoa recebe ao se contaminar”.
Por esse motivo, as máscaras PFF2 são altamente recomendadas para ambientes com grande risco de contaminação e para trabalhadores e todos aqueles que entram em contato com muitas pessoas durante o dia. “Nós temos um instrumento que está mais acessível às pessoas do que a vacina e que pode proteger de forma similar. Não há porque não utilizar”, reflete o bioquímico.
A faixa de preço desses produtos varia entre cinco e doze reais, podendo haver modelos mais caros. Atualmente, são facilmente encontrados em lojas de materiais de construção ou de equipamentos de proteção individual. Para Winnischofer, é importante verificar se o produto possui selo do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e se não há danos em sua estrutura. Dessa forma, a proteção está garantida pela norma técnica.
Souza sugere que sejam feitas campanhas de distribuição desse tipo de respirador para os trabalhadores e para pessoas que estão mais expostas ao vírus e ainda não puderam se vacinar e indica a utilização do equipamento em situações de maior chance de contaminação. “Use a máscara de tecido (caseira) nos ambientes com menos risco de contaminação – abertos e arejados – e prefira a PFF2 para lugares fechados e mais arriscados”.
Os especialistas destacam que os respiradores desse modelo não podem ter válvulas respiratórias, pois esse elemento não filtra o ar que sai, apenas aquele entra. Assim, se a pessoa utilizando uma máscara com válvula estiver contaminada, ela estará expelindo partículas do vírus e contaminando o ambiente.
A regra da troca após duas a três horas ou quando estiver úmida também vale para essas máscaras que, apesar de serem consideradas descartáveis, podem ser reutilizadas neste momento de pandemia desde que esse processo seja feito com segurança. Após o uso, a orientação é que a PFF2 seja retirada do rosto pelos elásticos e pendurada em um ambiente seco e ventilado. Depois de 72 horas, tempo médio para inativação do vírus, ela pode ser reutilizada se suas características básicas estiverem mantidas: se estiver se adaptando bem ao rosto e se não estiver suja.
Não se deve lavar, borrifar álcool ou submeter esse tipo de respirador ao calor. “As fibras dos filtros ficam comprometidas caso sejam molhadas”, explica o químico. Ele também recomenda que, para minimizar a contaminação, as máscaras não devem entrar em contato umas com as outras durante o armazenamento e que os recipientes que elas estejam guardadas devem ser descartados ou limpos regularmente.
Duas máscaras
Outra forma de garantir maior proteção é utilizar uma máscara sobre a outra, aumentando o número de barreiras contra o vírus, pois quanto maior o número de barreiras físicas, maior é a eficácia. Os cientistas consideram uma boa opção a utilização de uma máscara cirúrgica e, por cima, uma de tecido, que proporciona melhor ajuste ao rosto.
“O objetivo é melhorar o ajuste, pois quanto melhor a máscara se ajusta, mais ela protege. A máscara cirúrgica filtra bem as partículas de vírus, enquanto a máscara de tecido melhora o ajuste. Experimentos do CDC dos Estados Unidos descobriram que a utilização de dupla máscara pode reduzir a exposição a partículas infecciosas em mais de 95% se a pessoa infectada e a pessoa não infectada estiverem utilizando duas máscaras”, revela Cristina. Os modelos PFF2 não devem ser combinados com outra máscara.
Como saber se a máscara está protegendo?
A médica reforça que o ajuste da máscara ao rosto é fundamental para que as pessoas estejam protegidas e protejam os outros. Para saber se o acessório está cumprindo seu papel, ela indica um teste simples: “coloque as mãos em volta das bordas externas na máscara. Se houver fluxo de ar nas áreas próximas aos olhos e nas laterais, significa que ela não está bem ajustada. Se ela tiver um bom ajuste, você sentirá o ar quente passando pela frente da máscara e poderá ver o material se mover para dentro e para fora a cada movimento respiratório”.
Quais situações pedem maior proteção?
Segundo Cristina, as situações que exigem atenção redobrada e máxima proteção são: andar de avião, ônibus, trem ou qualquer outra forma de transporte público, especialmente se não houver como manter a distância mínima de um metro e meio das outras pessoas; cuidar de doentes com Covid-19; trabalhar em empregos que exigem interação com um grande número de pessoas; e integrantes do grupo de risco em qualquer circunstância.
Para ela, o uso de máscaras é uma medida fundamental para suprimir a transmissão do coronavírus e salvar vidas, porém deve ser parte de uma estratégia abrangente de ações. “É necessário aliar o uso de máscaras a medidas como distanciamento físico, evitar aglomerações, manter ambientes bem ventilados e higienizar bem as mãos”.
Souza também relembra o cuidado constante para não tocar olhos, boca e nariz. Ele acredita que utilizar a máscara de forma correta, cobrindo completamente boca e nariz, é uma das precauções mais importantes. “Você não sabe quando estará perto de uma pessoa contaminada. Usar a máscara corretamente é o maior cuidado que devemos ter, bem como respeitar os ambientes e as pessoas. É uma obrigação moral, ética e legal”.
Foco nas máscaras
Tem ficado cada vez mais claro para os cientistas que a principal forma de transmissão do coronavírus se dá de pessoa para pessoa através do ar e de partículas de aerossóis. “A transmissão por superfície é possível, mas não é tão relevante. Para evitar esse tipo de transmissão, a forma mais eficiente é higienizar as mãos”, avalia o presidente da Comissão de Acompanhamento e Controle de Propagação do Novo Coronavírus na UFPR.
Por isso, os especialistas orientam que os cuidados devem estar focados nas possibilidades de transmissão pelo ar. “Lavar embalagens foi importante em um determinado momento para as pessoas se conscientizarem. Mas, atualmente, não é tão essencial. Tirar roupas e sapatos ao chegar em casa também não devem ser as principais preocupações. A viabilidade maior do vírus é em superfícies metálicas. Lavando as mãos após tocar nesses locais já resolve o problema”, alerta o bioquímico.
Muito ainda se precisa descobrir a respeito desse vírus que circula entre nós há pouco mais de um ano, porém em uma coisa a maioria dos especialistas concorda: sempre usar máscara!
“É importante seguir todas as recomendações, porém usar qualquer tipo de máscara corretamente é muito melhor do que não usar nenhuma”, reforça Souza.
“Qualquer máscara apresenta uma proteção maior contra gotículas dispersas ou projetadas no ar do que nenhuma máscara. Além disso, seu uso evita o contato das mãos – que podem estar contaminadas – com a região da boca e do nariz”, afirma Winnischofer.
“Lembre-se: a melhor máscara é aquela que você usa de forma consistente e adequada”, adverte Cristina.
Trabalho Gráfico: Luciana Laroca / UFPR
Imagem de destaque: Tim Douglas no Pexels
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