“Num Brasil desse tipo não basta dizermos que não somos racistas. É preciso ser antirracista. Senão não vamos acabar com o racismo estrutural e institucional que existe nesse nosso país. E é preciso dizer que não teremos uma República se continuarmos a praticar um racismo da maneira como praticamos”. Com essa fala, a antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz foi aplaudida no meio da conferência de encerramento da 11ª Semana Integrada de Ensino, Pesquisa e Extensão (Siepe), que faz parte da programação do 1º Festival UFPR de Ciência, Cultura e Inovação. O público “muito próximo, atento, caloroso e emotivo”, como descreveu a própria pesquisadora e professora da Universidade de São Paulo (USP), quase lotou o Teatro da Reitoria na noite de quarta-feira (25).
A discussão girou em torno das temáticas abordadas por Lilia em seu livro “Sobre o autoritarismo brasileiro”, publicado recentemente, como narrativas históricas, escravidão, racismo, violência, desigualdade, educação e intolerância religiosa, racial, de região, gênero e geração. As ideias foram apresentadas e construídas com exemplos e dados. “São teorias que não estão no passado. Assim como não está no passado a vasta violência nesse país”, disse Lilia durante a conferência lembrando a menina Ágatha Félix, 8, que morreu baleada no Rio de Janeiro semana passada. “Nosso presente anda lotado de passado”, enfatizou.
Conferência de encerramento da Siepe 2019 abordou autoritarismo brasileiro na noite de quarta-feira (25), no Teatro da Reitoria. Fotos: Marcos Solivan/Sucom UFPR
A pesquisadora explicou que o desafio do livro era mostrar que sempre fomos autoritários no Brasil. “Existem questões que estão na raiz da nossa história que explicam esse autoritarismo. Sempre gostamos de nos apresentar como um país harmonioso e pacífico e essa representação externa mudou. Ou seja, agora aparece um Brasil cheio de ódio, um Brasil polarizado”, continuou.
Lilia ainda abordou as narrativas históricas relacionadas à democracia e ao momento atual. “Estamos vivendo uma crise que tem muito a ver com a questão das narrativas. Uma onda conservadora desabou sobre todos nós. O fenômeno não é só nacional. Pelo mundo afora temos vários governos que poderíamos definir como democraduras, que são governos autoritários que supõem que democracia começa e acaba no dia de eleição. Democracia a gente conquista a cada dia, a cada minuto”.
“A sociedade precisa lutar a partir de bandeiras possíveis, como pela educação e ecologia”, antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz
Para a antropóloga e historiadora, há uma guerra de narrativas, com um ataque à produção de conhecimento e à ciência, ao jornalismo e às políticas de gênero. Ela ainda abordou o patrimonialismo (Estado sem distinções entre os limites do público e do privado), a corrupção e a violência como inimigos da República e constantes na história. “Estamos assombrados pelo nosso passado e precisamos reagir ao nosso presente”, disse quase ao final da conferência. Depois, citou o escritor Guimarães Rosa: “o que a vida quer da gente é coragem”. “Muita coragem, viu?”, almejou. Para isso, segundo Lilia, a sociedade precisa lutar a partir de bandeiras possíveis, como pela educação e ecologia.
“São momentos muito importantes e simbolicamente relevantes quando a universidade federal não se amedronta e continua fazendo o que ela mais sabe fazer e faz melhor do que todos, que é um ensino de ponta, uma ciência de vanguarda e o conhecimento para todos”, disse sobre o Festival UFPR.
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Por Chirlei Kohls
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