Logo UFPR

UNIVERSIDADE
FEDERAL DO PARANÁ

Vicente Ribeiro é o novo regente do Grupo de MPB da UFPR

O Grupo de MPB da UFPR estreia este ano com um novo diretor regente, o músico Vicente Ribeiro. Nascido no Rio de Janeiro e vivendo em Curitiba desde 1995, o artista de 53 anos assume o desafio de coordenar o grupo já para a primeira temporada de 2018, com estreia pré-marcada para maio.

Vocal Brasileirão recebe Joyce Moreno, regência de Vicente Ribeiro no violão (foto:acervo pessoal)
Vocal Brasileirão recebe Joyce Moreno, Vicente Ribeiro, no violão, é também o regente do grupo. (foto:acervo pessoal)

O músico, que vinha atuando na direção e regência do Vocal Brasileirão, tem a carreira marcada pela relação com a MPB. Já no início da carreira, nos anos 80, fundou e regia a “Orquestra do Rio”, grupo que à tradição das “big-band” trazia arranjos instrumentais de música popular nacional.

Vicente Ribeiro - novo diretor regente do Grupo de MPB da UFPR (foto:acervo pessoal)
Vicente Ribeiro – novo diretor regente do Grupo de MPB da UFPR (foto:acervo pessoal)

O regente elogiou o trabalho do Grupo de MPB desenvolvido pela maestrina Doriane Rossi e, mais recentemente, por Cainã Alves. “Foi excelente, tanto no que se refere a pesquisa de repertório, sempre muito minuciosa e sensível, como no que concerne aos aspectos técnicos e artísticos no desenvolvimento de espetáculos” explicou o artista.

Ribeiro ainda comentou sobre o atual cenário político-cultural por que passa o país, afirmando que os artistas não devem ficar omissos. “Assistimos perplexos a uma onda de ultra-conservadorismo pela qual alguns dos mais importante redutos do pensamento e da reflexão estão sendo implacavelmente perseguidos: a universidade e a arte”, lamentou o artista defendendo que alguns princípios fundamentais como da liberdade e democracia não podem ser relativizados, ainda que se respeite as diferentes leituras do quadro político nacional.

Confira a entrevista completa com o novo regente:

Rodrigo Choinski – Vicente, você poderia falar um pouco sobre sua carreira?

Vicente Ribeiro – novo diretor regente do Grupo de MPB da UFPR (foto:acervo pessoal)

Vicente Ribeiro – Minha carreira sempre esteve ligada à música popular brasileira. Nos anos 1980, ávido para escrever arranjos para formações grandes, criei a “Orquestra do Rio”, uma espécie de “big-band” à brasileira, formada por 4 flautas, 2 clarinetes, 6 saxofones, 2 trompetes, 2 trombones e seção rítmica (violão, guitarra, piano, baixo e bateria). A orquestra executava um repertório de MPB instrumental com arranjos meus, sob a minha regência. Paralelamente, escrevia arranjos vocais, sob a encomenda de grupos diversos do Rio de Janeiro e São Paulo. Nos anos 1990, intensifiquei minha atividade de arranjador (tanto vocal como instrumental) e passei a atuar também como regente de grupos vocais. Em 1995, me transferi para Curitiba, assumindo a função de arranjador e a diretor musical do grupo vocal O Tao do Trio, com o qual produzi 3 CDs: “Uns Caetanos”, dedicado à obra de Caetano Veloso e lançado em 2001; “Rosa que te quero verde”, dedicado à obra de Cartola e lançado em 2008; e Flor de Dor, dedicado à obra da poeta paranaense Etel Frota, lançado em 2016. Paralelamente, intensifiquei minha atuação como produtor musical e arranjador de CDs de artistas diversos. A repercussão do trabalho do Tao do Trio (indicado ao Prêmio da Música Brasileira em 2002 e, mais recentemente, em 2017) acabou resultando no convite da Fundação Cultural de Curitiba para que eu assumisse, em 2006, a regência e direção artística do Vocal Brasileirão, com o qual atuo até hoje.

RC – O grupo de MPB da UFPR completa 24 anos em 2018, o que você acha do trabalho que foi desenvolvido neste tempo?

VR – Infelizmente não tive a oportunidade de acompanhar o trabalho do Grupo de MPB do jeito que gostaria, em função da imensa correria que é a vida de músico. O momento em que estive mais próximo do grupo foi no final dos anos 1990, quando fui convidado a escrever dois arranjos para o álbum “Terra de Pinho”. Ainda que a uma relativa distância, acompanhei o trabalho do grupo e pude verificar que o trabalho desenvolvido pela maestrina Doriane Rossi – e, mais recentemente, por Cainã Alves – foi excelente, tanto no que se refere a pesquisa de repertório, sempre muito minuciosa e sensível, como no que concerne aos aspectos técnicos e artísticos no desenvolvimento de espetáculos. É uma grande responsabilidade assumir este trabalho e espero fazer jus a isso.

Grupo de MPB - É preciso estar atento e forte, 50 anos de Tropicália - Festival de Inverno da UFPR - divulgação
Espetáculo “É preciso estar atento e forte, 50 anos de Tropicália” do Grupo de MPB da UFPR em 2017 – direção de Cainã Alves – Festival de Inverno da UFPR – divulgação

RC – O que você pensa em preparar para este ano?

VR – Estou entre dois possíveis repertórios: uma primeira ideia é trabalhar sobre a produção emepebística de 1968, observando em que medida essa produção refletia a realidade da época e ainda, em que termos essa música dialoga com a realidade de 2018, 50 anos depois; outra ideia que me cativa é a de explorar a imensa diversidade sonora da música popular brasileira inspirada na tradição oral, com sua riqueza rítmica e seus modalismos.

RC – O fato de desenvolver o trabalho em um ambiente universitário e numa instituição pública dá maior liberdade ao artista? Poderia falar um pouco sobre essa questão no caso da música popular brasileira?

VR – Certamente, há mais liberdade. Mas trata-se de uma liberdade que vem associada, necessariamente, a uma imensa responsabilidade. A liberdade propiciada pelo ambiente universitário, que assegura um salutar afastamento de qualquer imposição mercadológica, traz como contrapartida um compromisso com a comunidade acadêmica e com o público; cabe ao artista saber aproveitar a liberdade para produzir algo relevante que, na medida do possível, ofereça um contraponto em relação ao que é produzido pelo mercado. Pra complicar, na música popular brasileira não há uma delimitação clara entre o “comercial” e o “artístico” e esses conceitos se interpenetram; encontrar o “ponto”, nesse sentido, é tarefa delicada.

RC – A sua formação sempre girou em torno da música popular brasileira, gostaria que falasse sobre o tema que na sua opinião tem se destacado em relação a esta área por sua relevância sócio-cultural.

VR – Nas últimas décadas, conceitos como “brasilidade” e “identidade nacional” vêm sendo colocados em xeque. Até os anos 1970, havia a ideia de uma “música popular brasileira” que nos representava, a nós, brasileiros. Hoje é difícil falar em “música popular brasileira”; talvez seja melhor pensar em “músicas populares brasileiras”, contemplando toda a diversidade cultural sem tentar impor, de cima pra baixo, uma suposta unidade cultural que é, em boa parte, ilusória… Eu, como militante da “música popular brasileira” desde que me entendo por gente, precisei desconstruir muitos conceitos que trazia comigo, bastante arraigados. Ainda acredito que é possível estabelecer um diálogo entre as diversas expressões culturais brasileiras, em busca de algo como uma “identidade comum”, uma “intersecção”, sob a condição de que esse diálogo não se estabeleça sob uma perspectiva hierarquizada. O que não dá mais aceitar é a hierarquização da música brasileira – como vejo muitos colegas fazendo, apegados ao passado e a uma visão “canônica” de arte – pela qual postula-se a ideia de uma “MPB de qualidade” que coloca-se acima de outras expressões. Gosto muito de uma fala de Caetano Veloso, em resposta a um comentário da cantora Mônica Salmaso – a meu ver, bastante infeliz – sobre um suposto “nivelamento por baixo” da MPB: “Entendo Mônica, uma cantora tão dotada e dedicada. Mas não tendo a pensar assim. De Guinga a Ivete Sangalo, de Valesca Popozuda a Thiago Amud, há todo um leque de possibilidades. Sou tropicalista. Se se nivela ‘por baixo’, tenho culpa no cartório.”

Grupo de MPB lança CD Terra de Pinho - Foto: Douglas Fróis
Grupo de MPB lança CD Terra de Pinho, com dois arranjos de Vicente Ribeiro – Foto: Douglas Fróis

RC – O que um grupo de música universitário deve oferecer para a comunidade acadêmica e para a população em geral, na sua opinião?

VR – É aquilo que eu disse antes: é necessário produzir algo relevante que, na medida do possível, ofereça um contraponto em relação ao que é produzido pelo mercado. Mas se partimos da premissa de que não há, na música popular brasileira, uma delimitação clara entre o “comercial” e o “artístico”, entendo que esse contraponto se dá como diálogo e não como contraposição. Não faz sentido simplesmente replicar aquilo que o mercado produz, mas também não me parece interessante buscar um afastamento total do mercado. A música popular como entendemos hoje, assim como o cinema, é uma expressão artística que se desenvolveu no âmbito da indústria e talvez boa parte do que tem de interessante, do ponto de vista artístico, tenha a ver com sua relação com o público e a necessidade de comunicação. Um fenômeno como a música de Luiz Gonzaga, por exemplo, que é reconhecida como uma expressão artística fundamental na história da Música Popular Brasileira, talvez não tivesse acontecido não fosse a conhecida obsessão de Gonzaga pelo sucesso comercial. Em resumo: um grupo de MPB, no âmbito da universidade, deve oferecer, em meu entendimento, uma leitura reflexiva e alternativa da MPB, sem deixar de abordar todas as suas facetas e contradições.

RC – A MPB em diversos momentos teve um protagonismo no Brasil em relação a situações políticas e sociais, atualmente vivemos um contexto muito complicado, especialmente para a área da arte e cultura. Qual deve ser a postura do Grupo de MPB em relação a isto?

VR – Sim, assistimos perplexos a uma onda de ultra-conservadorismo pela qual alguns dos mais importante redutos do pensamento e da reflexão estão sendo implacavelmente perseguidos: a universidade e a arte. O punitivismo do poder judiciário causou danos irreparáveis em seus ataques às universidades federais do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e, sobretudo, Santa Catarina; a intolerância política resulta em uma caça às bruxas, um movimento de “eugenia ideológica” que pretende expurgar artistas como Chico Buarque por “ousarem” ser de esquerda; integrantes de supostos “movimentos sociais” conservadores postulam o direito de decidir “o que é arte”… O quadro é muito sério e, em meu entendimento, não podemos nos omitir. Há que se respeitar as diferentes leituras do quadro político nacional, mas há princípios fundamentais dos quais não podemos abrir mão: liberdade e democracia. O Grupo de MPB, na medida do possível, se posicionará, por meio de sua produção artística, em defesa da universidade, da arte e da liberdade de pensamento.

Sugestões

Seminário de Extensão sobre Enoturismo e o Desenvolvimento da Economia Local: as experiências italianas
O Departamento de Administração Geral e Aplicada da Universidade Federal do Paraná (UFPR) recebe um renomado...
Concurso de Identidade Visual do Projeto Ciências Agrárias em Ação na ONG Coletivo Inclusão
O Projeto de Extensão “Ciências Agrárias em Ação na ONG Coletivo Inclusão”, do Departamento de Economia...
Projeto LabCD da UFPR está com edital para seleção de bolsistas de extensão 
A Coordenação do Projeto de Extensão Laboratório de Cultura Digital da Universidade Federal do Paraná...
Seminário em Curitiba discute democracia brasileira com o apoio da UFPR
Os abalos e os riscos contínuos à democracia brasileira serão temas abordados durante o seminário “A...