Pela primeira vez, a juventude negra é maioria nas universidades públicas do Brasil. De acordo com o estudo “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça”, lançado em novembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população entre 18 e 24 anos representa 50,3% das matrículas feitas nas instituições públicas de ensino superior, em 2018. No meio estudantil, os coletivos negros abordam diversos temas sobre a cultura e negritude no ambiente universitário. Palestras, feiras, apresentações culturais e rodas de conversa reforçam a luta por uma educação descolonizadora.
“Superamos expectativas todos os dias. Se você sabe que a Universidade está promovendo coisas da sua cultura, é uma forma de se sentir visto”, afirma o estudante de Economia da UFPR Weslley Leonardo Garcia, do coletivo Frente Negra. A formação destes grupos culturais é um dos elementos da luta pelo protagonismo negro em espaços tidos como privilegiados. Segundo o professor Paulo Vinicius Baptista da Silva, superintendente de Inclusão, Políticas afirmativas e Diversidade da UFPR, a presença negra nas universidades é resultado de políticas integrativas implantadas nas instituições. “Esse dado [do IBGE] é impactado pela política de cotas e expansão da universidade, principalmente para regiões carentes”, comenta.
No meio estudantil, coletivos negros abordam diversos temas sobre a cultura e negritude no ambiente universitário. Fotos: Leonardo Betinelli/Sucom-UFPR
Além de atuar de forma independente, os grupos também caminham em conjunto com iniciativas da própria UFPR. Setores como a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec), a Superintendência de Inclusão, Políticas afirmativas e Diversidade (Sipad) e o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab) estão entre os parceiros que desenvolvem projetos e eventos com a temática afro na Universidade. Em novembro, uma programação especial no mês da Consciência Negra abordou cultura e representatividade com exposições, saraus, feiras culturais, debates, seminários, mesas-redondas, palestras, exibição de documentário e cardápios típicos nos restaurantes universitários.
Militância e esfera cultural
O Coletivo Frente Negra UFPR nasceu em 2015 e promove a organização de estudantes no movimento negro, abordando as especificidades da juventude no ensino superior. A formação e empoderamento fazem parte da luta diária contra o racismo no espaço universitário. O estudante de Economia Weslley Leonardo Garcia faz parte do coletivo e acredita que a formação de outros coletivos assegura a integração dos alunos em torno da representatividade. “Quanto maior a proximidade entre os alunos, temos diferentes visões, um debate ampliado com questões como saúde negra, moradia, política de cotas. Essa integração é importante pra resolver esses gargalos na sociedade”, comenta.
As atividades da Frente Negra também se estendem à Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). O coletivo Enedina Alves, primeira engenheira negra do Brasil e formada na UFPR, trabalha desde 2016 e reúne alunos para estudos sobre negritude, entre outras atividades. “A relação do coletivo Enedina com a Frente Negra é a ideia de expandir atividades, e não centralizar apenas no mês da Consciência Negra. Essa junção acontece no suporte de eventos, divulgação, compartilhamento de agendas e ideias”, afirma Evelyn Santos da Silva, estudante de licenciatura em Letras e coordenadora do coletivo.
“O coletivo funciona como forma de acolhimento, um auxílio para que as pessoas possam se encontrar como uma pessoa negra, com seus direitos”, estudante Lucas Daniel de Lima (à esquerda)
Criado em 2019, o “Comunica Black” é o primeiro coletivo negro que reúne estudantes do Setor de Artes, Comunicação e Design (Sacod) da UFPR. Investindo em encontros de formação e ações culturais, o grupo promove discussões sobre a integração do aluno na comunidade acadêmica. “O coletivo funciona como forma de acolhimento, um auxílio para que as pessoas possam se encontrar como uma pessoa negra, com seus direitos”, conta Lucas Daniel de Lima, estudante de Jornalismo e membro do Comunica Black.
A participação no coletivo também é vista como forma de estudar sobre o contexto histórico da presença negra no espaço universitário. Os integrantes do Comunica Black têm encontros para a leitura e discussão de textos relacionados à negritude. Os eventos culturais trabalham a origem afro na música, literatura e cinema. “Todas essas referências são do universo negro, na direção de um filme, na composição ou na poesia. Os encontros expressam nossas referências culturais”, afirma Lucas.
Atuação permanente e expandida
“A atuação dos coletivos culturais deve ser permanente e expandida em outros espaços. A gente quer que isso seja cada vez mais incorporado ao cotidiano da Universidade”, pró-reitor Leandro Gorsdorf. Foto: Marcos Solivan/Sucom-UFPR
O Plano Institucional de Cultura da UFPR (PIC/UFPR) é um documento que visa promover a igualdade através da educação e cidadania, reconhecendo a pluralidade e diversidade que envolvem a Universidade. A iniciativa da Proec procura definir o que se entende por cultura a partir da comunidade acadêmica. Por meio de questionários online e consulta direta, o Plano estabelece ações culturais para os próximos dez anos levando em conta o ensino, pesquisa e extensão.
O pró-reitor de Extensão e Cultura da UFPR, Leandro Gorsdorf, acredita que a atuação dos coletivos culturais deve ser permanente e expandida em outros espaços, indo além de eventos específicos. “A gente quer que isso seja cada vez mais incorporado ao cotidiano da Universidade. O nosso desafio é como fazer com que essa articulação permeie outros campi, como no Litoral e interior do Paraná”, destaca.
Com o objetivo de fortalecer as ações afirmativas, o Núcleo de Pesquisa de Relações Raciais, Ciência e Tecnologia (Nupra) promove a formação relacionada às práticas acadêmicas dos estudantes na UFPR. Inaugurado em 2018, o núcleo mantém debates sobre as relações raciais na Universidade, como o incentivo à participação de alunos afrodescendentes e de escolas públicas na ciência e tecnologia, além de ciclos de estudos voltados à comunidade externa.
Clique aqui e assista à transmissão de uma entrevista sobre o Mês da Consciência Negra no programa Volume UFPR, produzido pela Agência Escola de Comunicação Pública e Divulgação Científica e Cultural da UFPR em parceria com a rádio UniFM.
Por Luiz Fernando Hanysz
Sob supervisão de Chirlei Kohls
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