A urgência do isolamento social para atenuar o colapso no sistema de saúde, refém da escassez de leitos, e a importância de que essa medida seja acompanhada de políticas públicas que não penalizem a população foram temas abordados em um debate sobre saúde coletiva produzido pela UFPR TV. Participaram do programa a médica pediatra infectologista, Cristina Rodrigues, diretora do campus de Toledo e membro da Comissão de Acompanhamento e Controle de Propagação da COVID-19; a médica endocrinologista com pós doutorado em epidemiologia e medicina preventiva, Camila Maciel, atualmente pesquisadora visitante no Instituto de Engenharia Médica do MIT, nos Estados Unidos; e o médico psiquiatra Deivisson Vianna, doutor em Saúde Coletiva e professor no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva.
Os professores concordaram que as medidas de isolamento social têm se mostrado essenciais e imperativas para a contenção da pandemia de Coronavírus, mas, para Vianna, é preciso pensar em mecanismos de auxílio ao trabalhador, que muitas vezes não tem condições de permanecer em casa. “A política de apoio para a população ficar em casa é muito tímida”, destaca. Ele lembra a tradição dos países europeus que investem em bem estar social e estão utilizando de 10% a 15% do PIB para proteger a população economicamente.
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A gente tem uma tradição de um pais escravocrata. A gente vive num país onde as vidas, quando pobres, têm um significado menor. Isso tem a ver com a história brasileira de pouca valorização da vida.
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O debate também tocou em outros pontos sensíveis relacionados à pandemia, como o possível colapso no sistema de saúde ocasionado pela alta demanda por leitos. A professora Camila citou um estudo recente conduzido pela brasileira Marcia Castro, em Harvard, e pontuou que a iminência de um colapso é justamente o que deve enrijecer as medidas de isolamento. O estudo destaca que a velocidade de propagacão da doenca e a disponibilidade de recursos, somadas à velocidade das medidas implementadas pelo governo, são os fatores que devem determinar o momento em que a escassez de leitos deve acontecer, possivelmente já em meados de abril.
A subnotificação dos casos por conta do baixo volume de testes é outro ponto a ser considerado, na avaliação dos pesquisadores. Para a professora Cristina, a chegada do outono e do inverno pode agravar ainda mais a situação, já que os casos de outras doenças respiratórias devem aumentar e será difícil ter uma dimensão exata da pandemia sem a realização de testes. “Estamos navegando no escuro e até sem bussóla“, disse.
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Se a gente não chegar a uma testagem mais ampla, a gente não vai conseguir chegar em uma boa estratégia.
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A capacidade do Sistema Único de Saúde de enfrentar a pandemia foi enaltecida por Vianna. “Só não estamos pior porque temos o SUS forte, apesar de todos os problemas“. Segundo o professor, o problema de subfinanciamento, acentuado nos últimos sete anos, os cortes orçamentários e a redução na cobertura de atenção primária enfraqueceram o sistema, mas ainda assim ele é essencial. Ele ainda criticou a desregulação do sistema suplementar, constituído pelos planos de saúde.
As possíveis dificuldades do país com relação a compra de insumos e a falta de profissionais para o volume de atendimentos previstos também se destacaram no debate. Além disso, as questões estruturais, como o baixo investimento em Ciência e Tecnologia, foram trazidas como pontos a serem lembrados no contexto da pandemia. “Sem pesquisa a gente não consegue observar esse momento. Precisamos mostrar como é importante a presença do pesquisador na comunidade”, salientou Camila.
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Sem pesquisa a gente não consegue observar esse movimento de incidência e evolução de incidência da doença.
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Esta notícia foi produzido com base em conteúdo da UFPR TV
Produção, mediação e edição: Rene Lopez