Imagem Padrão

Montagem teatral de “O Encalhe dos Trezentos” narra a saga da colonização no interior do Paraná

19 julho, 2017
13:29
Por
Extensão e Cultura

O público lotou o Theatro Municipal de Antonina, na noite de terça-feira(18), para assistir a montagem da peça baseada no conto “O Encalhe dos Trezentos”, de Domingos Pellegrini, que narra a história de um encalhe na estrada de barro e lama entre as cidades de Cianorte e Cruzeiro D’Oeste, no interior do Paraná, final dos anos 50, onde 300 caminhões ficaram atolados durante uma semana de fortes e intermitentes chuvas.

Resultado de imagem para fotos do encalhe dos trezentos domingos pellegrini

Em “O Encalhe dos Trezentos”, a saga da colonização do interior do Paraná

A apresentação de Rafael Camargo mesclou distintas linguagens, combinando os recursos da literatura, teatro e música. Montagem, com texto inédito no teatro, prendeu a atenção da plateia utilizando a técnica dos “contadores de causos”. A direção do espetáculo é de Nena Inoue.

Conheça um pouco mais…

O Encalhe dos 300 começou às seis horas da manhã escura de 11 de agosto de 1958, no atoleiro do Km 60 da Cianorte-Cruzeiro do Oeste, a estrada mais perebenta do Brasil. Um FNM com carga de peroba meteu o peito na lama empoçada e bambeou de lado, as rodas traseiras patinaram esguichando e duas afundaram na valeta coberta pela enxurrada; o motorista não se deu nem ao trabalho de descer: aproveitou que ainda estava de sapatos secos – lá fora a chuva engrossava as enxurradas – e cruzou os pés no painel, acendeu um cigarro e deixou chover; que chovesse; que desabasse; que os troncos de peroba virassem esponja na carroceria. Ele sabia: aquele atoleiro só secava com sol de estalar mamona; e peroba não é carga de mofar com chuva. Quando raleou, às seis e meia mais ou menos, tirou os sapatos e enfiou umas botinas velhas que estavam ali de plantão desde a última chuva, contou os cigarros, ainda deixou chover mais um cigarro; e pulou fora da cabine, o barro grudou e começou a formar, debaixo da sola da botina, uma segunda sola, mais grossa, pra ser depois arrancada no estribo e renovada, arrancada e renovada; e quanto mais tempo passasse e o encalhe aumentasse, mais fios de capim e palitos de fósforo haveria misturados naquela sola de barro.

Quando ele saiu chapinhando no barro, outros já vinham com solas mais grossas e pesadas; o atoleiro era no rego de dois montes, e já havia dois caminhões esperando em cada subida; logo haveria outros, até o alto de cada lombada, e até o fim do dia outros e outros estrada afora, pára-choques apontando pra Cruzeiro ou pra Cianorte, e até que Deus mandasse sol os de Cruzeiro não chegariam a Cianorte nem vice-versa. Porque quatro troncos de peroba não são porcos nem galinhas, não são sacos de batata ou de café que se pode aliviar e recarregar depois. Mas mesmo quatro troncos de peroba podiam acabar emborcados na valeta, depois que as filas aumentassem e os revólveres saíssem dos porta-luvas pra comandar o desencalhe. Mas antes um afobado haveria de botar pedra no angu, um caminhão encalhado haveria de virar dois, não sobraria remédio senão esperar, até aquele encalhe virar o Encalhe dos 300 e aquela chuva virar uma semana de chuva.

“O Encalhe dos 300” de Domingos Pellegrini Jr. 

Sugestões

09 setembro, 2025

Ação busca valorização da comunidade surda ao longo do mês de setembro  No dia 26 de setembro acontece […]

08 setembro, 2025

Resultado da ação humana, seja por acidente ou negligência, a introdução de animais e plantas exóticas que se […]

06 setembro, 2025

Professora Maria Amélia Sabbag Zainko, falecida em 2024, recebeu uma homenagem póstuma, realizada no Setor de Educação Profissional […]

05 setembro, 2025

Conciliar a maternidade com a vida universitária ainda é um desafio presente em todas as instituições de ensino […]