Treze servidoras da Universidade Federal do Paraná (UFPR) se reuniram para aprender sobre Comunicação Não-Violenta (CNV). No centro do círculo, uma vela acesa, um livro que é referência sobre o tema, um jogo de cartas e alguns cartazes. “O fogo no centro representa o conhecimento: o conhecimento no centro. Ninguém é dono de todo conhecimento. Todo mundo tem algo a aprender e a ensinar”, com essa fala, a ex-aluna de Psicologia da UFPR Gabriela Inácio iniciou a atividade que integrou a programação da 24ª edição da Semana do Servidor.
No centro da roda, um jogo de cartas de sentimentos e necessidades estimulou as participantes a exercitarem a empatia. Fotos: Leonardo Bettinelli/Sucom-UFPR
A oficina “Comunicação Não-Violenta aplicada ao cotidiano” foi realizada no dia 31 de outubro no Anfiteatro do Programa de Pós-Graduação em Ciências Bioquímicas, no Centro Politécnico. O encontro teve o objetivo de introduzir o tema aos participantes, de forma prática. Os quatro componentes da CNV – observação, sentimentos, necessidades e pedido – foram explorados durante as quase três horas em que as servidoras estiveram reunidas.
O método comunicativo tem como proposta oferecer apoio para o desenvolvimento de relações de cooperação. A distinção entre observações e julgamentos e entre sentimentos e opiniões foi apresentada ao grupo. As discussões contemplaram a relevância de desenvolver autoconsciência para compreender as próprias necessidades e empatia para compreender as do outro. A importância de formular pedidos concretos – que nem sempre serão atendidos, mas que podem conduzir a acordos – para expressar desejos, vontades ou necessidades também foi pontuada nas explanações.
A CNV foi sistematizada pelo psicólogo norte-americano Marshall Bertram Rosenberg na década de 60. A teoria parte do pressuposto de que todas as ações tem origem na tentativa de satisfazer necessidades humanas. Olhar sob essa perspectiva, sem acusações, ameaças, juízos de valor, submissão ao medo ou à vergonha, com escuta ativa, compaixão e uma comunicação consciente e a favor da vida são posturas e práticas propostas.
“A não-violência já é um tema bastante antigo – Gandhi, Martin Luther King e várias outras pessoas viviam essa filosofia – que vem do termo ahimsa, que significa ter compaixão a tudo que vive. As pessoas já viviam esses princípios e o Marshall sistematizou como efetivamente seria ter estratégias para conseguir viver em uma prática de não-violência”, informou Gabriela.
Os conceitos foram apresentados ao grupo pela ministrante e vivenciados por meio de diálogos e dinâmicas. “Não é uma fórmula de como falar, mas se trata de como a gente se conecta melhor com as pessoas. Como avançamos nas nossas relações em um lugar de mais verdade, mais significado, mais sentido. O objetivo é mostrar essas possibilidades. Não é uma teoria extensa. Ela é muito simples. Muito rapidamente, ela te convida a praticar esse músculo da comunicação que precisamos fortalecer”.
A oficina “Comunicação Não-Violenta aplicada ao cotidiano” foi realizada no dia 31 de outubro no Centro Politécnico.
No início do encontro, a psicóloga estimulou as servidoras a fazerem o “check-in”: atividade em que os integrantes de um grupo compartilham o estado de espírito ou emocional do momento da chegada – o silêncio foi apresentado por Gabriela como uma possibilidade de expressão. O convite foi aceito e todas falaram. Uma das participantes contou que bateu o carro poucos minutos antes do início da oficina. Outra revelou sua motivação para se inscrever: ser mais gentil com as pessoas. Uma terceira servidora anunciou que deseja atender melhor ao público. Dificuldades para se comunicar com o esposo e a filha também foi um desafio relatado na roda – inicialmente um círculo maior que, com a retirada das cadeiras vazias – por sugestão da ministrante – possibilitou maior proximidade e contato entre as mulheres.
A urgência de falar e a dificuldade em ouvir com presença, com disponibilidade, com abertura para trocas também foram colocadas em pauta. Experimentar o olhar que essa forma de comunicação propõe foi o chamado feito por Gabriela, que acredita ser a não-violência uma filosofia, uma forma de viver. “A comunicação é o eixo principal de conexão com o outro, o que nos torna mais humanos, a linguagem. Esse tema foi super transformador na minha vida e tem um potencial de ser na vida de muitas pessoas que abraçarem isso e praticarem essa verdade”, relatou a egressa da UFPR.
A CNV opera em três níveis que se conectam simultaneamente: intrapessoal, interpessoal e sistêmico. “CNV é essa possibilidade de fazer uma prática de uma comunicação, de uma escuta, de uma vivência no mundo, na relação consigo mesmo, com as pessoas e também um olhar sistêmico de não-violência e de contribuição para que algo se construa, e não o contrário”, afirmou Gabriela. Seu primeiro contato com o tema aconteceu há cerca de quatro anos. Atualmente, atua como facilitadora de grupos e desenvolve treinamentos em Curitiba para motoristas de uma empresa de serviços eletrônicos na área de transporte privado urbano.
Ao final da oficina, ocorreu o “check-out” e as participantes puderam compartilhar aprendizados e percepções. Camila Sandrini, de 30 anos, é secretária do Departamento de Botânica da UFPR e ingressou na instituição há três anos. “Como lido bastante com os professores, acho que seria muito bom saber conversar, evitar conflitos. Achei a oficina muito útil para ser aplicada nas relações cotidianas. Aprendi que devemos escutar mais, procurar entender o que o outro disse antes de tirar conclusões, evitar julgamentos pois não sabemos da história do outro. Desenvolver e exercitar a empatia. Foi uma experiência muito enriquecedora”.
“Os servidores trabalham em um lugar que é, em essência, aprendizagem pura. Poder plantar essa semantinha nesse espaço que já me acolheu e acolhe a tantos é muito significativo por essa possibilidade de fortalecer vínculos e ter uma rede mais fortalecida. CNV é cuidar de si mesmo, cuidar das nossas relações, de como a gente entende nossos sentimentos, nossas necessidades. Acho que isso é essencial pra gente enriquecer esse espaço de trabalho que é a universidade e a vida e a sociedade e a cidade”, finalizou a psicóloga.
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