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Curso de Aperfeiçoamento EJA Privados de Liberdade capacita 28 profissionais

24 outubro, 2018
17:52
Por Bruna Soares

Profissionais que atuam no sistema prisional do Paraná e nos centros regionais e estaduais de educação de jovens e adultos participaram do Curso de Aperfeiçoamento EJA Privados de Liberdade promovido pelo Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em parceria com a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi) do Ministério da Educação (MEC).

Gratuito e presencial, o curso contou com aulas quinzenais, divididas em seis módulos: O professor da EJA; Desenvolvimento Humano; Aprendizagem; Metodologia do Cárcere; Meio Ambiente e Diversidade; Violência: Principais Características e Consequências. As atividades iniciaram em março de 2018, somaram 180 horas e foram realizadas no Campus Reitoria. Para a coordenadora do curso, Gabriela Reyes, a academia tem o papel de devolver os conhecimentos que produz à sociedade. “Foi possível reunir em um mesmo espaço todos os envolvidos no EJA em prisões, isto é, agentes penitenciários, professores e funcionário da rede estadual de educação. Fazer ciência e ficar dentro dos muros da universidade, não tem sentido”, afirma a professora do Departamento de Educação da UFPR.

Turma do Curso de Aperfeiçoamento EJA Privados de Liberdade realizado entre março e setembro de 2018 em Curitiba. Foto: Debora Cristina Lopes

Oito professores – sete da UFPR e um da Universidade de São Paulo (USP) – orientaram os trabalhos finais dos 28 alunos. Entre os temas abordados, hortas medicinais no sistema prisional para diminuir a dependência de remédios sintéticos em mulheres e o uso de filmes e livros para falar sobre discriminação e violência. As bancas, realizadas no dia 29 de setembro, reuniram artigos e materiais didáticos. “Todos de ótima qualidade. A maioria foram propostas de intervenção que estão sendo implementadas nas respectivas unidades prisionais ou nas escolas às quais os participantes pertencem”, comenta Gabriela. Um trabalho, em especial, chamou a atenção da professora: o vídeo “Educação nas prisões: uma luz para os excluídos”, com relatos de detentos e ex-detentos sobre como a educação melhorou suas vidas ou como a falta dela os colocou em situação de vulnerabilidade.

Docente do Departamento de Administração Escolar e Economia da Educação (EDA) da Faculdade de Educação da USP, Roberto da Silva ministrou o módulo de Metodologia do Cárcere e orientou trabalhos com foco na continuidade dos estudos para presos em liberdade condicional e na ampliação do número de matrículas – propostas alinhadas às metas da educação nas prisões.Os números de matrícula ainda são ridículos – menos de 15% –  mas, agora, o Brasil tem leis, normas e diretrizes que colocam o ensino nas prisões como parte integrante da política pública de educação. Cabe aos estados, seus gestores e educadores dar efetividade à letra da lei e usar de todos os mecanismos possíveis para estender esse direito aos presos”, pontua. O pedagogo, mestre e doutor em Educação é ex-detento do Carandiru e leciona no Programa de Pós-Graduação em Educação – no qual orienta estudantes de mestrado e doutorado que desenvolvem pesquisas na linha Estado, Sociedade e Educação.

Roberto explica que, durante as aulas, os participantes buscaram otimizar suas práticas por meio da troca de experiências. “O grupo tem gestores e educadores bastante experientes que concordam em assumir uma postura mais próxima de educador social do que de professor de conteúdos, pois as necessidades dos presos vão muito além da escolarização”, diz. “Ofertar cursos como esse é fundamental pois a formação deve ser contínua e interdisciplinar, de maneira que os educadores se sintam mais instrumentalizados para enfrentar os desafios”, opina a professora do Departamento de Teoria e Fundamentos da Educação da UFPR, Yanina Micaela Sammarco.

O público-alvo do curso foram profissionais efetivos da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Seed); da Secretaria Municipal de Educação de Curitiba que trabalham nos Centros Regionais de Educação de Jovens e Adultos (Cereja); dos Centros Estaduais de Educação Básica para Jovens e Adultos (Cebbeja) prisionais e servidores lotados no Departamento Penitenciário (Depen) do Paraná que atuam com populações privadas de liberdade. “O Depen e a Seed foram nosso grandes parceiros”, informa a coordenadora Gabriela. Ela comemora a baixa evasão do curso, mas demonstra preocupação com a carência de formações direcionadas a professores do sistema prisional.

Cultivo de plantas medicinais em penitenciária do Paraná

A agente prisional da Penitenciária Feminina do Paraná (PFP), localizada em Piraquara, Eliane Nancy Vizentini Lopes, desenvolveu um projeto para o cultivo de plantas medicinais em seu ambiente de trabalho a partir de uma inquietação que a acompanha desde que ingressou no sistema carcerário, há três anos. “Observo que as presas têm muitos problemas de saúde. Fora HIV [Human Immunodeficiency Virus] e algumas DSTs [Doenças Sexualmente Transmissíveis], muitas coisas poderiam ser minimizadas com ervas. Elas tomam muito remédio por mês, fiz um levantamento com a enfermeira. Eu gosto muito e tenho esse contato familiar com plantas desde os meus avós”, revela.

O estudo foi desenvolvido a partir das compreensões da cultura chinesa sobre o relógio biológico. Dividido em 12 partes, cada uma representa um órgão e o respectivo horário que indicaria sua máxima funcionalidade e maior receptividade a tratamentos naturais. “A cada hora, um órgão específico está com uma concentração de energia; há um horário para se tomar o chá, por exemplo, mas pessoas podem tomar em outros horários também”, detalha Eliane. A pesquisa apresenta possibilidades de tratamento para alergias na pele, coceiras, problemas respiratórios, ansiedade e infecção urinária com o uso de 12 plantas medicinais – em forma de chás, pomadas e lavagens. A tanchagem é uma das ervas, citada pela ação no intestino grosso. “Ela serve para tudo: limpa o organismo, é antibiótico, é analgésica, antibactericida e cicatrizante”, complementa.

“O trabalho de plantas medicinais com a técnica do relógio dos órgãos busca diminuir os remédios farmacêuticos utilizados e aproxima o conhecimento da saúde a partir da natureza”, afirma a orientadora Yanina. A vontade de inovar e de encontrar soluções práticas para problemas do cotidiano foi o que mais chamou a atenção da professora durante as apresentações.

Formato de relógio dos órgãos utilizado no trabalho final “Horta medicinal: cultivo e uso de plantas medicinais na Penitenciária Feminina do Paraná” da aluna Eliane Lopes.

 

A história de Roberto da Silva

Durante a infância, separado dos irmãos, Roberto foi sucessivamente transferido para unidades da antiga Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor (Febem), hoje Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (Fundação Casa). Aos sete anos, conheceu a mãe. Dos dois aos 17, seu lar foram abrigos públicos. Aos 18 foi morar nas ruas, onde permaneceu até os 23. Durante a década seguinte, viveu na prisão. “No Mato Grosso fiz o curso supletivo, para recuperar os estudos atrasados, e entrei na Universidade Federal do Mato Grosso, onde cursei Pedagogia. Logo que terminei a faculdade, montei um projeto de pesquisa que me permitiu voltar a São Paulo. O projeto foi aprovado na USP e me abriu um novo campo de trabalho. Novo no sentido de que eu poderia trabalhar em outra relação com as autoridades, com os órgãos públicos. Eu não era mais o ex-interno da Febem, o ex-menino de rua, o ex-presidiário. Eu passei a ser um professor universitário, um pesquisador, que tinha acesso a esses órgãos de uma maneira legítima e legal”, conta Roberto em trecho de sua história publicado no Museu da Pessoa – museu virtual e colaborativo de histórias de vida fundado em 1991 em São Paulo.

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