A comissão da UFPR formanda para avaliar os desdobramentos da covid-19 e fundamentar decisões relacionadas à pandemia, lançou uma nova nota técnica sobre a evolução da doença no Paraná, fruto de uma reunião no dia 18 de setembro. A nota avalia os impactos da flexibilização das regras de distanciamento social e números sobre a disseminação da doença.
Para a comissão ” qualquer alteração das medidas adotadas até o momento que levem a maior flexibilização do distanciamento social poderá levar rapidamente à elevação da curva de incidência da COVID-19 na cidade de Curitiba, no NUC da região metropolitana de Curitiba e no Estado do Paraná”. O texto mantém as recomendações de afastamento feitas anteriormente no âmbito da UFPR.
Veja a nota na íntegra:
Nota Técnica nº 06
18/09/2020
Atualização da Nota Técnica nº 05 (publicada em 14/08/2020) da Comissão de acompanhamento e controle de propagação do novo Coronavírus na UFPR sobre a evolução da COVID-19 no Paraná,
A Comissão reuniu-se remotamente para avaliar o Estado atual da pandemia da COVID-19 no Estado do Paraná em 18/09/2020. Os principais parâmetros avaliados foram a) índices de distanciamento social, b) números da doença no Estado do Paraná, e c) a taxa de reprodução do novo coronavírus.
Os dados apresentados e analisados na reunião foram os seguintes:
a) ÍNDICE DE DISTANCIAMENTO SOCIAL
De acordo com os dados de geolocalização de dispositivos móveis disponibilizados na página da empresa In Loco, a média semanal do índice de distanciamento social no Estado do Paraná mostrou novamente tendência de queda ao longo das últimas semanas, registrando na semana de 10/09 a 16/09 o valor médio de 36,1%, o menor desde a segunda semana da pandemia da COVID-19 no estado, e se aproximando gradativamente aos valores pré-pandemia.
Figura 1 – Média do índice de distanciamento social diário no Estado do Paraná ao longo das diferentes semanas entre 12/03 e 16/09/2020, determinado por dados de geolocalização de dispositivos móveis pela empresa In Loco (www.inloco.com.br).
Atos da administração do município de Curitiba e do Estado do Paraná podem ter influenciado as médias de índice de distanciamento social nas últimas 6 semanas mostradas na Figura 1, pois regulamentaram as diversas atividades. Os decretos relevantes editados ou que tiveram vigência modificada são:
b) EVOLUÇÃO DA COVID-19 NO PARANÁ
Número de casos
De acordo com os dados obtidos pelos boletins e informes epidemiológicos da SESA/PR, a média diária de novos casos obtida na 2a e 3a semanas (27/08 a 02/09 e 03/09 a 09/09) após o estabelecimento da bandeira amarela na cidade de Curitiba (Decreto Municipal 1080 de 17/08/2020) apresentou aumento na cidade de Curitiba de ~9% (Figura 2, subindo de 305,4 para 331,5), mas uma diminuição na região de Curitiba e municípios do Núcleo Urbano Central (NUC) da região metropolitana de ~7% (Fig. 3, caindo de 628,9 para 587,2).
Não houve impacto no índice de distanciamento social na semana seguinte (10/09 a 16/09) à publicação do Decreto Municipal 1160 de 04/09/2020 instituindo novamente a bandeira laranja (com restrição de abertura do comércio aos domingos). Nessa semana foi registrada a menor média diária desse índice durante a pandemia (36,1%).
Yamey e Walensky (2020, https://www.bmj.com/content/370/bmj.m3365) avaliam que a reabertura de universidades deveria ser precedida por controle da transmissão comunitária associada a testagem da COVID-19, para minimizar os riscos de disseminação nesses ambientes, citando o índice de menos de 4 casos/100.000 habitantes e testagem positiva dos casos suspeitos inferior a 5% como sendo os valores que indicariam transmissão comunitária mínima. De acordo com a iniciativa TTSI (programa de testagem, identificação de contatos, isolamento com suporte para suprimir/mitigar doenças altamente infecciosas ou perigosas) do Instituto de Saúde Global de Harvard (https://ethics.harvard.edu/files/center-for-ethics/files/ttsi_technical_advice_handbook_2.0_june_30_2020_final.pdf), o controle da COVID-19 requer que seja alcançado o índice de menos que 1 caso novo diário por 100.000 habitantes de uma dada localidade. A iniciativa avalia que alcançando esse índice, seria possível controlar com certa segurança o aparecimento de novos surtos e picos de novos casos da doença, inclusive conseguindo parar a transmissão comunitária, através da identificação de indivíduos sintomáticos e assintomáticos, através de testagem ampla, seguida de isolamento dos casos positivos. Ainda, seria possível testar os que foram expostos a pacientes positivos para COVID-19 através de rastreamento de contatos, e ainda, em outros contextos, testar pacientes que se submeterão a cirurgias eletivas ou ampliar testagem em programas de vigilância epidemiológica da COVID-19). Alcançar esse índice dependeria da extensão das medidas não farmacológicas de distanciamento social adotadas, uso universal de máscaras, testagem/rastreamento/isolamento, proteção dos vulneráveis e tratamento dos doentes.
Nas últimas 5 semanas (Figura 2, entre 13/08 e 16/09) a média de novos casos diários foi de 321,2 na cidade de Curitiba. Considerando a população de 1.938.999 habitantes, a cidade teve 16,6 novos casos diários/100.000 habitantes. No núcleo urbano central da região metropolitana, a média de novos casos diários nesse período (Figura 3) foi de 585,4; considerando a população de 3.407.596 habitantes, o índice alcançado foi de 17,1/100.000 habitantes. No Estado do Paraná, a média de novos casos diários nesse período (Figura 4) foi de 1.693,2; considerando a população de 11.516.840 habitantes, o índice alcançado foi de 14,7/100.000 habitantes. Esses índices, que estão dentro da faixa de 10 a 25 casos novos diários/100.000 habitantes indicariam que em Curitiba, no NUC e no Estado do Paraná, a transmissão comunitária está ocorrendo e em nível elevado. Além disso a taxa de positividade (número de testes positivos em relação ao número de testes realizados) tem sido de aproximadamente 25%, que é elevadíssima e é concordante com a conclusão de elevado nível de transmissão no Estado.
Para comparação, no município de São Paulo, que possui 12,3 milhões de habitantes e média de novos casos diários foi de 1.098 na semana de 10/09 a 16/09 (calculado com dados dos boletins do CVE Prof. Alexandre Vranjac – SP) apresentou um índice de 9 novos casos diários/100.000 habitantes.
Figura 2 – Evolução da média de novos casos diários de COVID-19 notificados ao longo das diferentes semanas (até a semana de 10/09 a 16/09) no município de Curitiba. Dados coletados dos boletins e informes epidemiológicos da SESA/PR (http://www.saude.pr.gov.br/).
Figura 3 – Evolução da média de novos casos diários de COVID-19 notificados ao longo das diferentes semanas (até a semana de 10/09 a 16/09) na região de Curitiba mais municípios do Núcleo Urbano Central da região metropolitana (Almirante Tamandaré, Araucária, Campina Grande do Sul, Campo Largo, Campo Magro, Colombo, Curitiba, Fazenda Rio Grande, Itaperuçu, Pinhais, Piraquara, Quatro Barras, Rio Branco do Sul e São José dos Pinhais). Dados coletados dos boletins e informes epidemiológicos da SESA/PR (http://www.saude.pr.gov.br/).
Figura 4 – Evolução da média de novos casos diários de COVID-19 notificados ao longo das diferentes semanas (até a semana de 10/09 a 16/09) no Estado do Paraná. Dados coletados dos boletins e informes epidemiológicos da SESA/PR (http://www.saude.pr.gov.br/).
Ocupação de leitos COVID-19
No período de 05/08 a 10/08 a SMS de Curitiba divulgou a ativação de 10 novos leitos de UTI exclusivos para COVID-19 (de 345 leitos para 355 leitos), mas em 16/09/2020 foram desativados 21 leitos, resultando em uma redução líquida de 11 leitos de UTI exclusivos para COVID-19 desde o último levantamento da nota técnica 5 dessa Comissão. Em 16/09, Curitiba apresentava taxa de ocupação de 87% dos 334 leitos de UTI do SUS para COVID-19 para atender casos confirmados e suspeitos.
Com relação ao Estado do Paraná, os informes epidemiológicos da SESA-PR registraram entre os dias 05/08 e 16/09 um aumento de 11 leitos ativados (1.074 para 1.085 leitos de UTI COVID-19 adulto) e a taxa de ocupação se manteve em 74%.
c) TAXA DE REPRODUÇÃO DO NOVO CORONAVÍRUS
A análise do número de reprodução efetivo (Rt) é importante, pois mostra o declínio ou expansão da doença na comunidade. O Rt médio semanal no Paraná, calculado utilizando dados da Loft Science, indicam que o valor está se mantendo próximo de 1 desde a semana de 13/08 a 19/08 até a semana de 10/09 a 16/09, ou seja, por cerca de 5 semanas até o momento atual.
Estudo coordenado pelo infectologista Bernando Montesanti de Almeida do Hospital de Clínicas e Prof. Wagner Bonat do Laboratório de Estatística e Geoinformação (UFPR) também apontou para um número de reprodução médio próximo de 1, sendo a média na semana de 03/09 a 09/09 de 0,96.
Dados do Observatório COVID-19 BR, iniciativa decorrente da colaboração entre pesquisadores de diferentes instituições de ensino e pesquisa brasileiras e internacionais, apontam que, para o município de Curitiba, o Rt baseado em número de casos suspeitos e graves para a COVID-19 obtido a partir da base SIVEP-Gripe em 06/09 estava compreendido entre 0,75 e 1,29, sendo o valor médio calculado para esse dia de 1,02. Assim, dentro do intervalo de confiança da estimativa, a pandemia no município está estável sem um viés claro de declínio ou expansão.
Estes números, tomados em conjunto, indicam que a COVID-19 pode estar caminhando para um lento declínio, mas ainda não está controlada em Curitiba, no NUC da região metropolitana de Curitiba ou no Estado do Paraná uma vez que o número de casos diários é muito alto, bem como a taxa de positividade dos testes. Considerando o limite superior das estimativas, dentro do intervalo de confiança para os valores de Rt, ainda não se descarta a possibilidade de estar havendo crescimento exponencial, mas é mais provável um lento declínio. Até a data de 18/09/2020, de acordo com os dados da SESA, o Paraná contabilizava 4.024 mortes em decorrência da COVID-19, sendo 1.176 mortes na cidade de Curitiba.
O declínio no número de casos e mortes pode estar relacionado ao uso obrigatório de máscaras em ambientes públicos, às mudanças de hábitos da população relacionados à higiene e de distanciamento entre pessoas em ambientes públicos, bem como ao maior número de contaminados que estão imunes após recuperação. A pesquisa realizada pelo Prof. José Paulo Guedes Pinto da Universidade Federal do ABC e publicada no site Medrxiv (https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.08.11.20173039v1) traz a hipótese de que para a cidade de São Paulo, bolhas de proteção locais (onde a disseminação do vírus é freada pelo fato de novos infectados estarem rodeados de indivíduos imunes, dentro de um pequeno círculo de convivência de pessoas) podem estar contribuindo para o declínio da curva de contaminados e de mortos pela COVID-19, a despeito da diminuição contínua no índice de distanciamento social nessa capital. De acordo com os autores, nessas bolhas haveria uma relativa diminuição local e temporária da disseminação do vírus, mas que seria instável, devido ao fato de haver no momento baixo percentual de indivíduos imunes, de acordo com os inquéritos sorológicos da cidade de São Paulo; e avaliam que ao se diminuir mais drasticamente o distanciamento social, o vírus pode ser reintroduzido em outros locais com menos pessoas imunes, formando novas bolhas e renovando o crescimento da curva de contaminados e de mortos.
CONCLUSÃO
O número efetivo de reprodução calculado por diferentes grupos de pesquisa tem ficado igual ou levemente inferior a 1,0, indicando que pode estar caminhando para um lento declínio da COVID-19 no Paraná. No entanto, o decréscimo lento do número de casos, mantendo a curva em um platô de número alto de novos casos diários, indica que qualquer alteração das medidas adotadas até o momento que levem a maior flexibilização do distanciamento social poderá levar rapidamente à elevação da curva de incidência da COVID-19 na cidade de Curitiba, no NUC da região metropolitana de Curitiba e no Estado do Paraná. Por outro lado, com as atuais medidas adotadas, o cenário não aponta para uma diminuição mais rápida do número de novos casos diários.
A Comissão também decide manter as seguintes recomendações anteriores:
Referências (links):
https://ufpr.br/noticias/comissao-da-ufpr-lanca-nota-tecnica-atualizada-sobre-pandemia-do-novo-coronavirus/
https://covid19br.github.io/index.html
https://www.bmj.com/content/370/bmj.m3365
https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.08.11.20173039v1
https://ethics.harvard.edu/files/center-for-ethics/files/ttsi_technical_advice_handbook_2.0_june_30_2020_final.pdf
http://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Coronavirus-COVID-19
http://www.saude.sp.gov.br/cve-centro-de-vigilancia-epidemiologica-prof.-alexandre-vranjac/areas-de-vigilancia/doencas-de-transmissao-respiratoria/coronavirus-covid-19/situacao-epidemiologica
https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/saude/vigilancia_em_saude/index.php?p=295572
http://www.coronavirus.pr.gov.br/Campanha/Pagina/TRANSPARENCIA-Enfrentamento-ao-Coronavirus-3
https://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/decretos-amparam-medidas-de-combate-ao-coronavirus/55390
https://mapabrasileirodacovid.inloco.com.br/pt/?hsCtaTracking=68943485-8e65-4d6f-8ac0-af7c3ce710a2%7C45448575-c1a6-42c8-86d9-c68a42fa3fcc
https://www.inloco.com.br/faq-covid-19
http://www.comec.pr.gov.br/FAQ/Municipios-da-Regiao-Metropolitana-de-Curitiba
www.leg.ufpr.br
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