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UNIVERSIDADE
FEDERAL DO PARANÁ

Uso dos cartões corporativos na UFPR possibilita a realização das aulas de campo

Todos os anos, alunos e professores da UFPR – assim como acontece em qualquer outra instituição de ensino superior – saem a campo para conferir “in loco” o que aprendem na sala de aula e, com isso, trazer para dentro da universidade novos dados e informações que poderão ser usados tanto em trabalhos de outros colegas e professores, quanto por empresas que utilizam a informação que é disponibilizada nas bibliotecas e laboratórios de diferentes cursos. É a chamada “aula de campo”, que demanda recursos para o pagamento da estada, alimentação, transporte, pedágio e outras despesas miúdas, visando manter com segurança os alunos fora do seu ambiente de origem: a sala de aula da universidade.

Quem paga estas despesas é o professor – servidor da universidade – que para isso conta com um cartão corporativo em seu nome, atrelado à Universidade Federal. Vale ressaltar, que para suas despesas pessoais, o professor recebe uma diária própria como funcionário público. Ou seja, do cartão, só sai dinheiro para o pagamento das despesas com os alunos.

“As aulas de campo acontecem, na maioria das vezes, em locais de difícil acesso, sem muitos recursos, e onde é necessário se ter dinheiro para pagar as pequenas despesas, já que muitos dos estabelecimentos não têm máquinas de cartões”, explica Júlio Cezar Martins, diretor da Contabilidade Geral da UFPR.”Na nossa universidade, todas as despesas feitas com os cartões são rigorosamente controladas, não apenas depois, mas mesmo antes de serem feitas. Para usar o cartão – seja com saque ou pagamento em fatura – o servidor: professor ou técnico-administrativo precisa abrir primeiro um processo solicitando o recurso e justificando, antecipadamente, seus gastos. O dinheiro é liberado na véspera da viagem e fica na conta para ser gasto num prazo máximo de 30 dias. O que for gasto com cartão vem na fatura. O que foi pago com o dinheiro de saques precisa ser comprovado com notas e recibos. E toda essa prestação deve ser feita em no máximo 10 dias depois.”

AULAS DE CAMPO – Por ano, o curso de Geologia realiza cerca de 40 aulas de campo, com durações que variam de um a dez dias, levando entre 20 e 40 alunos. Formado no final de 2007 e agora no mestrado da UFPR Edimar Perico foi um dos alunos do curso de Geologia que aproveitou – e tem aproveitado – bastante os conhecimentos obtidos com as aulas de campo. “Costumo comentar com meus colegas que, ao voltar de uma aula de campo, não voltamos as mesmas pessoas”, garante. “Isso porque é incrível o que se aprende, independentemente de a viagem ter um ou dez dias de duração. Não é uma aventura, mas sim uma série de atividades extremamente planejadas e até participar deste planejamento já é um aprendizado.”

Perico explica que o curso tem duração de cinco anos e que desde o início os alunos já saem a campo para aprender a trabalhar com ferramentas como o GPS, a bússola, o martelo de geólogo e a caderneta de campo. “A aula de campo é imprescindível para termos os conhecimentos práticos e podermos trabalhar com segurança nos procedimentos de campo depois de formados. Como aluno do curso fui para o Vale do Ribeira, a região dos Campos Gerais e também para os estados de Santa Catarina e São Paulo. O que desejo é um dia trabalhar na Petrobrás com a identificação de poços de petróleo.”

É também lembrando uma das viagens feitas ao Vale do Rio Açungui, que o professor da Geologia Renato Eugênio de Lima comenta algumas das situações vividas por ele e seus alunos. “Ficamos num acampamento de casas de madeira com beliches de tábua que conseguimos alugar”, conta. “Um lugar muito distante de qualquer tipo de civilização e mais longe ainda de um caixa automático. Como temos um limite diário de saques, precisávamos viajar novamente até a cidade – perdendo cerca de uma hora e meia; ou do descanso da noite ou da própria aula de campo – para podermos retirar o dinheiro para as despesas. Mas é assim mesmo. Como um estudante de Medicina precisa de uma clínica ou hospital para estudar, o aluno de Geologia precisa do campo. Já tive a oportunidade de acompanhar aulas de campo em países como a África e o Canadá e todas são assim. Não há como formar futuros geólogos sem aulas de campo.”

Segundo o professor, sobre a atual polêmica dos saques com cartões corporativos, o problema não está exatamente no cartão, mas no tipo de gasto que as pessoas fazem. “Se a mesma despesa fosse paga com cheque por exemplo, mudava alguma coisa?”, pergunta. “Eu não pedi e nem queria ter um cartão, mas esta era a única forma que tínhamos de manter as aulas de campo.No fim ele até emperra nossas atividades, porque precisamos ir apenas para aqueles lugares onde sabemos que conseguiremos notas, deixando, muitas vezes, de mostrar até coisas mais interessantes para os alunos.”

“Além do produto ensino e aprendizagem, há a produção de uma fonte de informação que pode ser amplamente usada pela sociedade”, alerta Lima, lembrando que o produto final da viagem é a produção de mapas e relatórios que ficam disponíveis para consulta nas bibliotecas da UFPR.

GEOGRAFIA – Professora na área da Geografia Física, Ana Maria Muratori conta que já fez viagens onde os alunos tinham R$ 21,00 para as despesas de almoço e jantar e R$ 25,00 para a hospedagem. “Isso foi no Pantanal, uma região de muito turismo e onde muitas das coisas são cobradas em dólar. Por isso precisávamos economizar discutindo cada um dos restaurantes em que íamos e hotéis ou pousadas nos quais ficávamos. Ou seja, os alunos participavam de todo esse processo para conseguirmos fazer o dinheiro chegar até o final da viagem.”

Muratori também chegou a passar pela época dos cheques. “Tínhamos uma conta atrelada à universidade e podíamos emitir cheques. Cheques que muitas vezes não eram aceitos nas cidades do interior para onde íamos. Ou seja, era tão difícil quanto o cartão e por isso mesmo também tínhamos de fazer saques para pagar as despesas dos alunos. O que nos faz trabalhar com tantas dificuldades é a importância que têm as aulas de campo. Não se pode formar um geógrafo apenas em sala de aula. O principal laboratório é o campo. Seja ele na Região Metropolitana, no Estado do Paraná ou mesmo numa região de fronteira”, comenta, referindo-se à última viagem, feita para a Bolívia.

“Fomos para o Pantanal e a região das fronteiras onde fizemos a interpretação das paisagens, estudamos os aspectos sociais, culturais e econômicos, comparando as diferenças entre o Brasil e a Bolívia. E em alguns lugares perdemos mais de uma hora para conseguir sacar dinheiro para as despesas ou porque não havia máquina funcionando, ou porque a máquina não entendia o cartão corporativo. Mas mesmo assim, valeu a pena.”

Num dos relatórios de campo, o aluno Ronaldo Pescador escreve: “Socializamos o conhecimento, para o bem do nosso curso. Aprendemos com os erros…Imagino um futuro melhor, mesmo que as probabilidades do homem aprender dos erros seja uma esperança a longo prazo. Agradeço pela atenção da professora, que desejava levar todos ao marco geodésico, pela excelente forma de avaliar o aprendizado sobre esta aula de campo. Muito melhor que ficarmos papagaiando dados e mais dados sobre uma região brasileira. Dados nós consultamos, são modificados, são interpretados, são manipulados. A percepção filosófica sobre esta visita ao oeste brasileiro foi um exercício de Geografia que realmente me estimulou…Como professor de Geografia, embora acadêmico, eu me sinto como um porta-voz de descrições de um cenário mundial que não conheço. Apenas reproduzo aquilo que li ou ouvi falar. Minhas viagens mais longas se resumiam ao interior do Estado do Paraná e a capital paulista. Falar sobre estas paisagens numa aula de Geografia é deveras mais gratificante. Agora quando falar sobre o clima, vegetação, a rede urbana e viária dos imensos Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, saberei explicar com mais detalhes.”

Foto(s) relacionada(s):


Aula de campo do curso de Geologia
Foto: Curso de Geologia


Dificuldades nas aulas de campo da Geologia
Foto: Curso de Geologia


Alunos de Geografia em aula de campo na Bolívia
Foto: Curso de Geografia


Alunos de Geografia em aula de campo em S. J. dos Pinhais
Foto: Curso de Geografia

Fonte: Vivian de Albuquerque