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Falso moralismo e humor ácido ganham o público de A Noite das Mal Dormidas

15 julho, 2009
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No corpo de Dalva, Hortência e Margarida, as personagens de A Noite das Mal Dormidas, os atores Leo Dalledone, Jader Alves e Wellington começaram a peça com cautela, em cima do texto, testando a platéia. “A gente não sabia como seria a reação do público”, confessa Leo. Os atores se apresentaram ontem, 14, às 18h30 e 21h00 no Teatro Municipal, em Antonina, no 19o Festival de Inverno da UFPR.
A montagem, a única não recomendada para menores de 18 anos no 19o Festival, é uma leitura atualizada do texto de 1970 do autor curitibano Neil Petersen, dirigida por Marino Jr. Foi encenado pela primeira vez em 1976 e tinha o claro intuito de chocar, segundo o diretor. Por isso, carregava na crítica cômica à moral curitibana e no uso dos palavrões e piadas de duplo sentido. O cenário, replicando uma casa simples, com figuras religiosas na parede, contrastava com o humor chulo, sobre absorventes, arrotos e roncos. Palavras eram trocadas, como válvula por vulva, cabeçuda por cabaçuda, cirrose por fimose ou crepúsculo por prepúcio. Era compreensível a cautela, um pouco tensa, dos atores.

No entanto, com 15 minutos de peça, o público já estava ganho e as risadas eram fáceis. Wellington explica que esta relação com o público “vai da malemolência do ator”. Ele, de fato, rouba a cena, do alto dos seus 29 anos de carreira. Mas estava bem acompanhado. As três senhoras moralistas e mal amadas arrancavam risos com piadas como a cena de Hortência confessando que não estava na menopausa, mas com a mestruação atrasada.

… sete anos, segundo ela.

Ou então quando a irmã do meio diz para a mais nova, Dalva, que ela deveria “ter dado”. Hortência repreende.

– Margarida!

Dado a mão. Dado a mão, emenda.

Até os erros dos atores eram motivo de riso. Eles brincaram com a platéia, e Jader chegou a parar a cena para que o fotógrafo do Festival o fotografasse. A platéia ia ao delírio. No final as impressões tinham sido as melhores possíveis. Emilin Joma achou a peça “muito boa”. Vania Knelsen a qualificou como “excelente”.

A montagem rodou o país, com boa repercussão em todos os lugares, segundo Marino. O texto brota da Curitiba moralista retratada na nossa literatura, mas faz sentido em outros lugares. Escrito para ser feito por homens, foi suavizado. Marino não gosta de abusar de palavrões e a intenção de choque de 1970 não fazia mais sentido. “No passado, o texto era mais radical”, diz o diretor.

Enraizado na Curitiba moralista, o texto cita o Oil man, mas os atores improvisam e brincam com a cidade. O desejo de Hortência volta-se para um “negrão” forte, da estiva. Margarida quer ser jogada no mangue por um homem. As personagens se perdem, confessam o desejo, querem ir à desforra e mandam as favas todo moralismo. No final, elas continuam falando mal dos vizinhos, mas por que a “sirigaita da vizinha virou freira”.

O humor da Cia Máscaras de Teatro funciona. Há 15 anos, quando o teatro Lala Schneider foi aberto, dando início a uma empreitada de sustentação de teatro em Curitiba apenas com a bilheteria, João Luiz Fiani, seu idealizador, fez opção por peças populares, de apelo para o público curitibano. A aposta funcionou. Segundo Marino, o entretenimento é a alavanca para ganhar e consolidar público numa cidade onde poucos vêem teatro. A Noite das Mal Dormidas emerge de Curitiba e a ela se destina.

Casamento de Viola e Violão

Cláudio Avanço e Marco Cardoso fizeram um casamento perfeito entre a viola caipira e o violão na Igreja Matriz de Antonina, na noite terça-feira. Mostraram que a sonoridade desses dois instrumentos são complementares, produzindo um belo espetáculo. A apresentação em alguns momentos parecia popular e em outros absolutamente erudita, tal a mescla de gêneros executados pelos dois músicos.
Acompanhada de alguma prosa, a apresentação foi instrumental – letra e voz foram perfeitamente dispensáveis, tal a beleza dos sons extraídos de releituras e resgate de muitas músicas esquecidas dos vários estilos e gêneros musicais. Foi a primeira vez que se apresentaram em Antonina. A primeira de muitas, no que depender do público, que aplaudiu de pé.

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Os palavrões causam estranhamento na boca de personagens moralistas e produzem risos.
Foto: Manuela Salazar

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Fonte: Mário Messagi Jr (colaborou Letícia Hoshiguti)

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