“Trabalhei, entre outros, com o médico veterinário da Itaipu Binacional, Wanderlei de Moraes, e com uma equipe de pesquisadores do Smithsonian Institution, dos Estados Unidos, principalmente com o Dr. William Swanson – que agora está no Zoológico de Cincinnatti e a Dra. Janine Brown”, lembra o professor e pesquisador da UFPR. “As pesquisas iniciais duraram quatro anos e continuaram depois, com a orientação e realização de outros experimentos de Mestrado e Doutorado.”
“O estudo dos efeitos do estresse sobre a reprodução durou 15 meses, quando trabalhamos com diferentes condições de recintos em cinco fêmeas do Refúgio Biológico de Itaipu, coletando amostras de fezes, individualmente, cinco vezes por semana. O que queríamos era estudar os efeitos do estresse da vida em cativeiro na reprodução. Usando os métodos de radioimunoensaio e enzimoimunoensaio, analisamos os metabólitos hormonais de estrógenos, cortisol e progestágenos.”
Os resultados, segundo o professor, comprovaram que fêmeas de pequenos felídeos silvestres, quando submetidas a recintos inadequados – pequenos e sem ambientação – sofrem de estresse crônico, o que faz aumentar os níveis de cortisol e, conseqüentemente, diminuir a atividade reprodutiva.
“Pequenos felídeos como a jaguatirica, o gato-do-mato-pequeno e o gato-maracajá são especialmente sensíveis a este tipo de estresse provocado pela vida em cativeiro inadequado, ao contrário dos grandes felídeos”, explica. ”Isso provavelmente ocorre porque na natureza eles são potenciais presas de animais maiores como as onças pintada e parda e, quando alojados próximos – como costuma ocorrer em zoológicos – acabam sofrendo uma situação de estresse crônico. O mesmo ocorre quando o recinto é pequeno e sem ambientação e local para esconderijo. Eles deixam de reproduzir ou reproduzem de forma muito inconsistente.”
Atualmente, estão sendo desenvolvidas atividades de pesquisa em parceria com a Itaipu Binacional, através de um termo de cooperação assinado entre ela e a UFPR. “Implantamos também o Grupo de Pesquisa ‘Medicina e Conservação de Animais Silvestres’, cadastrado no CNPq e certificado pela UFPR. Nossa equipe conta com 25 pesquisadores, 13 estudantes e três técnicos”, explica Moreira.
As pesquisas do grupo indicam que a maioria dos zoológicos latino-americanos ainda apresenta condições bem longe dos ideais no que diz respeito ao abrigo dos pequenos felídeos. Mas algumas medidas simples poderiam ser tomadas para corrigir a situação. A idéia, conforme Moreira, é imitar a condição em que o animal vive na natureza, não apenas aumentando o tamanho dos recintos, mas promovendo o enriquecimento ambiental com troncos e plantas e locais que possam ser utilizados como esconderijos – pontos de fuga. No processo, é bom lembrar ainda que esses felídeos neotropicais normalmente têm hábitos solitários quando em liberdade. Hábitos estes que precisam ser respeitados para diminuição dos níveis de estresse.
PESQUISANDO – Os efeitos do estresse na reprodução já foram investigados por outros pesquisadores não apenas nos felídeos, mas em várias outras espécies, principalmente de animais domésticos. O estudo desenvolvido na UFPR difere dos demais devido ser realizado primeiramente com os pequenos felídeos sulamericanos e com monitoramento em longo prazo, através da coleta e análise das fezes.
“A grande vantagem da utilização de amostras fecais para dosagens hormonais é a ausência de estresse na coleta. Principalmente quando trabalhamos com animais selvagens, em que a coleta de sangue implica na necessidade de uma sedação prévia”, comenta Nei Moreira. “As fezes podem ser coletadas sem a necessidade de contenção do animal, evitando o estresse associado. Além disso, a análise de hormônios fecais permite uma avaliação mais ampla do perfil hormonal, pois corresponde à concentração hormonal média do dia anterior. A análise da amostra de sangue corresponde apenas à concentração do momento da coleta, a qual pode variar durante o período de 24 horas. Por exemplo, as concentrações de cortisol – o hormônio do estresse – ficam anormalmente elevadas logo após a captura e contenção do animal, impossibilitando uma adequada avaliação de outros agentes possivelmente estressores.”
O estresse reduz a capacidade reprodutiva das fêmeas, através de uma menor atividade folicular ovariana, traduzida em menores concentrações de estrógenos, ou seja, a fêmea deixa de manifestar cio ou passa a ter períodos de anestro – sem receptividade sexual – mais prolongados. No caso dos machos, pode ser observada uma diminuição da qualidade espermática e mesmo da libido, causada por uma diminuição da concentração de testosterona. “O estresse do cativeiro é uma importante causa de baixa eficiência reprodutiva, mas não podemos esquecer a nutrição inadequada e os erros de manejo, causas importantes de baixa reprodução”, conclui o pesquisador da UFPR. “É o conjunto de atividades para o bem-estar do animal em cativeiro que poderá contribuir para a conservação de várias espécies da lista de ameaçadas de extinção.”
CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM AGOSTO
No período de 4 a 8 de agosto, na Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu, será realizado o curso “Atualização em Endocrinologia de Animais Selvagens – Monitoramento Hormonal Não Invasivo”, promovido pelo campus Palotina da UFPR em parceria com a Itaipu Binacional e o Programa Paraná Diversidade. As ministrantes serão Janine Brown, do Smithsonian Institution dos EUA e Susan Lorene Walker, do Chester Zoo da Inglaterra. As vagas para o curso que será teórico-prático são limitadas. As aulas serão realizadas nas dependências do Refúgio Biológico Bela Vista da Itaipu Binacional.
As ministrantes têm ampla experiência no desenvolvimento de técnicas não invasivas para o monitoramento das atividades gonadal e adrenal, através da análise de esteróides excretados nas fezes, urina e saliva. Como resultado do seu trabalho, a Dra. Janine montou um grande banco de dados em fisiologia reprodutiva de várias espécies selvagens, demonstrando a diversidade da dinâmica do ciclo estral, da atividade sazonal e dos mecanismos ovulatórios. Os detalhes do seu trabalho podem ser conferidos no site http://nationalzoo.si.edu/AboutUs/Staff/BiosAndProfiles/BrownJanine.cfm.
O monitoramento hormonal não invasivo tem se mostrado de grande valor na avaliação da atividade reprodutiva de machos e fêmeas e da resposta ovariana aos procedimentos de indução de ovulação, permitindo o aperfeiçoamento do manejo reprodutivo, dos protocolos de inseminação artificial e de transferência de embriões. Além disso, a análise de corticóides fecais permite avaliar determinadas práticas de manejo com relação ao estresse e como interferem no bem-estar de animais em cativeiro.
As informações sobre como efetuar a inscrição podem ser obtidas através do site www.abravas.com.br, pelo telefone (44) 3649-3444, com a técnica Anorita Vendrame, ou diretamente no campus Palotina, na Rua Pioneiro, 2153. O contato por e-mail pode ser feito através do endereço nei.moreira@pq.cnpq.br.
Foto(s) relacionada(s):
Pesquisa comprovou a importância de pontos de fuga e ambientação ideais para os pequenos felídeos
Foto: Arquivo Itaipu Binacional
Fonte: Vivian de Albuquerque
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