Com um boneco feito de madeira de mangue, tecido branco e um crânio de boi, Bedenaque Luís Pedro iniciou o primeiro grupo de boi-bumbá de Antonina, em 1920. Segundo Lídia Luís Pedro, filha de Bedenaque, esse foi o começo do carnaval de Antonina, evento que hoje reúne milhares de pessoas na cidade. Lídia, a uma semana de completar 80 anos, lembra que desde os oito já participava dos desfiles como baliza, aquela pessoa que faz evoluções na frente dos blocos carnavalescos.
O pai de Lídia faleceu e a administração do grupo foi transferida para o filho, que por sua vez a passou para a irmã Laura, que nomeou presidente a irmã Lídia. Hoje quem administra o bloco não é mais da família, é Lauro dos Santos, o atual presidente do bloco. Ele diz que as pessoas entram no grupo porque gostam muito da tradição e têm recordações da infância. “Esse tipo de coisa não pode ter modernização, senão perde as características que as pessoas conheceram quando criança”, defende ele.
O nome original do grupo era Boi Barroso, mas dois anos depois de seu início foi rebatizado de Boi do Norte. Em 2007 o grupo se dividiu em dois: uma parte manteve o nome Boi do Norte, enquanto a outra recuperou o antigo nome de Boi Barroso e ficou com a sede no centro da cidade. Hoje o primeiro está temporariamente na estação ferroviária de Antonina, onde a vice-presidente Alexsandra Torres pode ser encontrada costurando figurinos para o carnaval e eventos que acontecem durante o ano. Ela conta que o boi sai às ruas para fazer a apresentação folclórica do boi-bumbá ou que diferentes temas são explorados. Quando são convidados por escolas para fazer apresentações para os alunos, um tema específico como o meio ambiente geralmente é definido. O bloco é composto por 40 pessoas durante o ano, mas durante o carnaval tem cerca de 300 pessoas.
Alexsandra acha graça nas pessoas que se referem ao grupo do Boi do Norte como “boi pobre”, já que convida moradores de rua e catadores de material reciclável para desfilar no carnaval. “O dia do desfile é aquele em que todos são iguais, quem assiste não consegue diferenciar quem é rico ou quem é pobre”, descreve ela. Lauro argumenta que o bloco não existe só no carnaval: ”É no ano inteiro, a gente faz muito trabalho voluntário, fazemos isso por amor e não cobramos nada de ninguém. O grupo já é do povão”. Além de ser presidente do grupo de boi-bumbá, Lauro é presidente da associação de moradores do bairro, é funcionário da prefeitura e tem uma barraquinha de cachorro-quente.
O folclore do boi-bumbá
O boi-bumbá teve origem na invasão das terras de um fazendeiro por um boi. Num ataque de raiva o homem resolveu matá-lo, sem saber que o boi não era apenas um animal de criação, mas de estimação. O dono, muito triste com a morte do bicho fez de tudo para ressuscitá-lo, até chamou um médico acompanhado de uma enfermeira, interessados em lucrar com o sofrimento do homem. “A enfermeira é muito louca, diz que fez enfermagem por correspondência”, conta Alexsandra. Como remédio para reanimar o boi, eles lançaram mão de recursos variados, como uma mandinga e as estripulias de um palhaço. Para a infelicidade do dono do boi, nada disso surtiu efeito, até que ele se lembrou de uma coisa que costumava agradar muito ao animal: música e cantoria, famosas por curar todos os males. Foi assim que o boi se recuperou e voltou a trazer alegria para seu dono. Os personagens são fixos: o boi, o seu dono, o dono das terras invadidas, o médico, a enfermeira, o palhaço, o pássaro nanico, as deusas. Alguns elementos são obrigatórios, como a bateria, os figurinos de calça xadrez e chapéu, o carro alegórico, e o boi gira e roda, dança como quem avança nas pessoas.
O boi pesa cerca de 50kg e os integrantes do Boi do Norte brigam para não ser a pessoa que o carrega. “Quando o boi morre, a pessoa que carrega fica uma hora lá no chão, debaixo da fantasia quente e sem poder se mexer”, declara um designado Lauro. Como presidente do bloco, a posição recaiu automaticamente sobre ele, que tem levado o boi há vários anos. O boi tradicional é branco, construído em madeira, e a cabeça é feita de osso bovino revestido de pelúcia. Já o segundo boi pode ser de outras cores e de material reciclado e leve.
Já o pássaro Nanico é branco, de bico amarelo e se ocupa em importunar as pessoas. Um dia Nanico vinha passando pela frente de uma casa enfiou a cabeça pela janela, só que dentro da sala havia uma menininha, que levou o maior susto da vida ao se deparar com um pássaro gigante dentro de casa. “Ela passou anos com medo de se aproximar dele durante as passagens do boi pela cidade”, ri Alexsandra enquanto conta a história. Ela ressalta que a “farra do boi” diminuiu, porque antigamente o boi costumava perseguir as pessoas como um touro bravo e na correria alguém sempre se machucava. “A gente diminuiu muito isso principalmente por causa das crianças, que gostam tanto das nossas passagens”, diz ela.
Oficina de Cantinas e Danças Populares
Dodô Bertone, ministrante da oficina “Cantigas e danças populares”, conta as diferenças entre o boi-bumbá e o bumba-meu-boi. “O bumba-meu-boi é tradicional do Maranhão e apesar de ter vários personagens em comum, é diferente das outras histórias de bois do sul do país”, compara ela. Alguns dos personagens que se repetem são o médico, a enfermeira, o palhaço, além do boi. Mas a principal história do Maranhão é sobre Catarina, empregada de uma fazenda que sente desejo de comer a língua do boi favorito do patrão. Ele recusa o pedido de matar o animal, e ela e o marido roubam o animal para lhe cortar a língua. O dono o encontra desfalecido, e tenta acordá-lo com a ajuda do médico e da enfermeira. Esse boi também renasce quando escuta música.
A oficina vai trabalhar vários tipos de dança popular por meio do estudo da história e dos passos das danças, e vai tratar do folclore dos bois na quinta e sexta-feira da semana do Festival.
Foto(s) relacionada(s):
O tradicional boneco de corpo branco tem cabeça de crânio de boi e pesa cerca de 50kg
Foto: Guilherme Souza
Fonte: Juliana Blume
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