Novas dúvidas da sociedade sobre o coronavírus foram esclarecidas por cientistas da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Dessa vez, as perguntas foram respondidas por 11 pesquisadores da Universidade, que reforçam o uso de máscaras sempre que for necessário sair de casa. “Atualmente, usar máscaras é um gesto de coletividade e solidariedade, pois mesmo que para quem está usando máscara a proteção seja baixa, barra parte das gotículas produzidas ao falar, ao tossir e ao espirrar, protegendo os outros”, explicam.
As dúvidas da população sobre prevenção, contaminação e outros temas que envolvem a doença Covid-19 integram a campanha “Pergunte aos Cientistas”, da Agência Escola de Comunicação Pública e Divulgação Científica e Cultural da UFPR. Para participar, basta enviar a pergunta ao e-mail agenciacomunicacaoufpr@gmail.com ou no direct do perfil @agenciaescolaufpr no Instagram, com nome completo, idade, profissão e cidade onde reside.
Nessa semana, as perguntas foram respondidas pelas cientistas Maria Fernanda de Paula Werner, Juliana Geremias Chichorro, Janaina Menezes Zanoveli e Alexandra Acco, professoras do Departamento de Farmacologia, e Maria Carolina Stipp e Bruna Barbosa da Luz, doutorandas do mesmo departamento; Juliana Bello Baron Maurer, professora do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular; Lucy Ono (integrante da comissão de especialistas), Edneia Cavalieri e Patricia Dalzoto, professoras do Departamento de Patologia Básica. Também participou o presidente da Comissão de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19 da UFPR, Emanuel Maltempi de Souza, professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular. Confira abaixo:
Prevenção
“Os chineses consideram que é um erro não usar máscaras, pois a Covid-19 pode ser transmitida mesmo por uma pessoa assintomática. A máscara, neste caso, deveria ser de uso de todos como apontam muitos cientistas na revista Science. Todo mundo está confuso com as informações. Uma hora o Ministério da Saúde diz que não é para usar, depois diz que deve. Devemos usar máscaras? Qual é o tecido ideal para a fabricação caseira destas máscaras?” (Claudia Quadros, professora de Comunicação da UFPR, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Claudia, você tem toda a razão. Esse é um ponto que gerou muita confusão. A recomendação inicial era para não usar máscaras. Mas essa recomendação foi mudada – talvez porque toda essa situação é muito nova e estamos aprendendo juntos. Como você mesma disse, novos experimentos publicados estão subsidiando essas mudanças. O uso de máscaras é indicado sempre que for necessário sair de casa. Mesmo as máscaras caseiras diminuem a propagação do vírus por pessoas contaminadas, e diminuem novas infecções. Mas veja que a máscara impede que você emita gotículas, mas pouco protege você das gotículas dos outros. Por isso é importante cobrar de todos o uso da máscara. As máscaras caseiras, feitas com tecido, permitem a entrada de 70% a 90% das partículas pequenas (aerossóis) emitidas por uma pessoa que esteja a menos de dois metros de distância. Ou seja, não protegem o indivíduo de forma direta. Por outro lado, com o uso destas máscaras, a saída de partículas pequenas é reduzida em até 78%. Além disso, limita o contato manual, tornando-se uma barreira física entre as mãos potencialmente contaminadas e as vias respiratórias. Atualmente, usar máscaras é um gesto de coletividade e solidariedade, pois mesmo que para quem está usando máscara a proteção seja baixa, barra parte das gotículas produzidas ao falar, ao tossir e ao espirrar, protegendo os outros. Portanto, quando estiver fora de casa, use máscaras de proteção individual.
As máscaras:
– Podem ser feitas com duas camadas de tecidos como algodão e tricoline, ou três camadas de TNT.
– Podem ser utilizadas por até duas horas.
– Podem ser higienizadas com água e sabão neutro, ao estarem secas, passadas com ferro para então serem utilizadas novamente.
Lembre-se:
– Mesmo com uso das máscaras, as medidas de proteção individual, como lavagem das mãos com água e sabão e o uso do álcool 70% em gel devem ser mantidas.
– Mantenha distância de pelo menos dois metros.
– Evite levar as mãos ao rosto para coçar abaixo da máscara ou coçar os olhos.
– É necessário ter cuidado ao retirar a máscara, pois pode estar contaminada.
Ainda não há estudos que tenham quantificado o efeito do uso universal de máscaras para diminuir a velocidade de disseminação da Covid-19, no entanto, países asiáticos que têm esse hábito de usar máscaras para proteger o outro da exposição às gotículas contaminadas da sua orofaringe têm conseguido, aliado às demais medidas de distanciamento social e de prevenção baseadas em higiene das mãos e ambientes, diminuir a velocidade de propagação do novo coronavírus. O Ministério da Saúde não recomenda o uso de máscaras cirúrgicas e respiradores N95 pela população, solicitando que esses equipamentos de proteção individual comerciais sejam destinados ao uso dos profissionais da área de Saúde para que esses materiais estejam disponíveis para aqueles que estão sob maior risco de infecção. A última recomendação do Ministério da Saúde, apoiada pela Comissão de Acompanhamento e Controle de Propagação do Novo Coronavírus na UFPR, é pelo uso universal de máscaras caseiras pela população assintomática, o que não influenciaria na disponibilidade de máscaras cirúrgicas para os profissionais da área de Saúde.
“Tenho feito caminhada ao ar livre mesmo com a ameaça do coronavírus. Não venho utilizando máscara, mas agora a orientação do Ministério da Saúde é que todos usem máscara. Devo caminhar de máscara ou devo parar as saídas e fazer exercícios de casa?” (Tamires Sales de Quadros, 24 anos, estudante, Salvador-BA)
Cientistas UFPR – Olá, Tamires! As máscaras podem oferecer uma proteção adicional, sendo muito úteis ao sair de casa. O Ministério da Saúde está recomendando que todos, mesmo sem sintomas, de forma universal, usem máscara caseira (de tecido) ao sair de casa. Esta recomendação se baseia no fato de que, embora para quem esteja usando máscara a proteção seja baixa, barra parte das gotículas que produzimos ao falar, ao tossir e ao espirrar. Assim, o uso da máscara protege os outros (e não a nós mesmos). Por que usarmos para proteger os outros, se não apresentamos sintomas? Há evidências robustas da liberação de partículas virais por pessoas que foram infectadas e apresentam sintomas muito leves (a ponto de não serem diagnosticadas clinicamente) ou que simplesmente não apresentam sintoma. Mesmo nesses casos, essas pessoas podem transmitir o vírus por meio das gotículas que eliminam ao falar, tossir e espirrar.
Um novíssimo estudo indica que as pessoas correndo, andando de bicicleta ou se exercitando ao ar livre expelem gotículas pela boca e nariz a distâncias muito maiores, de até quatro metros. Mesmo que seja apenas um estudo de modelagem Matemática, é prudente manter maior distância de pessoas se exercitando (quatro a cinco metros) e também usar a máscara. Por isso, é importante manter o distanciamento social quando possível e só sair de casa em casos urgentes. Sabemos que as caminhadas são importantes e que deve continuar se exercitando para manter seu corpo e sua mente saudável. A atividade física é essencial para a manutenção da saúde e é recomendada, neste momento de isolamento social, também por contribuir com a diminuição da ansiedade. A melhor maneira, agora, é fazer exercícios em casa. Várias pessoas têm feito isso com o auxílio da internet. Se tiver acesso à internet, você pode pesquisar no Google ou YouTube a atividade física que desejar e encontrará várias aulas de 10, 20 ou 30 minutos. Se não tiver internet, você pode se alongar, fazer exercícios de força e movimentar seu corpo (subir e descer escadas, fazer pequenas corridas, polichinelos, abdominais, alongamentos etc.), sem sair de casa.
Recomenda-se que sejam evitadas ao máximo possível as saídas que não sejam essenciais, pois ao sair de casa pode-se ter contato com objetos contaminados e eventualmente encostar a mão no rosto após tocá-los. Além de outras situações imprevisíveis como a aproximação de pessoas nesses espaços públicos ou a necessidade de dividir elevadores para descer à rua, ou seja, o risco de infecção existirá. Somente diminuindo a circulação de pessoas, nesse momento em que os números de casos infectados e de mortes está se elevando no Brasil e em que ainda não existe medicação comprovadamente eficiente ou vacina contra a Covid-19, conseguiremos diminuir a velocidade de transmissão do vírus.
“O café onde trabalho irá voltar a funcionar e irá fornecer máscaras de tecido para os funcionários. Com o que higienizá-las sem água sanitária já que a máscara é preta e água sanitária iria manchar?” (Ana Carolina Rodrigues Minucci, estudante, 23 anos, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Olá, Ana! É absolutamente necessário lavar as máscaras após o uso, mas basta usar água e sabão para lavar roupas comum. Esse é um método eficiente. O uso da máquina de lavar também é suficiente para a limpeza de máscaras. Neste caso, adicionais cuidados que podem ser utilizados (e caso ainda seja compatível com o tecido) incluem: usar a água na temperatura de 60 a 90 graus e utilizar a opção molho. Seque bem as máscaras, de preferência ao sol, e recomenda-se o uso de ferro de passar roupa. Lembre-se: as máscaras são para uso individual e também que não deve-se usar a máscara por muito tempo, pois o ar expirado úmido vai deixá-la molhada, facilitando contaminação. O ideal é trocá-la a cada duas horas e colocá-la em saco plástico até a hora de lavar.
Entre os desinfetantes recomendados pelo Ministério da Saúde, além da solução de água sanitária diluída, há a possibilidade de uso de soluções a base de peróxido de hidrogênio 0,5% para a desinfecção prévia à lavagem convencional das máscaras caseiras, e pode ser encontrado na formulação de desinfetantes para roupas hospitalares, preservando em parte a cor dos tecidos (deve ser usado de acordo com as instruções do fabricante). Além da recomendações de lavagem e desinfecção das máscaras caseiras de tecido, reforçamos a necessidade de uso correto das mesmas, o que pode ser acessado neste link.
“A Organização Mundial de Saúde (OMS) orientou usarmos um pouco de hipoclorito diluído na água para lavar as máscaras e roupas que usamos na rua. Porém tenho medo de manchar as roupas. Posso usar Lysoform para isso? É eficaz?” (Camila Nery, 28 anos, estudante, Santos-SP)
Cientistas UFPR – Olá, Camila! O uso da máquina de lavar deve ser suficiente para a limpeza e higienização de roupas. Pode-se utilizar o Lysoform como adicional cuidado na limpeza de roupas – duas recomendações: 90 ml ou um copo americano no processo final de lavagem (fabricante) ou usar diluído no programa pré-lavar/molho por cinco minutos. Como recomendação, fazer um teste inicial para verificar se o produto não causará nenhum dano ao tecido. Você pode ainda deixar de molho em sabão de lavar roupas em algumas horas para aumentar eficiência. Em caso de um baixo grau de contaminação viral, como parece ser a condição das roupas utilizadas, lavar com água e sabão e secar bem deve ser suficiente para a inativação viral. No caso das máscaras, também podem ser desinfetadas separadamente com solução diluída de água sanitária e enxaguadas, antes de serem colocadas para lavar juntamente com as outras peças de roupas. A máscara deve ser bem secada e, se possível, deve ser passada. Lembre-se que você deve usar por duas a três horas e então trocar, sempre sem tocar a frente da máscara, mas manuseando apenas pelo elástico ou fita.
“Tenho 63 anos, sou diabética tipo 2 e hipertensa. Sempre fiz caminhada, hidroginástica, musculação e pilates. Agora só dentro casa, como devo proceder? Gostaria muito de fazer pelo menos a caminhada” (Maria Aparecida Correa, Volta Redonda-RJ)
Cientistas UFPR – Olá, Maria Aparecida! Excelente gostar e praticar atividade física. Esse seu hábito com certeza ajuda a controlar sua diabetes e hipertensão. Você pode continuar se exercitando e deve fazer isso pelo seu corpo e para uma mente saudável. A melhor maneira, agora, é fazer exercícios em casa. Várias pessoas têm feito isso com ou sem o auxílio da internet. Se tiver acesso à internet, você pode pesquisar no Google ou Youtube a atividade física que desejar e você encontrará várias aulas de 10, 20 ou 30 minutos. Se não tiver acesso, você pode se alongar, fazer exercícios de força e movimentar seu corpo (subir e descer escadas, fazer pequenas corridas, polichinelos, abdominais, alongamentos etc.), sem sair de casa. Mudar os hábitos não é fácil. Mas nesse período de Covid-19 isso se tornou essencial. Boa sorte nessa fase, lembrando que é uma fase e vai passar! Que tal começar agora?
“É bom ter um nebulizador em casa?” (Ivani Marques, 32 anos, Salvador-BA)
Cientistas UFPR – Olá, Ivani! Boa pergunta. O nebulizador é um equipamento para auxiliar no tratamento de doenças respiratórias, como sinusite, bronquite, asma etc. Assim, a utilização adequada deste equipamento deve ser recomendada pelo médico ou por um profissional da saúde. Nenhuma recomendação de Sociedades Brasileiras (Pneumologia ou Pediatria) foi feita em relação à necessidade de adquirir nebulizadores para uso em casa. Por outro lado, nos serviços de pronto atendimento recomenda-se evitar o uso dos nebulizadores convencionais para mitigar possíveis contaminações e/ou transmissões. Além disso, em suspeita de Covid-19 deve-se dar preferência ao uso de broncodilatador em spray inalatório (“bombinha”). Para hidratar as vias aéreas se você vive em lugar muito seco, use soro fisiológico – lembre-se que o soro fisiológico é de uso pessoal: não deve ser compartilhado com ninguém, pois pode contaminar com conta-gotas usado por outra pessoa.
“A água sanitária pode ser guardada em frasco escuro para ser utilizada depois? Com a amônia quaternária o procedimento é o mesmo? Posso fazer a diluição e guardar num frasco com borrifador para limpar as embalagens vindas do mercado, maçanetas, pisos etc.?” (Eliane Américo, 38 anos, orientadora educacional, Valparaíso-GO)
Cientistas UFPR – Olá, Eliane! Sua preocupação é bem pertinente, pois vários fatores podem interferir na estabilidade das soluções de hipoclorito de sódio, como pH (medida de acidez da solução), temperatura, luminosidade, concentração, embalagem, contato com o ar, presença de matéria orgânica e íons metálicos. Aconselha-se armazenar a solução de hipoclorito de sódio em frascos bem fechados, protegidos da luz e em temperatura que não exceda 20 graus. Neste sentido, os frascos âmbar de vidro ou de plástico são práticos, pois protegem o hipoclorito da ação da luz. Um estudo mostrou que soluções de hipoclorito mantidas nestes frascos e em refrigeração se mantiveram estáveis por cerca de 120 dias. Importante ressaltar que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomenda aos consumidores a utilização somente de produtos regularizados. O ideal é dar preferência aos saneantes classificados nas categorias “água sanitária” e “desinfetante para uso geral”, e que apresentem no rótulo o número de registro na Anvisa ou de notificação. A concentração de hipoclorito que inativa em até um minuto o SARS-CoV2 é de 0,1 % (diluição contendo uma parte de água sanitária e 25 partes de água ou aproximadamente três ou quatro colheres de sopa de água sanitária e um litro de água). Em geral recomenda-se que essa solução seja preparada diariamente quando mantida em frasco como o borrifador sem perda de eficiência, mas encontramos pelo menos um estudo que mostrou que após 30 dias nesse tipo de frasco e à temperatura ambiente houve redução de aproximadamente 50% de cloro ativo. O cloreto de benzalcônio é o sal de amônio quaternário mais comumente utilizado. É um agente eficiente contra bactérias patogênicas e parece ser de menor eficácia em baixas temperaturas (8 graus) do que em temperatura mais elevada (20 graus). Mas são poucos estudos que testam a eficiência desse desinfetante contra coronavírus. Alguns ensaios indicam que cloreto de benzalcônio a 0,05-0,2% é menos eficiente para inativar coronavírus SARS-CoV1 do que etanol 70% ou hipoclorito de sódio 0,1%, que são os desinfetantes de escolha para esse vírus. Por isso tem se sugerido uso de álcool 70% ou hipoclorito de sódio a 0,1 %, que tem capacidade de inativar o coronavírus em um minuto ou menos. O cloreto de benzalcônio é um composto bastante estável à temperatura ambiente e numa ampla faixa de pH. Assim, é possível guardar a solução estável em borrifador durante o uso por alguns dias sem perda de eficiência.
Contaminação
“Se uma pessoa com Covid-19 assintomática está numa piscina, todas as pessoas que estiverem naquela piscina serão contaminadas?” (Keila Corrêa Bittencourt, 35 anos, economista, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Olá, Keila! Provavelmente não, mas depende de qual é o tratamento da água desta piscina. Segundo a Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático, com base nas instruções da Organização Mundial de Saúde (OMS), água clorada com um a três partes por milhão (ppm) de cloro na piscina inativa o novo coronavírus em menos de 30 minutos. O risco de adquirir a Covid-19 dentro da piscina é pequeno ao se manter um distanciamento de três metros entre seus frequentadores. Além disso, tem o fator de diluição: algumas gotículas de saliva na água serão diluídas em milhares de litros de água, diminuindo muito a chance de que vírus encontre seu alvo. Assim, é improvável que alguém seja contaminado pela água da piscina.
Mas há questões importantes a serem lembradas:
1) O spray respiratório produzido ao nadar é semelhante à tosse e ao espirro, podendo ter a mesma amplitude de contágio.
2) O principal local de contaminação nesta situação são os vestiários, cadeiras compartilhadas e áreas comuns próximas à piscina.
3) Pessoas com qualquer sintoma que possa remeter à Covid-19 devem permanecer em distanciamento social – não devem frequentar piscinas ou salas de ginástica que sejam de uso comum em condomínios ou clubes.
Os cuidados são importantes porque não se tem ainda muitas evidências da sobrevivência do coronavírus na água limpa ou em esgoto. Pela característica deste vírus, de ter um “envelope” lipídico pouco resistente que o envolve, é provável que se torne inativo significativamente mais rápido do que vírus entéricos humanos não envelopados com conhecida transmissão por água, tais como adenovírus, rotavírus e vírus da hepatite A. Considerando os riscos citados acima, não recomendamos uso de piscinas comunitária nesse momento de alta disseminação do novo coronavírus.
“É verdade que o ciclo do vírus no organismo é de aproximadamente 15 dias? Então se fizer o exame de sorologia um mês depois de apresentar os sintomas o resultado será negativo?” (Eliane Alberti, 42 anos, professora UFPR, Piraquara-PR)
Cientistas UFPR – Olá, Eliane! O período de incubação do vírus, que seria o tempo entre a infecção e os sintomas da doença varia de um a 14 dias, em geral de três a sete dias, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Mas há relatos de casos discrepantes com período de incubação de até 27 dias. O tempo de recuperação médio da doença para casos leves é de duas semanas e de três a seis semanas para casos graves. Como na maioria dos casos o vírus não está presente depois de 14 dias, a recomendação é de isolamento domiciliar para pacientes com Covid-19 com sintomas leves. Pacientes hospitalizados podem ser testados para confirmar a eliminação do vírus antes de terem alta. Se o teste para a Covid-19 for um exame sorológico que detecta anticorpos (IgG/IgM) contra o vírus, indicará infecção em progresso (IgM positivo) ou passada (IgG positivo). Mas esse teste só dá positivo depois do desenvolvimento de anticorpos, aproximadamente sete a 10 dias após aparecimento de sintomas. O teste de RT-PCR detecta diretamente o material genético do vírus (RNA viral) e dá positivo a partir da infecção, quando o vírus começa a se replicar no paciente. Os vários tipos de testes imunológicos também apresentam características distintas como diferentes sensibilidades e especificidades. Se esse exame de detecção de RNA viral for feito após 30 dias do início dos sintomas, em um quadro leve ou assintomático de Covid-19, é provável que seu resultado seja negativo. Mas se nesse período de 30 dias sugerido por você forem usados testes de sorologia para detecção de anticorpos contra o novo coronavírus no sangue, serão positivos. Mesmo o vírus não estando mais presente na amostra clínica, os anticorpos que o sistema imune produziu contra ele poderão ser detectados. Dados epidemiológicos da Covid-19 ainda estão sendo estudados para conhecer melhor a forma de transmissão, a progressão e as respostas imunológicas frente ao SARS-CoV-2.
“Nos últimos dias foram noticiados o contágio em felinos, um gato e uma tigresa. Há a possibilidade de que eles possam se tornar hospedeiros intermediários para o SARS-CoV-2? Isto é, a doença poderia se espalhar entre eles e, porventura, nos contaminaríamos em contatos com esses animais? Além disso, há alguma chance de que o Aedes aegypti possa se tornar um transmissor do vírus?” (Wesley Rodrigo Santos, 27 anos, estudante, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Muito importantes e pertinentes essas perguntas, Wesley. De acordo com estudo publicado na revista Science, os gatos se mostraram suscetíveis à infecção para SARS-CoV-2. Porém, não foi verificado se os gatos podem ser hospedeiros intermediários ou vetores para transmissão do vírus. Recomenda-se, por questão de higiene pessoal, sempre lavar as mãos após brincar com qualquer pet. O mais importante é manter os animais de estimação afastados de pessoas com Covid-19 que estejam se tratando em casa. Essas pessoas precisam ficar em isolamento doméstico seguindo regras estritas para não terem contato com outras pessoas e nem com animais de estimação. Então reforçamos que não há registro de transmissão do SARS-CoV2 de animais de estimação para humanos.
O Aedes aegypti é vetor de doenças chamadas arboviroses, que são doenças provocadas por vírus que estão presentes na circulação sanguínea e cujo ciclo de vida depende de passagem por um artrópode (que é o mosquito). Ou seja, vírus como da dengue e febre amarela provocam doença no mosquito também e o mosquito doente transmite o vírus para humanos quando vai se alimentar. O SARS-CoV-2 não é capaz de se replicar no Aedes aegypti e também não há evidência de que esteja presente no sangue de pessoa com Covid-19. Assim, até o momento não há nenhuma informação de que o Aedes aegypti possa ser transmissor do SARS-CoV-2. A principal forma de transmissão da Covid-19 é de pessoa para pessoa. O que se sabe até agora é que o receptor utilizado por esse vírus está presente em células de outros tipos de primatas, humanos e porcos, e que há uma similaridade desse vírus aos encontrados em morcegos.
“Não sou do grupo de risco, tenho 36 anos, nenhuma comorbidade, pratico exercícios físicos e me alimento bem. Se minha imunidade estiver ok e eu entrar em contato com o vírus, obrigatoriamente eu vou desenvolver a doença (ou ficar com o vírus no meu corpo e ser um transmissor assintomático) ou pode ser que eu não contraia a doença por ter uma imunidade alta?” (Aline Marchese, 36 anos, professora de Agronomia UFPR, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Aline, não há certeza. Os dados têm mostrado que qualquer um pode ser infectado pelo vírus, em qualquer idade e qualquer condição de saúde. A taxa de infectados decresce com a idade, especialmente abaixo de 20 anos. A faixa de 30 a 39 anos constitui 17% dos doentes na China. Esses números variam um pouco dependendo da estratificação etária da população. Não há evidência indicando que uma pessoa “saudável”, sem comorbidade, será refratária à infecção. Comorbidade influi na probabilidade de desfecho positivo, assim como sexo. Mulheres sem comorbidade têm probabilidade menor de morte, mas não necessariamente de desenvolver a forma mais grave da doença. É possível que você entre em contato com o vírus, não desenvolva a doença, e seja uma portadora assintomática, mas capaz de transmitir o SARS-CoV-2 uma vez que a Covid-19 é contagiosa durante o período de latência. Pode ser que também não contraia a doença – não se pode dizer que seja por sua imunidade alta ou por outros fatores como carga viral, por exemplo. É comum na medicina humana relatos de infecções que não apresentam sintomas ou manifestação clínica.
A prática de exercícios físicos regulares e uma alimentação adequada podem contribuir sim para a manutenção de um estado hígido necessário para uma resposta imune que seja a mais adequada para a contenção da multiplicação do vírus. Mas mesmo dentro dessa condição ideal de condicionamento físico e alimentação, a exposição ao vírus poderá levar à infecção, sem aparecimento de sintomas ou com sintomas muito leves ou ao aparecimento de sintomas moderados e até mesmo graves. Ou seja, não é um impeditivo para o desenvolvimento de sinais e sintomas da doença. Dados epidemiológicos da Covid-19 ainda estão sendo estudados para conhecer melhor sobre a transmissão, a progressão e as respostas imunológicas frente ao SARS-CoV-2.
“Corro algum risco de contaminação indo ao meu sítio nos fins de semana? Entro no carro na garagem de casa e só saio no sítio – lá não terei contato com ninguém. Na volta para casa procederia da mesma maneira. Somos meu marido e eu com 73 e 71 anos, respectivamente” (Ângela Trece Lopes, 71 anos, economiária aposentada, Belo Horizonte-MG)
Cientistas UFPR – Olá, Ângela! Você e seu esposo são do grupo de risco. Portanto, o distanciamento social é altamente recomendado. Se vocês não têm contato com ninguém em casa e no sítio, correm pouco risco de serem infectados. Se alguém além de vocês tiver acesso à casa do sítio, pode ser uma fonte de contaminação. Portanto, importante manter a casa bem arejada na sua chegada e limpar as superfícies, de preferência, com álcool 70%. O vírus pode sobreviver em superfícies. É importante higienizar todos os produtos que chegam da farmácia e supermercado para que o vírus não tenha acesso à sua casa através desses produtos. Durante a higienização dos produtos, procure não levar as mãos ao rosto e lave bem as mãos com água e sabão quando terminar. Dê preferência às compras por telefone ou aplicativo ou peça ajuda aos mais jovens, evitando assim locais fechados e com aglomeração de pessoas. Além disso, devemos sempre considerar que a parte externa do carro está exposta ao vírus. Desta forma, é recomendado que após tocar a parte externa, como a porta e porta-malas, seja usado o álcool 70% para higienizar as mãos. É importante também limpar o volante, a marcha e o freio de mão com um papel toalha embebido em álcool 70%. Os tapetes do carro também devem ser lavados periodicamente com água e sabão, pois nossos sapatos levam a sujeira para o interior do carro. E sempre lavar as mãos com água e sabão, mesmo que não tenha tido contato com outras pessoas. Recomendamos que pesem a decisão de se deslocarem de casa, a probabilidade de acontecimento de imprevistos que poderiam levar ao contato não programado com outras pessoas e o fato de normalmente os locais como sítios, por serem afastados das cidades, levarem a maiores dificuldades de acesso a hospitais e unidades de saúde caso surjam emergências médicas. Parabéns pela sua preocupação e continuem praticando o distanciamento social, tão importante nesse momento para diminuir a velocidade de propagação da Covid-19 no Brasil.
“Tenho hipertensão e tomo o medicamento Losartana 50mg de 12 em 12 horas. Mesmo eu não tendo mais de 60 anos, também sou considerado do grupo de risco?” (Jean Pscheidt Weiss, 26 anos, químico, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Essa deve ser uma dúvida de muita gente. A relação entre o uso de medicamento losartana (que é da classe dos bloqueadores do receptor AT1 da angiotensina 2 ou ARBs) e a maior propensão à infecção do SARS-CoV-2 é baseada em hipótese e não confirmada – ou seja, não é baseada em evidência clínica. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, os hipertensos não devem em nenhuma circunstância deixar de tomar o hipertensivo prescrito e qualquer modificação do tratamento deve ser avaliada pelo seu médico. Quanto à sua pergunta, a resposta é sim. Você faz parte do grupo de risco. Em números significa o seguinte: pacientes com Covid-19 que são hipertensos têm 6-8% de morte enquanto os que não tem uma comorbidade têm risco abaixo de 1%. É uma grande diferença e por isso você precisa ser extra cuidadoso. Mas se sua hipertensão estiver descontrolada, o risco pode aumentar. Por isso, não deixe de tomar seu medicamento e monitore sua pressão. As pessoas hipertensas, assim como os portadores de doenças cardíacas e respiratórias crônicas, diabéticos e em tratamento contra câncer, devem reforçar as medidas de prevenção indicadas pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde. Fazer distanciamento social rígido (só saia de casa se for essencial e mantenha distância de pessoas que coabitam com você e precisam sair), lavar as mãos, usar de álcool gel quando necessário, usar máscara etc.
“Qual é a projeção percentual de contágio por Covid-19 nas pessoas que hoje estão confinadas? Findo o confinamento estas pessoas estarão em contato com possíveis pessoas ainda contaminadas. Se para chegar ao Brasil bastaria uma pessoa assintomática, por que não haverá contaminação? Por que o número total de contaminados na hipótese de ausência de restrição de contato social poderia ser maior que a soma do número de pessoas contaminadas durante a restrição do confinamento de contato social? Mais o número de pessoas que serão contaminadas após o fim da restrição de contato social? Mais os casos de pessoas recontaminadas? Imaginaria que o confinamento somente teria evitado as mortes por insuficiência de leitos se o pico ultrapassasse a capacidade hospitalar do Brasil. Estou certo? O número de imunes e ou imunizados seria sempre o mesmo nas duas situações, se não aparecer remédio ou vacina” (Liamar Bicalho, 77 anos)
Cientistas UFPR – Liamar, estudos realizados nos Estados Unidos e no Reino Unido utilizaram modelos Matemáticos para tentar prever possíveis cenários da pandemia no Brasil, considerando o confinamento ou não da população. O fato é que diante do cenário atual não dispomos de vacinas e nem medicamentos específicos para prevenir a contaminação e tratar a Covid-19. Até o momento, tanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto o Ministério da Saúde recomendam o isolamento social como importante ferramenta de saúde pública, pois diminuem significativamente o número de contágio por Sars-CoV-2. Estudos demonstraram que o percentual de incidência de Covid-19 entre pessoas que estão sob isolamento social é de 1,5%, considerando pessoas com histórico de viagens e que estiveram em contato com casos suspeitos. Atualmente, o Brasil não tem testes suficientes para avaliar a quantidade de pessoas que foram contaminadas e que pertencem ao grupo dos assintomáticos. Então, mesmo que nossas medidas de saúde pública não consigam conter completamente a disseminação da Covid-19 por causa das características do vírus, ainda serão eficazes para atrasar o início da transmissão generalizada na comunidade, reduzindo a incidência do pico da doença e seu impacto nos serviços públicos. Levando em consideração a gravidade dos sintomas clínicos, caso não houvesse isolamento social o número de leitos disponíveis não seria suficiente para atender todos os pacientes. Enquanto ainda não contarmos com testes suficientes para contabilizar a porcentagem de indivíduos que já foram contaminados com o Sars-Cov-2 não temos como fazer previsões nem como estimar a possibilidade de recontaminação. É preciso ainda lembrar que situações de pandemia como essa têm reflexos diferentes em países onde há grande desigualdade social, como é o caso do Brasil. Quando todos praticam o distanciamento social, permanecendo nesse momento em suas residências, estaremos ajudando a proteger também as parcelas mais vulneráveis socialmente da população brasileira. Enquanto não dispomos de medicamentos comprovadamente eficientes para tratar as pessoas infectadas, de vacinas seguras e eficientes e de testes para avaliar a população de modo geral, as medidas de distanciamento social são nesse momento o único recurso de que dispomos (associado às medidas de higiene de mãos e superfícies) para diminuir a velocidade de propagação do novo coronavírus. Como você mesmo observou temos mais interrogações do que respostas, mas é possível prever alguns cenários:
1) Se não houver regras de distanciamento social rígidas nesse momento, o fato de termos transmissão comunitária disseminada significa que o número de novos casos crescerá exponencialmente, dobrando a cada três a quatro dias no máximo. Nessa situação nosso sistema de saúde entra em colapso, pois cerca de 5% a 8% dos doentes precisam de cuidados em unidade de terapia intensiva (esse número parece estar se mantendo em todos os países). Podemos imaginar que os médicos teriam que escolher quem vive e quem morre. Os modelos mencionados acima preveem esta situação explosiva.
2) Podemos viver numa situação de distanciamento social que mantenha um número de casos novos em equilíbrio com o número de pessoas recuperadas e falecidas. Essa situação perdura até que número substancial da população estiver imunizada (as estimativas variam de 50% a 70%) ou descoberta de uma vacina. Há incertezas a respeito de recontaminação (estudo recente citado pela OMS diz que algumas pessoas não desenvolvem anticorpos contra o novo coronavírus), duração da imunidade, além de ser difícil definir o ponto de equilíbrio e a duração e quando vacina estará disponível.
3) Podemos aplicar regras rígidas até que o número de casos novos esteja bastante reduzido, nosso sistema de saúde tenha folga de leitos de UTI (números precisam ainda ser determinados). Nesse momento, duas ações são necessárias: afrouxar distanciamento social progressivamente com regras bem definidas (algumas regras de distanciamento devem ser permanentes como eliminar contato físico ao cumprimentar, uso de máscaras, eliminação de filas etc.), estabelecer um sistema de monitoramento por exames abrangentes e vigilância constante. Nesse cenário, a cada novo caso, todos contatos dessa pessoa são identificados e testados para barrar a transmissão, uma estratégia chamada de “contact tracking”. Além disso, seria importante analisar amostras da população para presença do vírus em assintomáticos (escolhidas usando análise estatística) e presença de anticorpos contra SARS-CoV-2.
Esses cenários são bem simplificados. Entre essas possibilidades a terceira parece trazer mais benefício com as informações que dispomos. Exemplos de aplicação dessa estratégia encontra-se a Coreia do Sul, China e Alemanha. Na Coreia do Sul e China o número de novos casos é bastante reduzido, depois de uma fase de crescimento exponencial. A Alemanha ainda tem um grande número de casos, mas um número de mortes muito menor que em outros países com características semelhantes.
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