Equipe de pesquisadores pode mudar a reconstrução da antiga história humana

28 junho, 2024
09:07
Por Bruna Soares
Ciência e Tecnologia

Em 2023, uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR), da Universidade Estadual Paulista (UNESP) e da Universidade de São Paulo (USP) viajou até o Norte da Jordânia, no Oriente Médio, e realizou uma nova análise dos artefatos mais antigos do mundo fora da África, o que levou a novas hipóteses sobre a história evolutiva dos humanos. Toda a expedição contou com financiamento da Fapesp e da UFPR.

Pesquisadores escavam um afloramento vertical de dois milhões de anos, em Sukhne, Jordânia. Foto: Fabio Parenti

Artefatos líticos são instrumentos de pedra que foram lascados e utilizados por nossos ancestrais durante milhões de anos. A descoberta desses artefatos fora da África tem sido fundamental para entender a história da expansão humana.

O artigo da pesquisa foi publicado na Revista Fapesp e em janeiro pela revista Journal of Paleolithic Archaeology. O material do estudo foi coletado em escavações realizadas entre 2013 e 2016, no vale do rio Zarqa, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de São Paulo (Fapesp). Segundo o artigo, foram examinados 40 artefatos de pedra lascada. 

Os indícios são de que os artefatos foram produzidos por uma espécie ainda desconhecida de hominídeo no próprio sítio, entre 2,5 e 1,95 milhões de anos atrás. Esses artefatos são evidências dos primeiros hominídeos a migrar para fora de seu berço evolutivo: a África oriental. 

Essas descobertas são cruciais para entendermos não apenas a cronologia da expansão humana, mas também as habilidades tecnológicas e adaptativas dos nossos antepassados pré-históricos. 

De acordo com o arqueólogo Fabio Parenti, professor e coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas Arqueológicas (CEPA) da UFPR, “essa não é uma descoberta recente, mas que ao longo dos tempos vem sendo atualizada”. Parenti escava na Jordânia desde 1996. 

Essas descobertas indicam a presença de hominídeos na Jordânia há pelo menos 500 mil anos antes do que sabíamos sobre a primeira saída da África. “O nosso objetivo principal da missão 2024 é confirmar as datações e isso se faz através de escavações arqueológicas nesses sítios e no mundo tem pouco sítios tão antigos, visto que a maioria está na África”, disse Parenti. 

A importância da descoberta desses instrumentos reside no fato de que parecem ser mais antigos do que se pensava anteriormente. Isso indica que os hominídeos estavam se expandindo para fora da África e se adaptando a novos ambientes muito antes do que se pensava.

Devido ao fato de nenhum fóssil humano ter sido encontrado com os artefatos, não é possível concluir qual hominídeo poderia tê-los produzido. 

Parenti é o primeiro autor do estudo e, para ele, o principal co-autor da parte geológica do estudo é o professor da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Giancarlo Scardia, doutor em Ciências Geológicas e Geotecnologias. Foi através de um grupo coordenado por Scardia que foi realizada a estratigrafia da região, possibilitando assim a descoberta e a cronologia desses artefatos. Os demais autores do artigo são: Filipe Giovanini Varejão, Mercedes Okumura, Astolfo Araújo, Carlos Conforti Ferreira Guedes e o paleoantropólogo Walter Alves Neves, coordenador das pesquisas entre 2013 e 2016.

Fora da África, esse sítio arqueológico é um dos mais antigos. Além de ser uma região bem favorável do ponto de vista geológico por conter várias camadas sobrepostas dentro do vale. Com isso, Parenti declara que: “Trabalho bom é trabalho lento e demorado. A gente depende da evolução da paisagem e de continuar a pesquisa ao longo dos anos”, pontua Parenti.

Povoado ceceno de Sukhne. Vale do Rio Zarqa, na Jordânia, onde cientistas descobriram ferramentas de pedra lascada. Foto: Fábio Parenti

Além de reanalisar as origens dos artefatos, os arqueólogos também tentavam desvendar a técnica de produção das peças de pedra lascada. Nos artefatos encontrados, os pesquisadores conseguiram identificar a sequência e a organização das batidas feitas nas pedras, que indicam o nível de habilidade manual desse primata. 

Arqueólogo Fábio Parenti realizando as escavações em torno de fósseis soterrados. Foto: Fábio Parenti

Nova expedição 

Uma nova expedição será feita para a Jordânia com financiamento da UFPR e da Fapesp. A data prevista é de setembro até dezembro deste ano. Os pesquisadores da USP também irão, com financiamento da Fapesp. 

Com essa nova ida à Jordânia o grupo irá fazer duas coisas: prospecção geológica e escavação. A equipe da UFPR cuidará da parte de escavação, em uma área pequena, e a equipe da UNESP, em um período mais curto, irá fazer prospecção caminhando e retirando amostras de terreno para a datação e análises paleoambientais. Tudo relacionado com a especialidade de cada grupo. 

Vale do Rio Zarqa, com dezenas de afloramentos do Pleistoceno que conservam artefatos do Paleolítico. Foto: Fábio Parenti

A perspectiva é “encontrar datação dessas camadas e encontrar novos fósseis que possam ampliar o aspecto biológico dos animais que tinham naquela época”, disse Parenti. 

Os objetivos principais são: 1) entender a evolução técnica dos artefatos ao longo de pelo menos meio milhão de anos e 2) compreender o paleoclima que havia naquela região quando a humanidade se expandiu fora da África e qual foi o motivo de sua expansão. “Estamos aperfeiçoando esse tipo de informação”, pontua Parenti. 

Segundo Parenti seria bom ir até o local e não só uma vez, mas duas vezes por ano ou no mínimo dois meses por ano.

Outros relatos

Em 2019, também saiu um artigo na Revista Fapesp sobre a datação de artefatos de pedra lascada

Confira aqui o link do artigo. 

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