A produção de álcool no Brasil passou de 15,8 bilhões de litros na safra 2005-2006, para 27,7 bilhões neste ano, conforme dados preliminares do Ministério da Agricultura. Principal motivo: os carros flex, que em 2008 representaram 87,5% das vendas de veículos no país.
Há 34 anos, em 1975, o governo brasileiro criava o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), com o objetivo de amenizar as sucessivas crises do setor açucareiro e reduzir a dependência do petróleo importado.
Estima-se que, nas últimas três décadas, o uso do etanol em substituição à gasolina tenha promovido uma economia equivalente a mais de um bilhão de barris de petróleo.
O Brasil é hoje o maior produtor de etanol a partir da cana-de-açúcar. Desenvolveu uma tecnologia própria e vem aumentando a produtividade. Na década de 70, a indústria sucroalcooleira produzia 3,2 mil litros de álcool por hectare. Hoje, produz 6,6 mil litros.
Além do fato de ser uma fonte renovável — ao contrário do petróleo, cujas reservas têm perspectiva de esgotamento e podem não atender a demanda nas próximas décadas —, o etanol permite importante redução de emissões de gases de efeito estufa (CO², em especial).
Mais de 45% de toda a energia consumida no Brasil provém de fontes renováveis. Nos países desenvolvidos, a média não chega a 15%.
“Além de ser uma fonte de energia limpa e renovável, os biocombustíveis causam menos corrosão de equipamentos, descentralizam a renda, reduzem a dependência de petróleo e têm baixo custo de implantação e manutenção”, explica a professora Leda Maria Saragiotto Colpini, coordenadora do recém-criado curso superior de Tecnologia em Biocombustíveis da UFPR, em Palotina.
“No Brasil e particularmente no Paraná, onde há grande atividade agropecuária, o potencial para a produção de biocombustíveis é grande.”
Energia x alimentos
Movimentos sociais ligados ao campo, entre eles o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), questionam o impacto dos biocombustíveis na produção de alimentos e no meio ambiente.
“A soberania energética não poderá ser alcançada em detrimento da soberania alimentar”, diz trecho de carta entregue pelos movimentos ao governo federal em novembro de 2008. O documento aponta “condições degradantes” de trabalho e utilização de mão-de-obra escrava nos canaviais, contaminação do ambiente, redução da biodiversidade; e concentração fundiária, o que fragilizaria ainda mais os programas de reforma agrária.
Outra crítica, mais recorrente no exterior, insinua o risco de áreas da Amazônia serem transformadas em canaviais.
O governo rebate com dados da Companhia Nacional de Abastecimento, segundo os quais a safra 2007-2008 de cana-de-açúcar ocupava 6,6 milhões de hectares, o equivalente a 10% da área cultivada do país. E ainda seria possível incorporar mais 100 milhões de hectares aos 62 milhões hoje ocupados pela agricultura brasileira, sem desmatar florestas virgens.
“O Brasil tem tecnologia própria, e de ponta, tanto para a produção e industrialização da cana-de-açúcar como tecnologia para produzir e implantar as indústrias de açúcar, álcool e biodiesel”, afirma o professor Armando João Dalla Costa, coordenador do Curso de Ciências Econômicas.
“Em função disso e da área disponível é possível produzir, no Brasil, tanto biocombustíveis como aumentar a produção de alimentos, sem que uma atividade tenha implicâncias sobre a outra.”
Biodiesel
A exemplo da produção do etanol e da cana-de-açúcar, o Brasil reúne condições ideais para se tornar um grande produtor mundial de biodiesel. Afinal, dispõe de extensas áreas agricultáveis e de solo e clima favoráveis ao plantio de oleaginosas, entre elas mamona, dendê, girassol, babaçu, soja e algodão.
Em 2004, o Governo lançou o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel. A partir do próximo mês de julho, o óleo diesel vendido no país deverá conter 4% de biodiesel.
Com a mistura, a produção de biodiesel deverá subir de 1,2 bilhão, em 2008, para 1,8 bilhão de litros neste ano.
Em 2008, por exemplo, o uso do biodiesel representou uma economia de US$ 1 bilhão nas contas externas do País. O Brasil deixou de importar 1,1 bilhão de litros de diesel.
“O Paraná, como o Brasil todo, segue sem ter conseguido incorporar, de maneira significativa, a agricultura familiar na produção de biodiesel”, observa Dalla Costa. “Seria preciso uma diversificação maior no uso de matérias-primas alternativas, uma vez que as mais utilizadas até o momento, como a soja, são típicas de grandes propriedades.”
Novo mestrado
No último mês de abril, o governo do Paraná autorizou a formalização de um termo de cooperação técnica entre as cinco universidades estaduais, a UFPR, a UTFPR, o Tecpar, o Iapar e a Embrapa para criar o Programa de Pós-Graduação (Mestrado) em Bioenergia.
“Como não há nenhum programa similar no Estado, a implantação deste curso terá grande importância para congregar iniciativas locais e fomentar o intercâmbio técnico e científico na área de bioenergia”, declara o professor Luiz Pereira Ramos, do Departamento de Química da UFPR.
“Haverá um aumento significativo da inserção do Estado em área considerada absolutamente estratégica para o desenvolvimento sustentável do país.”
Resíduos da cana
A UFPR, em parceria com o Centro de Tecnologia Canavieira, de Piracicaba (SP) e a fabricante de enzimas industriais Novozymes Latin America, instalada em Araucária (PR), participa de uma pesquisa de desenvolvimento de etanol de segunda geração, fabricado a partir do bagaço e da palha da cana-de-açúcar. O contrato de dois anos prevê o financiamento de 1,6 milhão de euros para a pesquisa, com recursos da União Europeia.
“A universidade será responsável por duas forças-tarefa no projeto, relativas à caracterização das matérias-primas lignocelulósicas a serem empregadas no processo (bagaço e palha) e ao pré-tratamento destas matérias-primas para aumento de suas respectivas susceptibilidades à bioconversão via hidrólise enzimática”, explica o professor Luiz Pereira Ramos, do Departamento de Química da UFPR.
“Acredito que, em dois anos, estaremos muito próximos de oferecer condições para que a viabilidade econômica do processo seja alcançada. Daí a termos unidades comerciais em funcionamento leva um certo tempo.”
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Fonte: Fernando César Oliveira [texto publicado na revista Notícias da UFPR]
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