Programa chega ao 80º episódio com discussões de base científica sobre assuntos complexos para os quais muita gente já tem “opinião formada”. Conheça os bastidores e saiba onde escutar
Você sabia que os brasileiros participaram de não um, mas dois plebiscitos sobre o sistema de governo que preferiam, e nas duas vezes optaram pelo presidencialismo? Já ouviu falar dos “efeitos perversos” que todas as ações sociais podem ter, mesmo as que visam o bem comum?
Todos esses papos fervorosos da política e da sociologia são a matéria-prima do podcast Maldita Politicagem, que é produzido e apresentado por uma equipe de egressos e pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em Curitiba.
De episódio em episódio, postados semanalmente em plataformas de áudio gratuitas, o podcast bateu a 80ª produção neste mês. Nada mal para um programa que começou inspirado nas conversas entre amigos e tomou um rumo de divulgação científica, na intenção de oferecer ao público interessado as discussões sobre política que vão além do noticiário do momento.
O Maldita Politicagem é feito desde 2022 por Alessandro Tokumoto, de 31 anos, doutor em Ciência Política pela UFPR e pesquisador de burocracia estatal e ideologia econômica; Luiz Domingos Costa, de 39, doutorando no Programa de Pós-graduação em Ciência Política (PPGCP) da UFPR nas linhas de elites parlamentares e partidos políticos; e Fabio Tokumoto, de 30, designer gráfico formado pela UFPR.
Temas “debatíveis”
A ideia de produzir o podcast veio da observação de uma ausência, a de um programa sobre ciência política com teor educacional, fundamentado em referências científicas, como já há sobre história, filosofia e ciências exatas. Ao mesmo tempo, o grupo queria que o podcast tivesse um tom de debate descontraído que fosse capaz de se relacionar com o cotidiano da audiência.
“Temos aquele tipo de amizade sustentada por muitas horas de discussões acaloradas sobre política e sociedade. A ideia, além da divulgação científica, era transmitir um pouco dessas conversas para o público mais geral. Por isso, optamos por um modelo mais informal para os episódios que nos permitem”, conta Alessandro.
Assim, a produção de cada episódio passa por um roteiro que gira em torno de um tema xis “debatível” sobre o qual são levantados conceitos e teorias clássicas, bem como considerações de pesquisas recentes. À medida que o podcast avançava nos temas, os produtores foram descobrindo o tom e a identidade ideais para o programa, que ficaram mais sólidos neste ano.
“A grande dificuldade era a linguagem, pois tínhamos que esquecer do estilo de comunicação da universidade”, explica Luiz Domingos.
“A partir de 2023 a gente bolou um arco narrativo mais longo e com mais coisas. Então a gente procura apresentar um conceito, depois oferecemos dados que demonstrem a situação do problema. Em seguida, discutimos controvérsias ou polêmicas no interior da bibliografia e, depois, deixamos o terceiro bloco para o momento de descontração”.
Pioneirismo
A rotina do podcast passa pelo trabalho no roteiro da semana, que fica a cargo de Alessandro e Luiz Domingos. As gravações ocorrem nas noites de sexta-feira. Depois Fábio — que é primo de Alessandro e responsável pela identidade do podcast — passa entre sábado e segunda na edição, dividida neste ano com Matheus Bittencourt, de 26 anos, sociólogo formado pela PUC-PR. Às terças o episódio novo está no ar.
Para montar a identidade do podcast, Fábio buscou referências em movimentos politizados do design gráfico dos anos 1960 e 70. “As ilustrações da capa variam entre colagens digitais e desenhos feitos a mão, quase sempre diretamente inspiradas nos títulos de cada episódio com o objetivo de criar o máximo de impacto possível”, explica.
Em 2023 o podcast furou a bolha de Curitiba e marca 70% de público de fora da cidade. A audiência já ajuda o programa com sugestões de temas.
“Cada vez mais recebemos comentários e, principalmente, mensagens privadas. Felizmente, os casos que extrapolam o bom senso ainda são raras exceções. A grande maioria das mensagens são críticas pertinentes e debates sobre o próprio tema”, afirma Alessandro.
Sendo uma iniciativa que tem seus pioneirismos, o Maldita Politicagem trilha o caminho de apresentar a produção científica sobre política a um público que muitas vezes nem sabe que ela existe.
“Falar de política e temas sociais não é uma tarefa tão facilmente aceita, já que todo cidadão tem uma opinião já formulada sobre grande parte dos acontecimentos. Essa parte é até divertida, mas não são raros os comentários críticos sobre nossas análises”, diz Alessandro.
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