Professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) une ecologia aplicada à conservação da biodiversidade marinha
Um dos principais trabalhos desenvolvidos no Laboratório de Ecologia e Conservação da UFPR (LEC/UFPR) é a junção da ciência básica com a ciência aplicada. O principal foco está na megafauna marinha, que são os golfinhos, as tartarugas, as baleias, as aves marinhas, os tubarões e as raias. Mas o olhar para eles tem um cuidado especial, de acordo com a coordenadora do LEC/UFPR, Camila Domit, que é pensando na garantia e na sobrevivência das espécies e das suas populações locais e regionais. “Eles nos avisam sobre as alterações e principalmente sobre a degradação e os impactos dessas alterações na biodiversidade, mas também quanto a dinâmica do ecossistema marinho, a funcionalidade desse ecossistema, a capacidade dele de gerar serviços que são essenciais para a manutenção da vida no planeta, como oxigenação, ciclagem de nutrientes e regulação do clima”
A visão da equipe tem se concentrado na compreensão da biodiversidade e em sua prioridade intrínseca. Diversos trabalhos têm sido realizados sob essa perspectiva, incluindo a análise da biodiversidade como indicador sensível de uma condição mais abrangente de bem-estar e saúde.
A coordenadora Camila já esteve em duas missões. Uma para os Estados Unidos, na Flórida State University, junto com a Dra. Mariana Fuentes, que trabalhava principalmente com mudanças climáticas e megafauna marinha, teve a oportunidade de desenvolver projetos na Austrália, Bahamas e, aqui, no Brasil. Já a sua segunda missão foi em Portugal onde conheceu a Universidade de Lisboa, a Faculdade de Ciências e a Rede Mare, que tem como um dos coordenadores o Dr. Rui Rosa, professor e cientista na pesquisa marinha, que em viagem ao Brasil, participou do Seminário de Internacionalização da Pós-Graduação e da Pesquisa na UFPR.
“Um dos ganhos que nós tivemos foi a parceria com o pesquisador da Universidade de Lisboa, Dr. Rui Rosa, que nos proporcionou, então, transformar o trabalho que nós faríamos com os tubarões aqui na região de São Paulo, Santa Catarina e Paraná, uma parte de um trabalho de avaliação de elasmobrânquios para o Atlântico Sul”, afirma. Para Camila, o Dr. Rui Rosa é uma referência na avaliação de mudanças climáticas e de impactos em níveis oceânicos.
O LEC/UFPR fazer parte do Capes-PrInt tem sido uma grande oportunidade para a formação de alunos e consolidação das linhas de pesquisas e ideias para o avanço da ciência marinha, em parcerias internacionais e dentro do Brasil.
“O Capes-PrInt é um programa gigantesco, e a UFPR entrou com uma proposta super rica, com várias linhas temáticas, com vários programas. Eu particularmente participo de duas redes, a Ribima e a REsMA. São duas redes na linha de biodiversidade e meio ambiente, uma delas voltada para a avaliação, inventário da biodiversidade e conservação da biodiversidade e a outra voltada para uma questão de monitoramento ambiental, de avaliação de impactos.”
Parte do laboratório LEC/UFPR já teve a oportunidade de aproveitar os recursos disponibilizados pelo programa Capes-PrInt. Nesse contexto, as observações não se limitam apenas ao âmbito das pesquisas, mas também englobam diversos alunos que participaram de programas de doutorado-sanduíche no exterior. Estamos na Década do Oceano para o Desenvolvimento Sustentável proposto pela UNESCO (Agenda 2030), que tem como um dos resultados esperados essa integração entre instituições e grupos de pesquisa, que traz um olhar coletivo e engajado para uma ciência melhor.
Mas para todos esses avanços acontecerem, o LEC/UFPR vem participando de reuniões ao longo dos tempos sobre a conservação da megafauna marinha. Recentemente, esteve presente em uma reunião do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), para discutir sobre o plano nacional de conservação das tartarugas marinhas – política pública nacional. Em pauta, foi falado sobre o Pan Tartarugas Marinhas, que começou a ser estruturado ainda em entre 2014 e 2015. “Fiz parte da primeira reunião de organização da proposta do Plano de Ação de Tartarugas Marinhas. Numa reunião que nós fizemos junto ao Centro Tamar, na época Projeto Tamar, e vim participando ativamente do plano”, disse a coordenadora. O LEC/UFPR ainda fez parte do Grupo de de acompanhamento técnico (GAT), do plano de ação das tartarugas marinhas. “São planos bem consolidados e que de alguma forma norteiam as ações do governo brasileiro para os próximos cinco anos com foco na conservação das cinco espécies que nós temos aqui no Brasil e que de alguma forma temos aqui no Paraná também”, acrescenta.
Para a nova etapa do Pan, foram realizadas reuniões de 07 a 11 de agosto, em Vitória, no Estado do Espírito Santo. “Foram cinco dias de intensas reuniões, incluindo a coordenação do Centro Tamar, que é o centro especializado do ICMBio, e importantes representantes da área. Camila finaliza: “Novamente farei parte do GAT, representando as universidades do Sul do Brasil e levando o conhecimento que estamos gerando para a sociedade e tomadores de decisões”.
Sobre a Coordenadora
Camila Domit é formada em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Possui mestrado e doutorado em Zoologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Além disso, é docente no Setor litoral da UFPR e faz parte do Programa Institucional de Internacionalização (CAPES-PrInt), onde participa de redes internacionais de conservação da biodiversidade marinha. Atualmente, é coordenadora do Laboratório de Ecologia e Conservação da UFPR (LEC/UFPR),e lidera o projeto “Paraná pela Década do Oceano” aprovado no edital MCTI/CNPq. Camila também tem uma vasta experiência na área de Ciência aplicada e Ecologia, com ênfase em conservação e avaliação integrada de ecossistemas e biodiversidade marinha.
“Eu tive a oportunidade de começar os trabalhos aqui no Centro de Estudos do Mar e formar o Laboratório de Ecologia e Conservação, e consolidar esse laboratório. Consegui trazer a estrutura física, inclusive do Centro de Reabilitação, da Especialização e Análise de Saúde da Fauna Marinha. Consegui desenvolver laboratórios que hoje auxiliam e apoiam pesquisas no Brasil e fora do Brasil, com a parte de análise, por exemplo, demográfica, análise de crescimento de análise patológica, análise de saúde de fauna marinha”, acrescenta Camila, professora da UFPR Litoral.
Camila menciona que sempre teve interesse em ver a ciência como uma ferramenta de transformação da sociedade. “Eu sou filha de um pesquisador da Embrapa com uma socióloga, uma pessoa que trabalha na linha dos movimentos sociais, então eu sempre enxerguei a necessidade da ciência ser a base de discussão das nossas tomadas de decisões pela sociedade”, comenta.
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