Projeto da UFPR que oferece aulas de português para migrantes, refugiados e apátridas em situação de vulnerabilidade completou 12 anos em 2025
Por Bruna Soares e Luana Lopes
No último sábado (29), estudantes e professores do projeto de extensão Português Brasileiro para Migração Humanitária (PBMIH), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), celebraram o fim do semestre 2025/2. Neste período letivo, o projeto atendeu 376 estudantes em todos os níveis.
O PBMIH oferece aulas gratuitas de português a migrantes, refugiados e apátridas em situação de vulnerabilidade. As aulas são realizadas aos sábados, das 10h às 12h30, na Reitoria da UFPR, com duração de um semestre letivo e 30 horas de carga horária.
Soumia Takhdate é uma das alunas que se formou neste semestre no nível Básico Iniciante e pretende continuar o curso no próximo ano. Marroquina, Soumia está há dez meses morando no Brasil e diz que aprender o português vai ajudá-la a se comunicar na cidade.
“A aula é muito boa, e os professores são prestativos e explicam as coisas de uma maneira boa e gentil”, afirma. “Planejo aprender o idioma e trabalhar aqui ou abrir meu próprio negócio”.
O cubano Yamil Rodríguez Guzmán está há mais de dois anos no Brasil e já passou por uma série de ofícios: carga e descarga, restaurantes, construção, motoboy e também trabalho em altura, profissão que ele já atuava em Cuba. Yamil fez o teste de nivelamento no início do semestre e já ingressou na turma avançada; ele conta que o PBMIH o acolheu com respeito, carinho e gentileza desde o primeiro dia.

“O curso foi magnífico, os professores excelentes. Às vezes fico até triste por ter terminado tão rápido, porque me senti como na época em que eu era estudante e adorava assistir a aulas ministradas por esse tipo de professor que ensina com amor, com aquele desejo genuíno de ajudar, de oferecer ferramentas para um melhor desempenho na vida. O curso me ajudou a ter mais confiança para falar, escrever e expressar o que penso, sem vergonha do meu sotaque ou das palavras que ainda não conheço”, relata.
Yamil destaca que conviver com outros migrantes foi uma experiência que o marcou muito durante o período do curso, ouvindo seus relatos de adaptação no país.
“Foi enriquecedor conhecer mais das culturas individuais de cada um em seus contextos: suas histórias, como viviam em seus países, como conseguiram sair, como estão construindo suas vidas aqui, seus planos, metas e experiências. Ouvir outras pessoas contarem suas histórias é algo que me apaixona desde pequeno; a gente aprende muito e ganha muitas ferramentas para também contribuir com os outros”.
Migrantes e refugiados interessados em ingressar no PBMIH no próximo semestre podem fazer a pré-inscrição neste link: https://forms.office.com/r/ZZeRfZSnMP. O preenchimento do formulário não garante vaga; o projeto depende de disponibilidade de professores e salas.
Após o preenchimento do formulário e mediante a disponibilidade de vaga, o aluno inscrito receberá em 2026 um e-mail convite contendo a data e o local da aplicação da prova de nivelamento, necessária para a efetivação de sua matrícula. Após a realização da prova, será enviado um e-mail de confirmação de matrícula contendo a data e as demais informações a respeito do início das aulas, e do nível para qual foi o aluno foi designado.
O projeto surgiu em 2013, diante do aumento do fluxo migratório haitiano para o Brasil. “A primeira turma foi aberta em novembro daquele ano. Começamos após reuniões com a OAB, com ONGs e com lideranças haitianas. Era uma demanda urgente”, explica o professor João Arthur Pugsley Grahl, coordenador do PBMIH e docente da área de francês na UFPR. O curso, que inicialmente atendia haitianos, logo passou a receber também sírios e, hoje, migrantes de diversas nacionalidades, como venezuelanos, cubanos, sudaneses e egípcios.
O curso é dividido por níveis de proficiência, com base no Celpe-Bras, indo do Básico Iniciante (A0) ao Avançado (C1). Também há uma turma de letramento para migrantes em processo de alfabetização, além de duas turmas voltadas para crianças e adolescentes migrantes, o que permite que pais e filhos participem simultaneamente. As inscrições são feitas online, com teste de nivelamento no início de cada semestre.
“O ensino é centrado no uso do Português Brasileiro como Língua de Acolhimento, valorizando práticas comunicativas reais, os saberes dos próprios migrantes e o acolhimento linguístico como um direito humano. A proposta é desenvolver o idioma em contextos de interação social, com sensibilidade às vulnerabilidades e à diversidade cultural dos estudantes”, afirma David Severo, bolsista do PBMIH e doutorando em Estudos Linguísticos na UFPR. David também leciona no nível avançado do projeto de extensão.

A equipe é formada por cerca de 20 professores — entre bolsistas e voluntários, todos vinculados à UFPR, em sua maioria estudantes da graduação em Letras. O projeto é orientado pelos professores João Grahl e Taísa Barbosa Robuste, vice-coordenadora e professora no setor da Educação da UFPR, ambos acompanham o desenvolvimento dos materiais e da metodologia. No primeiro semestre de 2025, foram quase 300 migrantes atendidos, com lista de espera. A participação no curso pode contar como critério para processos de naturalização, exigindo frequência mínima de 75%, nota igual ou superior a 70 e desempenho em entrevista na Polícia Federal.
Além do ensino de português, o PBMIH integra ações maiores da universidade voltadas à permanência e inserção social de migrantes. O projeto articula iniciativas de diferentes áreas como Direito, Psicologia, Saúde e História, e resultou na criação de políticas institucionais que possibilitam o ingresso de migrantes em cursos de graduação e pós-graduação da UFPR.
“A universidade conseguiu transformar esse atendimento emergencial em uma política sólida. E os resultados aparecem: temos casos de migrantes que fizeram o curso, se formaram na UFPR e hoje são profissionais atuantes no Brasil”, destaca o professor João.
Entre os relatos de sucesso no PBMIH, estão o de uma refugiada síria, a primeira mulher nessa condição a se formar em Arquitetura em uma universidade pública brasileira, e o de um haitiano que concluiu a graduação e o mestrado em Direito na UFPR. Segundo David, esses resultados continuam: “Recentemente vimos uma migrante venezuelana começar uma especialização no IFPR após terminar o curso de português, e um outro venezuelano que validou o diploma e foi aprovado na OAB. O PBMIH ajuda essas pessoas a reconstruírem suas vidas com autonomia”.
Outro exemplo é o de Calixte Demo, nascido na República Dominicana e filho de pais haitianos, que chegou ao Brasil em 2014. “Ainda naquele ano, iniciei o curso de português na UFPR, mas precisei interromper para me mudar para São José dos Pinhais. Entre 2023 e 2024, retornei e concluí o curso, passando do nível Intermediário 2 para o Avançado, com aulas de produção textual e escrita. Foi uma experiência muito enriquecedora. Estudei com colegas da Venezuela, de países africanos e do Haiti, e sempre finalizávamos as etapas com confraternizações especiais. Hoje sou estudante de Engenharia Civil na UFPR, com formatura prevista para dezembro de 2025. O curso de português foi decisivo para minha adaptação, formação e crescimento pessoal e profissional”, relata.

Essas histórias estão registradas no livro Movimentos, Memórias e Refúgios: ensaios sobre as boas práticas da Cátedra Sérgio Vieira de Mello (ACNUR) na UFPR, disponível online (acesse aqui).
Com apoio da Reitoria, da Pró-reitoria de Ações Afirmativas e Equidade (Proafe) e da Cátedra Sérgio Vieira de Mello, o PBMIH segue como uma das principais iniciativas de acolhimento linguístico universitário no Brasil. O projeto também atua em parceria com entidades da sociedade civil, como a Cáritas, e com programas acadêmicos como os PET de Informática e História, que oferecem oficinas complementares aos migrantes.
As inscrições e demais informações estão disponíveis no site: pbmih.ufpr.br.
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