O Grupo de Estudos em Agricultura Ecológica (GEAE) da UFPR completa 37 anos de existência em 2018, buscando ser um contraponto à agricultura convencional. O projeto tem se destacado como um espaço constante de troca de experiências e desenvolvimento de novas técnicas neste campo.
“A agricultura ecológica é o equilíbrio entre a produção de alimentos e a responsabilidade ambiental.” explica a estudante de Engenharia Agronômica, Jaqueline Tila Cremonese. Ela destaca algumas das vantagens deste ramo alternativo como a oferta de alimentos sem agrotóxicos e a diminuição da contaminação do meio-ambiente e da intoxicação de produtores rurais, um problema recorrente no campo.
A estudante, que se uniu ao projeto em 2017, aponta ainda o papel da agricultura ecológica na valorização de sementes crioulas e no empoderamento dos agricultores por se tornarem menos dependentes de tecnologia estrangeira, como sementes transgênicas, herbicidas, inseticidas e fungicidas.
“Buscamos métodos alternativos de combate a pragas, doenças e plantas espontâneas como: controle biológico, plantas repelentes, cobertura de solo, cultivos consorciados e caldas alternativas.” explica a estudante.
Utilizar a própria dinâmica dos ecossistemas para melhorar a produtividade é um dos princípios da agroecologia. Jaqueline menciona alguns destes métodos como a utilização de plantas leguminosas com o objetivo de enriquecer o solo com nitrogênio, conhecida como técnica da adubação verde, e a utilização de plantas, como as gramíneas, para produção de biomassa. “Para a melhoria da fertilidade do solo, a matéria orgânica tem papel fundamental” completa a estudante.
Abordagem multidisciplinar
Guilherme Silvestre, que participa do grupo desde 2012, explica que há uma série de elementos que envolvem a prática, o que demanda uma abordagem multidisciplinar. “A produção de alimentos é influenciada por inúmeros fatores tais como: aspectos sociais e culturais, capacidade tecnológica, conjuntura política e agrária, uso dos recursos naturais, hábitos de consumo, entre outros”. Foi no GEAE que o estudante, que é formando do curso de Engenharia Agronômica, encontrou esta perspectiva.
A iniciativa conta com um espaço no Campus Cabral, onde o grupo desenvolve suas atividades,
Guilherme conta que “além das capacitações que ocorrem no GEAE para a comunidade interna e externa da UFPR, o grupo também utiliza a área experimental para testar e desenvolver métodos e processos alternativos para a agricultura sustentável”.
Economia
A agroecologia tem ganhado destaque também na economia. A preocupação com alimentos mais seguros tem levados muitas pessoas a procurar os alimentos livres de agrotóxicos que, desta forma, aparecem como produtos com maior valor agregado.
“Os agricultores familiares tem buscado a agricultura ecológica, principalmente por esta apresentar menores riscos à saúde, aumentar a diversificação da produção e pela busca da agregação de valor através da certificação orgânica, que tem seu mercado crescendo principalmente nos centro urbanos. Um exemplo disso são os grupos de agricultores agroecológicos ‘Dois pinheiros’ e ‘Solo vivo de David’, os quais passaram a abastecer as feiras orgânicas que acontecem nos campi da UFPR” aponta Cremonese.
Em relação a questão da produtividade, Jaqueline explica que muitas desvantagens da produção convencional não são levadas em conta como o alto consumo energético, o custo ambiental e os aspectos sociais negativos relacionados a este modelo. Além disso, a estudante aponta que a agroecologia tem se mostrado uma alternativa também no quesito quantitativo.
“Os sistemas agroflorestais de base ecológica, também conhecidos como SAF’s, tem se mostrado tão produtivos e viáveis economicamente quanto a agricultura convencional, principalmente devido à redução gradativa da necessidade de insumos externos” revela a a estudante.
Casa ecológica
Um dos projetos que mais chama a atenção no grupo completou 10 anos em 2017, é a casa ecológica construída com a técnica do Superadobe, que utiliza sacos de prolipropileno preenchidos de solo argiloso como estrutura básica da construção. Além desta, o reaproveitamento de materiais e utilização de materiais com menor custo ambiental, como o bambu fazem parte da edificação que é utilizada como espaço cultural.
Durante o Ciclo de Agronomia deste ano, a casa foi palco de um laboratório prático do curso de Bioconstrução. Os participantes tiveram a oportunidade de conhecer algumas das técnicas utilizadas na iniciativa e também botaram a mão no barro para ajudar na reforma do local.
Fundação do grupo
No ano de 1981, Curitiba sedia o 1º Encontro Brasileiro de Agricultura Alternativa (EBAA), o objetivo do evento era refletir as críticas à agricultura convencional, devido aos seus impactos negativos nas relações sociais e em relação ao uso dos recursos naturais. A época ficou marcada por uma grande expansão desta modalidade de manejo, com processos de industrialização chegando à agricultura. Como reação à este tipo de produção houve uma crescente preocupação com as questões ambientais e a criação de muitas organizações e movimentos em defesa de uma produção mais equilibrada.
O GEAE foi um dos resultados do encontro. Fundado no mesmo ano, surge como uma iniciativa de alguns alunos e professores do Curso de Agronomia da UFPR. A partir de então vai articular diversas ações na promoção e produção de conhecimento em torno de uma agricultura mais sustentável.
Por Rodrigo Choinski
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