Logo UFPR

UNIVERSIDADE
FEDERAL DO PARANÁ

Sexagenário, Coro da UFPR carrega histórias de talentos, sucesso e paixão pela música

Álvaro Naldony: “Temos um público cativo. O cenário atual não me preocupa porque a alma humana não vive sem música”. Imagem: Marcos Solivan.

Quem passa em frente às colunas do prédio histórico da UFPR, na Praça Santos Andrade, no centro de Curitiba, não imagina que as paredes grossas da centenária construção protegem uma fonte permanente de talentos, sucesso e muita paixão pela música de boa qualidade: o Coro da UFPR.

É fácil identificar as presenças dos músicos na sua sala, localizada no subsolo do prédio. Quando estão ensaiando, às segundas e quartas, entre as 20h e as 22 horas, as vozes treinadas dos 97 integrantes do Coro ecoam pela praça. Assim é há 60 anos, desde 17 de outubro de 1958, quando o grupo foi fundado pelo falecido maestro Mário Garau para marcar a inauguração do Teatro da Reitoria da UFPR.

Garau transferiu a batuta do Coro para o maestro Álvaro Naldony em 1988, quando se aposentou. De lá para cá, o grupo tem sido conduzido com maestria por Naldony, que se mantém fiel ao compromisso do seu antecessor de usar o canto para promover a pesquisa, o estudo e a difusão da música junto à comunidade paranaense.

Da Física à música

É impossível descrever o Coro sem citar Álvaro Naldony. As histórias de ambos se fundem há pelo menos 34 anos. Tudo começou em 1977, quando o então estudante de Física da UFPR – que depois mudou para o curso de Educação Artística/Habilitação em Música –  começou a frequentar o grupo, no qual permaneceu por três anos. Só saiu de lá para cantar nos grupos Pró-Música e Pró-Arte.

Mas a paixão pelo Coro falou mais alto. Depois de acumular uma boa prática como ensaiador, Naldony voltou ao grupo, em 1982. E voltou já com novo status: maestro auxiliar de Mário Garau. Em 1984, porém, o destino reservou uma surpresa nada agradável ao grupo.

Antes de um concerto em Canoinhas (SC), Garau sofreu um infarto. Assustado, Naldony teve que reger o concerto. Mas deu conta do recado. Foi um sucesso. Quatro anos depois, Garau se aposentou e Naldony assumiu o comando. Hoje, aos 59 anos, o homem de barba e cabelos brancos orgulha-se da sua função e de dizer que tem quase a mesma idade que o grupo. “Sou um mês e dois dias mais jovem que o Coro. O Coro faz aniversário em 17 de outubro e eu, em 19 de novembro”.

Grupo eclético

Ao contrário do que muitos pensam, o Coro não é formado só por integrantes da UFPR. Com 97 cantores, selecionados sempre em fevereiro, o grupo é eclético. Tem gente de várias faixas etárias e formações culturais, inclusive professores de Teoria Musical e de Solfejo (leitura cantada ou rítmica das notas de uma partitura).

Para tomar parte dele, porém, Naldony definiu alguns critérios básicos: que a pessoa tenha afinação, boa memória musical e senso rítmico. “Nós acolhemos pessoas de toda a comunidade. É só ter vontade e, lógico, não faltar aos ensaios”, explica o maestro. As aulas são dadas uma hora antes dos ensaios, na segunda e na quarta-feira, para as pessoas interessadas em se aprimorar.

“Alma humana não vive sem música”

Nem a pasteurização da música, estimulada pelas rádios abertas, assusta os interessados em participar e em assistir às apresentações do Coro. “Temos um público cativo. O cenário atual não me preocupa porque a alma humana não vive sem música”, diz Naldony. Ele explica, aliás, que as barreiras de classe, no caso da música erudita, não são tão evidentes entre o público que frequenta os shows do Coro.

“É uma disposição de alma das pessoas procurarem este tipo de música.  Não é um produto para a elite. É só ver, nos concertos, os perfis das pessoas que vão lá. São estudantes, donas de casa, operários, doutores”, conta. “As pessoas procuram a música erudita. É um pouco fantasiosa esta ideia de que as pessoas não gostam deste tipo de música”.

Preocupação com as pessoas

Naldony destaca ainda sua preocupação permanente com o aprimoramento musical de cada integrante. Técnica vocal e canto exigem aulas individuais. O maestro procura atender a todos os cantores individualmente, respeitando o ritmo e as características próprias de cada um. “Nós procuramos, na composição do coro, ter certeza de que podemos atender de forma conveniente a todo mundo”.

O grupo tem um plano de trabalho que leva em consideração o nível médio dos seus integrantes, mas propõe sempre um desafio a ser vencido. “Quando sugerimos um repertório, queremos que ele seja possível com um pequeno esforço para todas as pessoas que participam do coral. Mas estudamos também sugestões que os próprios cantores trazem, usando este mesmo critério’, explica o maestro, que comanda oito ou nove apresentações por ano. “Mas já houve anos em que fizemos 23 apresentações”, diz.

Vários cantores e cantoras surgidos no grupo colhem frutos do seu talento. Entre eles, Claudio de Biaggi (barítono) e Lúcio Hossaka (tenor). Os dois cantam na Camerata Antiqua de Curitiba e fazem concertos-solo. Outros seguiram carreira, como Paulo Barato (barítono), um cantor bastante conhecido no ambiente da música erudita.

Mastro e compositor

Alvaro Naldony também compôs várias peças para o grupo. São dele a ópera “Dois” e a Missa comemorativa dos 500 anos do descobrimento do Brasil. ”É muito comum também eu compor pequenas peças-solo para os cantores quando me pedem para se apresentarem em recitais”.

Mas um dos seus maiores sucessos é a ópera Zumbi Odara (1995), composta para celebrar os 300 anos da morte do Zumbi dos Palmares. “Ela foi marcante no sentido de que trouxe a luz uma série de problemas que estavam nos subterrâneos do País. Na época do seu lançamento, não se falava tanto da cultura afro e não havia uma preocupação tão grande com o tema como existe hoje”, conta.

Logo depois do lançamento da ópera, a UFPR criou o Núcleo de Estudos Afrodescendentes. “Foram cinco apresentações, no Teatro da Reitoria, e todas lotadas. Inclusive o libreto (texto) da ópera foi roteiro de debates em Brasília. Depois, vieram leis contra o racismo, que nos deixaram muito felizes”, confessa o maestro.

Roteiro dos 60 anos

No roteiro das comemorações pelos 60 anos do Coro, o grupo planejou duas temporadas. A primeira já aconteceu, de 12 a 15 de março: o Réquiem do Dvořák (1841-1904). A segunda temporada começa em julho e vai trabalhar aspectos curiosos da música de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) e Georg  Händell (1685-1759). “Trabalhados juntos, eles dão bem clara a transição do período Barroco para o Clássico. Vai ser bastante interessante o pessoal ver que tal transição não faz uma ruptura abrupta com a tradição”.

MPB e Madrigal

O Coro gerou movimentos paralelos, que também se destacam pela sua qualidade. Um deles é o Grupo de MPB da UFPR, que surgiu em agosto de 1994 com a proposta de fazer um trabalho mais aprofundado de música popular. Além de pesquisar e difundir a música brasileira, seus integrantes objetivam aprimorar as possibilidades da voz como recurso artístico. Em 2012, surgiu um terceiro grupo dos cantores da UFPR: o Madrigal. Seu objetivo é o estudo da técnica de canto erudito.

 

Djalma e Maria Inês: unidos pelo casamento – e pelo Coro da UFPR

O casal Djalma e Maria Inês Peixoto: unidos pelo casamento e pelo amor à música. Imagem: Sucom da UFPR.

Eles são casados há 47 anos, mas não é apenas sua longa história de amor que torna Djalma Ghisi Peixoto, 77 anos, e Maria Inês Hamann Peixoto, 70 anos, um casal singular. Os dois também dividem a paixão pela música no Coro da UFPR, onde atuam há 35 anos, quando já eram casados.

Cantora de rádio desde os cinco anos, foi de Maria Inês – professora aposentada da UFPR – a iniciativa de ambos participarem do grupo. “Ele dizia a vida inteira que queria entrar no coro, mas não se movimentava. Quando entrei na UFPR, em 1980, eu disse ao Djalma: ´Vamos entrar no coro´. Ele concordou”, conta. “O coro virou um instrumento para o nosso aprimoramento técnico e artístico”.

A aprovação de Djalma, um economista aposentado, não foi casual. “Eu sempre gostei de música, que me faz muito bem. Tive experiências de sair chateado do trabalho, ir para o ensaio do coral e sair relaxado”, diz.

Mudança de rumos

O estilo do maestro AlvaroNaldony foi crucial para a permanência do casal no grupo. Quando assumiu o comando do Coro, em 1988, o maestro adotou mudanças decisivas no jeito de cantar dos músicos. “As apresentações que o maestro Mário Garau fazia eram de músicas clássicas, italianas, mas em outro esquema. Nós éramos cantores, apenas. Na época do Garau, cada naipe (cantores com vozes idênticas) ensaiava separado, para depois juntar o grupo”, diz.

Naldony reuniu o Coro e decidiu mudar as coisas. “Hoje, todos os naipes têm que saber a linha dos outros naipes. Ele disse que tínhamos que saber cantar e transmitir a música e o sentido do que o compositor quer dizer. E então tivemos aula de técnica vocal de teoria musical”, conta Djalma. A modificação deu resultado. O número de solistas pulou de dois para 17, logo no primeiro ano da mudança. ”Hoje, temos mais de 50 solistas”.

Música com emoção

Djalma explica que o Coro vai além da execução das músicas; procura, ainda, fazer o público sentir o canto. “O que nós fazemos é levar o público a sentir a música e não apenas escutá-la. Ele explica a diferença citando como exemplo uma apresentação que o grupo fez de um oratório composto em alemão que teve a presença do então cônsul da Áustria, no teatro da Reitoria da UFPR.  “Eu recebi o papel de receber o cônsul e pedi que ele se sentasse no meio da plateia. Ele achou estranho, mas concordou.  Quando a apresentação da peça terminou, ele disse que já tinha ouvido o oratório várias vezes, mas que aquela tinha sido a primeira vez em que ele tinha sentido a música”.

A adoção da estratégia não é casual. Maria Inês explica que a preocupação de Naldony com a interpretação ( e não apenas com a questão técnica) tem suas razões. “O Álvaro  entende muito de Física de som. Então, ele distribui as vozes no palco. Isso altera totalmente a percepção do público. É por isso que ele diz que nossa música é para ser sentida”.

Aurélio Munhoz

 

 

Sugestões

Seminário de Extensão sobre Enoturismo e o Desenvolvimento da Economia Local: as experiências italianas
O Departamento de Administração Geral e Aplicada da Universidade Federal do Paraná (UFPR) recebe um renomado...
Concurso de Identidade Visual do Projeto Ciências Agrárias em Ação na ONG Coletivo Inclusão
O Projeto de Extensão “Ciências Agrárias em Ação na ONG Coletivo Inclusão”, do Departamento de Economia...
Projeto LabCD da UFPR está com edital para seleção de bolsistas de extensão 
A Coordenação do Projeto de Extensão Laboratório de Cultura Digital da Universidade Federal do Paraná...
Seminário em Curitiba discute democracia brasileira com o apoio da UFPR
Os abalos e os riscos contínuos à democracia brasileira serão temas abordados durante o seminário “A...