A ação Pergunte aos Cientistas, da Agência Escola UFPR (AE), completa quase dois anos de atuação. Lançada no início da pandemia de Covid-19 no Brasil, em março de 2020, a série de reportagens recebe perguntas da sociedade, que são respondidas por cientistas da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Até o momento, já foram esclarecidas 316 dúvidas da população, que vieram de moradores de 14 estados e do distrito federal de todas as cinco regiões brasileiras e também de outros países: Portugal, Inglaterra e Paraguai.
Uma das perguntas veio de Gecione Rocha, da cidade de Parnamirim no Rio Grande do Norte. Buscando entender a relação das mulheres que querem engravidar com as vacinas contra a Covid-19, estava pesquisando na internet, até que encontrou uma das matérias da ação no site da Agência Escola. Para a psicóloga, a experiência com o Pergunte aos Cientistas foi positiva. “Foi muito importante [receber a resposta], principalmente quando consideramos o contexto que foi o início da vacinação, em que circulavam muitas notícias falsas”, conta.
Ao longo dos últimos dois anos a ação abordou temas diversos relacionados à pandemia, como vacinação, cuidados, volta ao ensino presencial ou híbrido nas escolas, fake news durante a crise sanitária, vacina desenvolvida pela UFPR, entre outros.
Para Regiane Ribeiro, coordenadora da Agência Escola UFPR, o Pergunte representa um sucesso para a AE, já que consegue dialogar melhor sobre conteúdos científicos com os públicos de fora da Universidade. “A série vai ao encontro do conceito que defendemos enquanto Agência, o de Comunicação Pública da Ciência. O caráter de responder aos problemas cotidianos da população torna o Pergunte aos Cientistas tão importante para nós”, afirma.
As dúvidas da sociedade sobre prevenção, contaminação e outros diversos assuntos relacionados à Covid-19 foram respondidas por 42 cientistas da UFPR de diferentes áreas do conhecimento. Entre eles, o pesquisador Emanuel Maltempi de Souza, professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular e presidente da Comissão de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19 da UFPR.
“A característica do Pergunte que mais me chama a atenção é que o formato permite interação entre cientistas e a sociedade. Não é uma via unidirecional para levar informações para a sociedade”, afirma o professor. “Parece um detalhe, mas não é. O exercício pleno da cidadania implica também em ter nossas dúvidas especificamente abordadas, e não apenas acesso à informação pasteurizada que os especialistas acham necessárias”, acrescenta.
A pesquisadora Alexandra Acco, do Departamento de Farmacologia da Universidade, também integra a equipe de cientistas que responde às perguntas da sociedade desde o início da pandemia e ressalta a importância de conversar sobre ciência. “A importância da ciência nunca foi tão clara quanto em meio a esta crise sanitária, na qual muitas informações científicas sobre diferentes aspectos da pandemia foram geradas em um curto espaço de tempo. A disseminação de informações falsas sobre saúde coloca vidas em risco, então combatê-las é um dever de quem produz ciência”.
Para participar, basta enviar a dúvida para o e-mail agenciacomunicacaoufpr@gmail.com ou redes sociais da AE (Facebook, Instagram ou Twitter), com nome completo, idade, profissão e cidade onde reside. As perguntas são selecionadas pela equipe de Jornalismo, que busca as respostas com pesquisadores da Universidade. As dúvidas e os respectivos esclarecimentos dos cientistas são publicadas em reportagens no site e redes sociais da Agência Escola e no portal UFPR e também enviadas como sugestão de pauta à imprensa.
Compartilhar conhecimento
Assim como Gecione Rocha, Eliane Américo, que mora em Valparaíso de Goiás, também descobriu a série através de pesquisas na internet. Ao longo dos quase dois anos de Pergunte aos Cientistas, a orientadora educacional enviou três perguntas para a ação, relacionadas à limpeza de produtos do mercado, alimentos e pisos da casa, ao uso de máscaras e às vacinas disponíveis contra a Covid-19.
Segundo Eliane, a série fez com que a ciência chegasse à sua casa. “Eu nunca tive acesso aos cientistas brasileiros, mas, com o Pergunte aos Cientistas, pude ter acesso real a eles, que explicaram por meio das respostas o que a ciência dizia”.
Compartilhar conhecimento, porém, não beneficia somente a sociedade. Para a professora Patrícia Dalzoto, do Departamento de Patologia Básica, que também participa da ação, comunicar ciência para pessoas de fora da bolha acadêmica foi um grande aprendizado. “Quando se fala de um assunto que suscita muitas dúvidas, sobre o qual há muitas notícias falsas, é preciso responder de forma que a sociedade compreenda. É diferente de uma aula e isso representou um desafio para mim, tornar a informação compreensível sem deixar de ser estritamente correta”.
A seguir, confira as perguntas enviadas para a ação em dezembro, que foram respondidas pela professora Patrícia e também pelo professor Talal Suleiman Mahmoud, do Centro de Estudos do Mar, no Campus Pontal do Paraná.
Outras perguntas
“Seria possível que os não vacinados devido a pouca resistência natural do ser humano à Covid-19, que facilita o vírus a atingir todo seu potencial nocivo no organismo humano, estejam gerando as novas variantes potentes?” (Marcos José dos Santos Neto, 52 anos, professor, Brasília/DF)
Patrícia Dalzoto, cientista UFPR – Olá, Marcos! Na verdade, os não vacinados permitem que o vírus circule e se multiplique. Então, certamente, as pessoas que não tomaram as duas doses da vacina estão ajudando a disseminar o vírus. À medida que o vírus se multiplica, aumenta a chance de que seu material genético (RNA, neste caso) sofra mutações e, por isso, vemos novas variantes surgindo. O que determina se uma variante é de preocupação é a sua capacidade de transmissão, principalmente pelo aumento da afinidade com os receptores das nossas células. Mas, é importante salientar que nem sempre uma variante que tenha alta disseminação levará a casos mais graves de Covid-19.
“Eu tomei a minha primeira dose da Pfizer em julho, e a segunda em setembro (dia 10), seguindo a agenda da minha cidade, segundo a idade. Tenho agora a oportunidade de tomar a terceira dose (Pfizer), antes de três meses completados, devido a uma mudança no meu trabalho que me oportunizou o acesso prioritário. Devo tomar agora ou aguardar os cinco meses indicados pela agenda normal? Como isso interfere na eficácia da proteção?” (Hugo Prudente da Silva Pedreira, 33 anos, antropólogo, residente em Santarém-PA)
Patrícia Dalzoto, cientista UFPR – Olá, Hugo. O intervalo entre a segunda dose e a dose de reforço no Brasil é de cinco meses. Porém, em São Paulo, estabeleceu-se que o intervalo seja reduzido para quatro meses. Em outros países, como França, Portugal e Estados Unidos, o tempo entre as doses fica em torno de cinco e seis meses.
Acredita-se que é importante esperar esse período para que o sistema imune responda melhor à dose de reforço. Mas a ciência é dinâmica e, à medida que os estudos vão apresentando resultados, esse intervalo pode ser modificado. O surgimento de novas variantes (como a ômicron) pode levar a uma atualização das vacinas, de modo que contemplem as mutações novas.
“Sou professora e trabalho em uma escola estadual do Rio Grande do Sul. Estou pesquisando sobre o reaproveitamento de máscaras descartáveis que estão sendo usadas contra a Covid-19. Surgiu o questionamento se seria possível, após serem lavadas, serem usadas como dreno nos vasos utilizados na horta escolar, substituindo a manta de drenagem.” (Rosângela Martins, professora, RS)
Talal Suleiman Mahmoud, cientista UFPR – Olá, Rosângela. O assunto é bem complexo, mas tentarei ser breve, cabendo algumas análises. Em se tratando de máscaras descartáveis confeccionadas com TNT (tecido não tecido), polímero termoplástico, seu tempo aproximado de vida para degradar na natureza é de 400 anos. Assim, deve-se levar em consideração se a utilização como dreno em vaso não mascararia o seu uso como proteção ao meio ambiente, visto que nenhum vaso ornamental tem essa duração de utilização, e, consequentemente, seu descarte em tempo posterior viria a causar dano ambiental.
Levando em consideração estudos de tempo de vida do vírus, sua permanência em tecidos é de cerca 96 horas, sendo que o simples manuseio produz risco, necessitando com isso toda uma série de protocolos de segurança, que devem ser seguidos rigidamente. As máscaras descartáveis são um problema para o meio ambiente, sendo correto em seu descarte o acondicionamento em saco de plástico, que indique que ali constam máscaras descartáveis para evitar possível contaminação de quem manuseia o lixo – apesar de irem para aterro normal, não exigindo tratamento específico. A utilização das máscaras descartáveis tem sido pensada em forma de sua utilização em situações mais duráveis, como se tem conhecimento na utilização de material triturado em pisos rodoviários, ou até mesmo em blocos de concreto. É um problema que o mundo já está sentindo e fico extremamente feliz em saber que pessoas como a professora estão preocupadas com a situação de descarte das máscaras.
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Por Isabela Stanga
Sob supervisão de Chirlei Kohls
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