Aos 71 anos, o colombiano Jaime Ortiz Mariño trouxe esta semana a estudantes do Centro Politécnico da UFPR o que mais gosta de fazer: provocar. Em duas palestras, na segunda (4) e na terça-feira (5), o arquiteto e urbanista contou sua experiência como autor, nos anos 70, dos projetos das ciclovias urbanas que são marca registrada de Bogotá. E defendeu o respeito às realidades locais na elaboração de soluções para a mobilidade nas grandes cidades.
Da mesma forma que, há 40 anos, inovou ao apostar em reservar espaço para bicicletas — em uma época em que isso soava como uma negativa ao desenvolvimento e ao urbanismo moderno –, Ortiz Mariño continua um estudioso não óbvio.
Um exemplo: para ele, é importante que as cidades que pretendem reformular projetos de mobilidade não desprezem o transporte individual (carros e motocicletas), mesmo que sua disseminação seja problemática para cidades populosas. Primeiramente, porque, no seu ponto de vista, trata-se de um direito do cidadão. Depois, porque esse tipo de transporte continuará existindo, especialmente com a expectativa de que veículos menos poluidores tomem espaço.
Ortiz Mariño diz não acreditar na clássica frase que apregoa que, nas melhores cidades, os ricos andam de transporte coletivo, enquanto os pobres podem ter carros. Para ele, é importante que o cidadão possa escolher onde e como se locomover, de acordo com sua realidade. “Não podemos dar todo o espaço para os transportes coletivos porque todos têm que se mover bem”, opina. “É preciso resolver todos os problemas, se não estaremos apenas evitando-os”.
O arquiteto ressalta que, no caso de Bogotá, o uso da bicicleta faz parte da cultura local, de forma que as ciclovias trouxeram à luz cidadãos que eram “invisíveis”, geralmente porque eram os mais pobres, e haviam criado suas trilhas de forma “clandestina”. “Na Colômbia todas as casas têm pelo menos uma bicicleta”, afirma. “Tivemos duas gerações de crianças que brincaram de bicicleta na rua e isso criou uma oportunidade.”
Mobilidade “tropical”
Oritz Mariño é um crítico da importação de ideias estrangeiras de mobilidade para implementação em cidades latino-americanas – processo a que chama de “novo colonialismo”. “Não somos iguais, somos tropicais”, diz.
O arquiteto defende pontos de vista “tropicais” para a mobilidade dessas cidades, de forma a respeitar o clima local e para que o termo “tropical” deixe de ser pejorativo. “Não há solução homogênea [para o tráfego urbano], cada país e cidade é um mundo”, afirma. “É preciso haver missão, decisão e técnica.”
Por conta disso, não acredita em soluções como os trens suspensos da China, que à primeira vista parecem ser uma solução para cidades populosas como Bogotá, de 8 milhões de habitantes e já com superfície escassa. Para o arquiteto, esse tipo de solução se mostra ruim para a cidade e para os usuários porque “cria não-lugares”, alheios ao espaço urbano.
Um dos exemplos citados pelo arquiteto de como cidades latino-americanas têm realidades diferentes de cidades-modelo da Europa é a proliferação do uso de motocicletas: “Esse é um problema que teremos que enfrentar em Bogotá e já vejo isso em cidades brasileiras”.
É o caso de Curitiba. Em julho de 2017, havia 125.820 motocicletas circulando na capital, quase 2 mil a mais do que no mesmo mês de 2016. No mesmo período, a frota total de veículos na cidade fez movimento contrário e apresentou redução de 0,72%, de acordo com o Detran/PR. No Paraná, o número de motos em circulação também cresceu: de 1.029.053 para 1.029.053.
Soluções
Ortiz Mariño salienta que, em muitos casos, as soluções não estarão em saídas de engenharia. Ele defende alternativas como a definição do uso das vias de acordo com o horário, uma iniciativa hoje comum nas cidades apenas nos fins de semana. A busca por “solução definitiva” para o trânsito, portanto, nem sempre é o debate correto.
O arquiteto, porém, é incisivo ao avaliar que a melhoria da mobilidade urbana depende de projetos de longo prazo. “Políticas ocasionais não resolvem nada”, define.
Camille Bropp Cardoso
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