Uma exposição de imagens profissionais e amadoras que retratam a guerra na Colômbia foi o cenário para a defesa da tese de doutorado em Sociologia da comunicadora Claudia Gordillo. Colombiana, ela partiu da constatação de que o conflito é geralmente pouco divulgado na grande mídia e decidiu pesquisar as representações visuais da guerra mediante imagens documentais publicadas em jornais, mídia online e relatórios entre 2002 e 2014.
A tese, intitulada “Rotinas Visuais da Guerra na Colômbia: Territórios e Corpos na Fotografia Documental”, foi orientada pela professora Ana Luisa Fayet Sallas e defendida no último dia 16, na Reitoria da UFPR.
Claudia Gordillo (à esq.) e a orientadora Ana Luisa Fayet Sallas diante de algumas imagens da exposição “Rachaduras no documental. Percursos através da neblina” (Fotos: Leonardo Bettinelli – Sucom / UFPR)
Claudia dedica-se a pesquisas sobre militarização e nacionalismo. De acordo com ela, a opção pela fotografia como recurso foi uma forma de quebrar a invisibilidade da guerra. “A sociologia visual é um lugar de pensamento crítico. Argumentos também são registrados nas imagens”, conta a comunicadora.
Pesquisa
Claudia se valeu de três perspectivas na pesquisa. Na primeira, estudou três comunidades com processos de resistência civil – San Carlos, Buenaventura e Toribío, localizadas na região Oeste da Colômbia. Em seguida, observou as diferentes narrativas dos produtores das fotografias: uma narrativa comunitária de autorrepresentação (incluída nos blogs e sites de organizações das três comunidades), uma narrativa institucional, presente nos relatórios de pesquisas do Centro de Memória Histórica da Colômbia; e uma narrativa midiática, apresentada nos jornais colombianos El Espectador, El Tiempo, El País, El Colombiano, El Liberal e El Mundo. Por fim, estudou os governos e suas estratégias de defesa e segurança no período de 2002 a 2014.
Uma das críticas da pesquisadora è à banalização da violência, retratada em muitas imagens que já não chocam
A pesquisadora analisou 1611 fotografias que representavam notícias e informações dentro do país. Depois de descartar as imagens que tratavam dos mesmos eventos e momentos, restaram as 114 que serviram de base para o estudo.
Os atores da guerra
Claudia lembra que a guerra da Colômbia já dura 59 anos. Para ela, em geral as pessoas acreditam que apenas os guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) são responsáveis por toda a violência. “Parte da pesquisa é apresentar todos os atores da guerra”, define a pesquisadora. Ela se refere aos 32 novos microgrupos de guerrilha colombianos, chamados de “Nova Geração da Guerra”, que nasceram da desintegração de grupos maiores.
De acordo com a pesquisadora, a manutenção dessa comunidade se deve ao narcotráfico, uma estrutura de grande força na guerra colombiana e também outro assunto visto “por cima”. “O narcotráfico é um negócio de oportunidade. Ele interessa a políticos e governos internacionais” afirma a autora da tese.
Ligada à guerra, a violência também é tema para a pesquisadora. A violência normalizada e a repressão foram combustíveis para a tese, que inclui imagens cruas de mortes, feridos e caos. “A Claudia enfrentou o tema com coragem e quis estimular o senso crítico das pessoas. Ela avançou muito numa área delicada, numa sociologia diferente e frágil no Brasil, que é a da fotografia”, diz a orientadora da pesquisa, professora Ana Luisa Fayet Sallas.
A exposição
Para defender sua tese, a comunicadora fez algo inédito no tema e no Departamento de Ciências Sociais: uma exposição fotográfica. Chamada “Rachaduras no documental. Percursos através da neblina”, a mostra reúne mais de cem fotografias recortadas em mosaico, junções e imagens em 3×4 representando a “identidade” dos colombianos que vivem a guerra. E também cumpre papel de denúncia. “É necessário mostrar que há uma guerra, e, mais do que isso, há vítimas”, afirma Ana Fayet.
A ideia de defesa a partir de elementos visuais surgiu no percurso da pesquisa. A tese, definida como “cheia de vida” pela orientadora e orientanda, tinha necessidade de se desdobrar em algo mais físico. A escolha das fotos e o processo de análise passou por três vertentes: analisar as características técnicas (foco, exposição, elementos), sendo imagens amadoras e profissionais; Em seguida, observou a potencialidade de informação das imagens e por fim houve a “rachadura”, que era analisar o contexto sociocultural oferecido por elas.
A defesa foi feita no espaço da exposição, a Sala Arte Design da Reitoria, no dia 16 de março. O objetivo também era “desacademizar’ o processo, deixando que as 80 pessoas presentes se sentassem no chão e interagissem com a proposta.
Para as docentes, expandir as imagens expande também as chances de reconhecimento da causa, já que na mídia as fotos são pequenas e muitas vezes acabam passando desapercebidas.
Depois de ficarem alguns dias expostas na Reitoria, as fotos irão agora para o Unicamp, durante o Seminário Imagem, Pesquisa e Antropologia (II SIPA), em abril. Depois, a mostra volta para Curitiba, onde será apresentada no IX Seminário Nacional de Sociologia Política, em maio.
Confira mais imagens da exposição na galeria abaixo:
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