Formada pela UFPR em 1945, a primeira engenheira negra do Brasil, Enedina Alves Marques, foi homenageada com uma placa instalada no prédio administrativo do Setor de Tecnologia, em Curitiba, nesta terça-feira (20/11), Dia Nacional da Consciência Negra. O descerramento da placa ocorreu durante uma solenidade com a presença do reitor, Ricardo Marcelo Fonseca, e do diretor do setor, Horacio Tertuliano Filho, além de pró-reitores, professores, alunos, representantes de associação de classe e familiares da homenageada. Como engenheira civil, Enedina Marques foi responsável por obras importantes no Paraná, entre elas o levantamento topográfico da Usina Hidrelétrica Capivari-Cachoeira.
A dedicação aos estudos e a coragem para romper barreiras foram duas características da história de Enedina Marques lembradas na fala de convidados. “A mensagem que gostaria de deixar é que Enedina vive nos estudantes que conseguem se formar contra todos os obstáculos sociais”, declarou o reitor Ricardo Marcelo. Filha de empregada doméstica, e doméstica ela mesma na adolescência, a engenheira persistiu nos estudos, geralmente em classes noturnas. Assim conseguiu terminar primeiro o magistério e, depois, a Faculdade de Engenharia do Paraná, onde se formou aos 32 anos.
O pioneirismo de Enedina, que inspira a presença de mulheres negras em profissões ligadas à tecnologia, foi abordado por alunos de Engenharia nas manifestações de duas organizações estudantis: o Coletivo de Estudantes Enedina Alves Marques, que defende o feminismo negro; e o Núcleo de Pesquisa de Relações Raciais, Ciência e Tecnologia (Nupra), inaugurado neste ano no Politécnico para viabilizar pesquisas na área com viés racial.
“Por causa da força e da perseverança dessa mulher, que quebrou barreiras diariamente, é que nós estamos aqui”, disse Fernanda Lopes, estudante do 4.º ano de Engenharia Civil e integrante do coletivo.
Iniciativas
Durante a cerimônia, foram levantadas propostas para a manutenção e o fortalecimento das políticas de diversidade da UFPR — que, no caso das ações afirmativas de reserva de vagas, começaram em 2004, ainda antes da Lei de Cotas (n.º 12.711/12).
Uma das sugestões, que partiu de estudantes e foi mencionada pelo professor Paulo Vinícius Baptista, da Superintendência de Inclusão, Políticas Afirmativas e Diversidade (Sipad), é a de que a universidade tenha seu Dia da Consciência Negra no calendário acadêmico, para que o dia 20 de novembro seja dedicado a ações de representatividade negra e conscientização contra o racismo.
A proposição já foi submetida ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe). Segundo Baptista, seria uma forma de compensar a ausência do feriado em Curitiba. A data é feriado em pelo menos 1.047 municípios brasileiros, de acordo com levantamento da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) — são 5.570 no total.
O professor Horacio Tertuliano Filho adiantou que será levada ao colegiado a proposta para que o auditório do setor — o segundo maior da UFPR — receba o nome de Enedina Alves Marques. A sugestão foi endossada pelo reitor, que afirmou que a gestão fará campanha pela aprovação da ideia.
Ricardo Marcelo também classificou o histórico das políticas pela diversidade da UFPR como “patrimônio”, consolidado com a inovadora criação da Sipad em 2017. O reitor afirmou que a universidade resistirá a ameaças de extinção da Lei de Cotas. “Se acontecer a revogação da lei, nós vamos lastimar. Mas faremos uso da autonomia universitária para manter a política aqui na UFPR, para que pelo menos esta universidade continue a bandeira”, disse.
A solenidade contou, ainda, com a presença do cônsul do Senegal, Oziel Moura dos Santos; dos professores Zaki Akel Sobrinho, reitor da administração anterior; André Duarte, da Agência UFPR Internacional; Leandro Gosdorf, da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proec); Maria Rita César, da Pró-Reitoria de Assistência Estudantil (Prae); Graciela de Muniz, vice-reitora; Vanessa Rasoto, da UTFPR; o presidente do Conselho Regional de Engenharia (Crea/PR), Ricardo Rocha; e José Rodolfo De Lacerda, presidente do Instituto de Engenharia do Paraná (IEP).
Biografia
Apesar de Enedina Marques ter seu nome registrado no Livro do Mérito do Sistema Confea/Crea desde 2006, e inscrito no Memorial à Mulher Pioneira do Paraná, sua história ainda é pouco abordada, segundo estudos recentes apontam. Ela cresceu na casa dos patrões da mãe, em Curitiba, e completou a educação básica com apoio dessa família. A mãe, Virgília, se desdobrou para sustentar os filhos sozinha depois de se separar do marido.
A cerimônia de formatura de Enedina, em dezembro de 1945, ocorreu sem a presença de familiares, no Palácio Avenida, no Centro de Curitiba. A engenheira se formou ao lado de 32 colegas homens, muitos dos quais passaram os anos de faculdade sem dirigir palavra a ela, segundo depoimento deixado por um antigo colega.
Atualmente, restam poucas pessoas da família de Enedina, entre elas a sobrinha, Lizete Marques, de 80 anos. A professora aposentada recorda-se da tia como uma mulher forte e inspiradora, ainda que não exatamente calorosa. “Ela não era dada a abraços, não era aquela coisa de ‘titia’, mas foi um exemplo para mim, porque na minha família poucos estudaram. Minha avó falava: ‘olha a sua tia, veja como ela estuda'”. Com o incentivo — que Enedina não teve em sua época –, Lizete se formou em Educação Física há 50 anos.
Recentemente, a biografia da engenheira foi tema de um trabalho de conclusão do curso de História – Memória e Imagem da UFPR, elaborado pelo aluno Jorge Luiz Santana. Um artigo baseado na monografia pode ser lido neste link.
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