Durante os dias 11 e 12 de junho a Universidade Federal do Paraná (UFPR) sediou o II Encontro Paranaense de Desinstitucionalização e Práticas para o Cuidado em Liberdade. Na ocasião foram discutidos temas de relevância nacional para o cuidado em liberdade na saúde mental, destacando-se o cuidado junto a adolescentes em situação de vulnerabilidade social; atenção a primeiras crises; possibilidades de geração de trabalho e renda em saúde mental; desinstitucionalização; e terapias integrativas complementares.
Fruto de parceria com diferentes instituições voltadas a qualificar o cuidado em liberdade na saúde mental, o evento teve aproximadamente 700 pessoas inscritas que participaram de vivências em práticas integrativas, acompanharam mesas-redondas, palestras e uma mostra de economia solidária.
O cuidado em liberdade na saúde mental preconiza a superação do modelo baseado no isolamento, a partir da substituição de hospitais psiquiátricos por vagas em hospitais gerais, Centros de Atenção Psicossocial (CAPs), centros de convivência, Residenciais Terapêuticos, e outros, compondo uma rede de atenção integral à saúde.
“Normalmente a resposta social para a população que sofre com transtornos mentais é a exclusão, o encarceramento em instituições. Atualmente a política de saúde mental deseja dar outro destino para essas pessoas, baseando-se em uma comunidade mais humana e solidária. É um desafio para todos pensar quais as estratégias para que as pessoas possam viver livres em um momento de sofrimento”, explica Luis Felipe Ferro, professor de Terapia Ocupacional da UFPR.
Ferro destaca a necessidade de pensar instituições que realizem o cuidado de forma que as pessoas possam trabalhar, conviver, viajar e curtir a vida mesmo com o sofrimento presente. “Em vez de encarcerar logo em uma primeira crise, devemos avaliar como dar cuidado fazendo com que essas pessoas sintam-se acolhidas por uma comunidade e sofram menos”. O Encontro teve o objetivo justamente de propor estratégias e apresentar experiências nacionais a serem aplicadas no contexto de saúde mental paranaense.
“O tratamento é muito singular para cada pessoa. Entretanto, ao invés de pensarmos em classificações de doença, a proposta é buscar o que aconteceu na vida da pessoa para ocasionar o sofrimento e pensar em como dar um suporte específico. Se nos fecharmos em rótulos, não enxergamos pessoas, mas apenas doenças. Deixamos esses rótulos de lado para encontrar, acima de tudo, seres humanos que estão em sofrimento e pensamos em conjunto, entre comunidade e familiares, uma forma de ajudar”, diz o professor.
Economia solidária
Um tema bastante abordado no evento foi a economia solidária e de que maneira ela contribui para a saúde mental. Trata-se de uma forma de organização da vida material para o trabalho, explica Caique Franzoloso, educador social na Trilhas Incubadora Social Marista e estudante de Psicologia. “São pessoas que se organizam de uma maneira autogestionária, ou seja, horizontalizada e que visam gerar renda a partir desse trabalho sem escalonamento de cargos e salários”.
Durante o Encontro, aconteceu uma mostra de economia solidária com artesãos de Curitiba e região metropolitana que foram selecionados por meio de edital. “Também realizamos um café com gestores, integrantes do Ministério Público, promotores, vereadores e gestores do estado em saúde mental com o intuito de formalizar uma carta compromisso com ações de economia solidária. O objetivo é que os profissionais da saúde mental possam desenvolver, dentro dos seus aparatos, ações e iniciativas visando a geração de renda e a emancipação dos usuários desse sistema”, esclarece Franzoloso.
Terapias complementares
Outro aspecto enfatizado no evento foram as terapias complementares integrativas, assim como as crenças religiosas e espirituais, que são importantes responsáveis pela promoção de bem-estar e impactos positivos na saúde física e, principalmente, na saúde mental. “As crenças religiosas e espirituais são muito frequentes no Brasil. Cerca de 95% da população se diz religiosa e 83% diz frequentar igrejas ou outras instituições religiosas. Quase o total da população, segundo o IBGE, diz acreditar em Deus. Acreditar em algo superior atribui um sentido para a vida que se está levando, inclusive para o sofrimento, e faz com que as pessoas adoeçam menos e melhorem de forma mais rápida, tendo mais qualidade de vida em um sentido geral”, explica Milene Zanoni da Silva, docente do Departamento de Saúde Coletiva e uma das palestrantes do Encontro.
Uma novidade nesta edição do evento foi a oferta de práticas integrativas e complementares, buscando a vivência de promoção de saúde mental. Foi possibilitada a vivências em práticas integrativas que já foram reconhecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) como reiki, massoterapia, constelação familiar, auriculoterapia, entre outras.
“Além do estímulo de aprendizado cognitivo, essa oportunidade faz com que os usuários, profissionais da área de saúde, da educação, da assistência social e gestores saiam daqui mais equilibrados, com maior nível de bem-estar e entendendo na prática a importância de inserir esse tipo de terapia no sistema público. É um tratamento que vai muito além de prescrever medicamentos ou passar por consultas, mas enxerga o ser humano de uma forma integral”, aponta Milene.
A luta dos profissionais de saúde mental é inserir mais dessas práticas no SUS, para que o maior número de pessoas tenha acesso a elas. “Mas para isso, é necessário que as pessoas conheçam e vivenciem essas práticas para entender o potencial delas”, conclui a professora.
Estiveram presentes no Encontro representantes das gestões de saúde do Paraná e de Curitiba, profissionais que trabalham na área de saúde mental, usuários dos serviços, profissionais de assistência social e educação, professores e estudantes.
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