O Complexo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná celebra o pioneirismo e a inovação do Transplante de Medula Óssea do Hospital de Clínicas, com uma série de reportagens publicadas no portal da UFPR e do Complexo Hospital de Clínicas.
O Serviço de Transplante de Medula Óssea (STMO) é pioneiro por ter sido o primeiro a realizar um transplante de medula óssea na América Latina. A história do TMO no CHC envolve a Universidade Federal do Paraná, institutos de assistência, parceiros internacionais e milhares de pacientes curados.
O número é um indicador da história: foram cerca de 2800 transplantes de medula óssea desde 1979, quando os médicos Ricardo Pasquini e Eurípides Ferreira foram os primeiros, na América Latina, a desbravar um caminho que mudou a medicina no Brasil. O feito ocorreu dentro do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná e viria a resultar em um setor com mais de 100 profissionais, de diversas especialidades, considerado referência mundial em um tratamento que envolve alta complexidade.
A especialidade é parte da Unidade de TMO, Oncologia e Hematologia, que lida com atendimentos ambulatoriais, realiza o transplante e oferece assistência multidisciplinar por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Além disso, o HC também é reconhecido por ser uma escola – lugar em que ensino e pesquisa aprimoram a qualidade dos trabalhos e possibilitam a inovação.
Mas a jornada, vista de longe, também teve obstáculos. O pioneiro Ricardo Pasquini, pesquisador, médico e professor aposentado da UFPR, lembra que a história começou muito antes daquele mês de outubro de 1979, em uma fase que chama de “pré-transplante”. Um grupo de médicos de Curitiba especializou-se em hematologia e buscou treinamentos no exterior para acompanhar as mudanças em curso no mundo. “Eram pessoas que estavam sempre interessadas nos avanços da especialidade que vinha aparecendo naquela época”, recorda.
O transplante de medula, embora pareça um procedimento simples, pois na prática é similar a uma transfusão, é extremamente complexo e exige também rigor científico. Por isso, foi apenas na década de 1970 que os primeiros resultados começaram a aparecer, quando Pasquini já era médico e investigava a área. Com muitos casos de insucesso, os cientistas buscavam compreender e aprimorar as técnicas. “Aí se passou a, progressivamente, tentar saber quais as razões do insucesso e corrigir. Então todos estes aspectos passaram a ser melhor estudados para se propor e criar fórmulas para sobrepassar essas dificuldades”, explica.
A evolução passou a ser cada vez mais visível e foi um estímulo para que o HC desse seus primeiros passos rumo à uma ciência que surgiu para mudar a vida das pessoas: ou, neste caso, para garantir que vivessem. Na década de 1980, segundo o médico, havia um número expressivo de transplantes pelo mundo, mas no Brasil muitos pacientes ainda morriam por não terem essa opção. “Essa foi a razão para o grupo se desenvolver aqui em Curitiba”, lembra, reforçando a importância dos estágios fora do país para que o primeiro transplante pudesse ser feito, quarenta anos atrás.
Na década de 1980, além do HC, apenas três outros hospitais faziam transplante de medula. Os cuidados clínicos eram acompanhados de produção científica, algo que sempre deu ao TMO o espírito da inovação e do pioneirismo. Pasquini lembra que, já em 1983, o grupo apresentava resultados dos seus estudos no Congresso Brasileiro de Hematologia. Dois anos mais tarde, publicaram na revista internacional mais prestigiada do mundo.
Pasquini explica que essa primeira experiência foi marcante e que tudo se aprimorou a partir do gesto de pioneirismo. “O serviço de transplante é um agente controlador de todos os serviços, porque ele usa quase todo o hospital, bancos de sangue, laboratório, assistente social, nutrição, etc. Nós revimos todas as rotinas de relacionamento As coisas foram crescendo”, sintetiza. Os benefícios periféricos construídos, a partir de então, proporcionaram mudanças em todo o hospital.
Hoje, o médico, que dedicou a vida ao TMO, ao ensino e à pesquisa na UFPR, e que começou a construir uma referência sólida com repercussões no Brasil e no mundo, continua procurando desafios científicos. É visto como referência na Unidade, além de ter formado especialistas que atuam em diferentes lugares do país e do mundo.
Marca histórica
O TMO encontrou no Hospital de Clínicas da UFPR o cenário ideal para se desenvolver: professores e pesquisadores pioneiros, o conceito de hospital-escola e a consequente abertura à inovação. A superintendente do HC, Claudete Reggiani, afirma que “foi um grande trabalho, de muitos profissionais envolvidos que resultou em uma melhoria de saúde para muitas pessoas bem como a qualidade de atendimento e formação do CHC”.
Este desenvolvimento, segundo Pasquini, fez com que a equipe do HC participasse do processo de regulamentação dos transplantes de medula. Em 1985, à época no então Ministério da Previdência, discutiam-se as normas para que o procedimento passasse a ser coberto pelo Sistema Único de Saúde. “Isso já foi um grande avanço, porque o hospital mesmo não ia aguentar financiar os procedimentos”, conta.
Referência e qualidade
De acordo com médico Hematologista do Serviço, Samir Kanaan Nabhan, Supervisor Médico da UTOH, o pioneirismo também é responsável pela qualidade. “Nosso volume de trabalho nesses últimos 40 anos capacitou a nossa equipe de uma maneira mais eficiente para um melhor atendimento e assistência aos nossos pacientes”, diz. Esse atendimento envolve internação, transplante e ambulatórios para atender o público, inclusive aqueles que já passaram pelos serviços e têm acompanhamento constante.
Por conta da assistência completa, aliada ao trabalho permanente de pesquisa e registro de dados dos pacientes, o Serviço de TMO do Hospital de Clínicas da UFPR é reconhecido nacional e internacionalmente como centro de excelência em transplante de medula óssea. A chefe de enfermagem, Teresinha Keiko Kojo explica que o principal objetivo é garantir que o transplante ocorra de forma segura. “É um dia especial, não só para os pacientes, mas para todos aqui”, conta.
Para isso, a equipe multiprofissional trabalha como um relógio: “são várias pecinhas atuando para que nada dê errado”, ilustra. A internação, o transplante e o pós-transplante requerem atenção e cuidados especiais, além de serem um momento de esperança para os pacientes que o aguardam. Além dos médicos e enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, dentistas, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais são responsáveis por cuidarem de uma vida nova.
Hoje, o Brasil conta com 87 centros de TMO para realizar os procedimentos, segundo dados da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea. A Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) estima que sejam realizados mais de 3 mil procedimentos por ano. “Nosso maior desafio hoje é manter a qualidade do atendimento, que sempre foi nossa prioridade”, reforça Nabhan.
Ilustração: Carolina K/Sucom.
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