Uma equipe internacional de pesquisadores, que inclui a professora do Departamento de Genética da UFPR, Maria Luiza Petzl-Erler, verificou que povos indígenas da Amazônia possuem uma inesperada conexão genética a povos da Australásia. A descoberta sugere que uma onda de migração às Américas até então desconhecida tenha acontecido milhares de anos atrás.
Os resultados foram publicados nesta terça-feira (21) na Nature, uma das maiores revistas científicas do mundo. O artigo “Genetic evidence for two founding populations of the Americas” pode ser acessado na íntegra neste link.
O estudo sugere que há um conjunto mais diverso de populações ancestrais na América do que até então se conhecia. O resultado surpreendeu os pesquisadores, que anteriormente trabalhavam com um modelo que indicava uma única origem comum a povos nativos da América Central e do Sul.
“É consensual que todas as populações nativas americanas descendem de uma onda migratória oriunda da Ásia que migrou através do estreito de Bering para o continente americano há mais de 15 mil anos. Alguns dos grupos da América do Norte e Árticos têm adicionalmente ancestrais de migrações mais recentes. A grande novidade neste estudo é a constatação de que algumas populações da América do Sul têm, além da origem Asiática, ancestrais possivelmente ainda mais antigos, compartilhados com populações da Australásia”, explica Maria Luiza Petzl-Erler.
A equipe comparou dados genéticos dos indígenas da América do Sul e América Central com os dados de outras populações. Alguns povos indígenas da Amazônia, incluindo os Suruí e Karitiana (de Rondônia) e os Xavante (de Mato Grosso), têm um ancestral mais próximo a povos da Oceania (nativos da Austrália, Nova Guiné e das Ilhas Andamão) do que a qualquer outro povo atual.
A população ancestral foi nomeada pelos pesquisadores de “População Y”, por causa da palavra em Tupi para ancestral, “Ypykuéra”. Esses resultados mostram que o cenário dos ancestrais dos povos indígenas americanos é mais complexo do que se pensava.
A equipe é formada por pesquisadores da Harvard Medical School; Broad Institute of Harvard and MIT; Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Universidade de São Paulo; e Universidade Federal do Paraná.