Logo UFPR

UNIVERSIDADE
FEDERAL DO PARANÁ

Projeto de extensão da UFPR discute o aliciamento de menores na Internet

De acordo com uma pesquisa do Comitê Gestor da Internet do Brasil, em 2019 aproximadamente 86% das crianças e adolescentes com idade entre 9 e 17 anos tinham acesso à rede no país. Isso corresponde a cerca de 24 milhões de pessoas. Desse total, 15% das crianças e adolescentes já tinham na Internet imagens ou vídeos de conteúdo sexual; 18% já receberam mensagens de conteúdo sexual; e 11% disseram já terem recebido pedidos, na Internet, de uma foto ou vídeo em que apareciam nus.   

Nesse cenário, entender como acontece o aliciamento e trazer soluções para a comunidade pode ser uma alternativa para conter avanço de crimes digitais. O projeto de extensão “Prevenção ao Aliciamento de Crianças e Adolescentes na Era Digital (Proteca), que conta com a participação de vários cursos da UFPR, desenvolve ações visando prevenção, com foco na violência sexual online.  

Segundo a professora do Departamento de Informática e coordenadora do projeto, Elenice Mara Matos Novak, a ideia é associar atividades que tenham impactos na proteção digital da criança e do adolescente. De acordo com Novak, muitos crimes digitais ocorrem por falta de informação. Quando os atingidos são as crianças ou jovens, isso também se dá por conta das estratégias de aproximação e dos métodos dos aliciadores para ganhar a confiança das vítimas.   

Como acontecem os crimes?   

Os extensionistas explicam que adultos não acreditam que abusos podem ocorrer com seus filhos, pois creem que as informações que já possuem são suficientes para protegê-los. De acordo com Ana Carolina Szczepanski Oliveira, estudante de Análise de Desenvolvimento de Sistemas da UFPR, esse excesso de confiança gera a falta de cuidado. “As pessoas acreditam saber o que fazem, porém não conhecem os artifícios dos criminosos”, comenta. 

Ana dá um exemplo de estratégia de um aliciador: um adulto cria dois perfis na Internet: de uma menina e de um garoto. Então, ele usa o perfil masculino e fala para um adolescente sobre uma menina interessada no jovem.  Após o adolescente conversar por algum tempo com a “menina”, ela começa a pedir “nudes” ao rapaz, que cai na armadilha. A partir daío menor é chantageado pelo adulto e sofre ameaças. Pamella Mariano, aluna de Informática Biomédica da UFPR, explica que esse processo faz parte da teoria da comunicação ludibriante, conforme quadro abaixo. 

Artes: Juliana Barbosa

O fato de a Internet possibilitar o acesso a pessoas de diferentes lugares, sem limites de idade, também contribui para o aliciamento, como explica Daniel Adriano Rocha da Silva, aluno de especialização em Engenharia de Software da UFPR. “O aliciador tem a motivação de estar em um ambiente em que se pode fazer muitas coisas sem ser reconhecido. Por outro lado, há quem se expõe demais, criando perfis para serem aceitos em um determinado grupo. O aliciador consegue pescar essa vulnerabilidade e atrair o adolescente”. 

Como identificar que algo está errado?  

Os estudantes envolvidos no projeto relatam diversos sinais de um possível aliciamento digital. 

Camila Ribeiro da Costa, aluna de Psicologia da UniBrasil e voluntária no Proteca, aponta que os principais são relacionados ao comportamento: mudança de humor; agitação acima ou abaixo do normal; agressividade; timidez, maior desinibição ou recolhimento. É preciso também ficar atento se eles começam a esconder os celulares conforme um adulto se aproxima, não deixam ninguém mexer no aparelho ou ver o que estão fazendo. O silêncio também pode ser um sinal: quando a criança ou adolescente não diz o que gera a raiva ou descontentamento, é necessário investigar a origem dessas atitudes.  

A estudante explica ainda que, com a pandemia, os conflitos em casa aumentaram, pois, as pessoas estão reunidas por mais tempo em um único espaço. Nesse ambiente, o acesso à Internet se torna atraente. A Internet acaba sendo uma fuga da realidade. A rede é aquele lugar em que ninguém a critica, que ninguém está brigando com ela”, ressalta Camila.    

Os alunos lembram que pedofilia, abuso sexual, exploração infantil, aliciamento de menores são temas que a maioria das pessoas se recusam a falar. Bruna Cruz, estudante de Informática Biomédica da UFPR, percebe a falta de preparo emocional de pais ou responsáveis ao se deparar com uma situação de aliciamento ou abuso.  Isso faz com que, por exemplo, eles não levem uma denúncia adiante. Dieferson Cruz, da especialização em Inteligência Artificial Aplicada da UFPR, menciona outro motivo para não se falar do problemaa vergonha de se expor que foi vítima de um desses crimes, por medo de retaliação por parte dos criminosos, que muitas vezes ameaçam o menor ou seus familiares. 

Quais as soluções propostas pelo Proteca? 

A equipe do Proteca entende que a escola é um ambiente propicio para a resolução do problema, pois é onde crianças e adolescentes se sentem mais à vontade.  “A gente percebeu que os professores e gestores são um excelente canal para manifestação das crianças”, comenta a professora Elenice. 

Os profissionais envolvidos do projeto acreditam que, na escola, as crianças têm o costume de falar e mostrar o que fazem no celular para os colegas e professores Por isso, o grupo propõe um trabalho de sensibilização, mostrando por meio de palestras em escolas e universidades como acontecem os crimesElenice esclarece que quando jovens falam para jovens, o assunto atinge de maneira mais efetiva, além de transformar os locais em ambientes favoráveis ao surgimento de relatos e de ajuda mútua. 

Enquanto não é possível o trabalho presencial, a equipe disponibiliza conteúdo sobre prevenção a crimes digitais no Facebook e no InstagramEles planejam também a criação de um aplicativo de fácil acesso, tanto para os pais quanto para as crianças. A ideia é que ele seja lúdico e dinâmico para prender a atenção e entender as estratégias dos aliciadores. Para a execuçãoo grupo conta com a metodologia de Design Sprint, cuja premissa é a união de diversas pessoas e conhecimentos para criar uma solução prática para desenvolvimento de novos serviços e produtos. “São grupos de trabalho que têm sinergia e ao final têm o propósito em comum. A grande riqueza é buscar desenvolver isso, de fato, com a multidisciplinaridade”, enfatiza Erica Marques, facilitadora do Google Business Group Curitiba e voluntária do Proteca. 

Está em andamento também a criação de um novo portal para reunir informações sobre o tema. A página será alimentada com os resultados das palestras e pesquisas realizadas pela equipe do projeto e outros estudiosos sobre o assunto. De acordo com a professora Elenice, o site contemplará entrevistas, livros, teses, monografias, da UFPR e de outras instituições. Outro produto será uma cartilha diferenciada que, de forma simples, trará conteúdos para todos os públicos, como ressalta Novak: “Nossa ideia é criar uma cartilha que possa ser direcionada às comunidades distantes, à comunidade onde as pessoas têm dificuldade de acesso, de comunicação, dificuldade social, com informações simples para que elas saibam como se prevenirEstar ali na raiz do problema, em que muitas pessoas não têm oportunidade, não tem informaçãoA previsão é de que este conteúdo esteja disponível à comunidade nos próximos meses. 

Para a coordenadora do Proteca, a disponibilidade dos estudantes e voluntários externos em trabalhar em um tema crítico é um diferencial das ações. Todos chegaram ao projeto como voluntários, até os que hoje são bolsistas. Eles vão fazer a diferença, pois estão contribuindo com algo que muitos não tiveram coragem. Por isso, a minha consideração a este grupo é muito grande”, conclui a professora Elenice. 

 Por Louiselene Meneses, com orientação de João Cubas 

Sugestões

Seminário de Extensão sobre Enoturismo e o Desenvolvimento da Economia Local: as experiências italianas
O Departamento de Administração Geral e Aplicada da Universidade Federal do Paraná (UFPR) recebe um renomado...
Concurso de Identidade Visual do Projeto Ciências Agrárias em Ação na ONG Coletivo Inclusão
O Projeto de Extensão “Ciências Agrárias em Ação na ONG Coletivo Inclusão”, do Departamento de Economia...
Projeto LabCD da UFPR está com edital para seleção de bolsistas de extensão 
A Coordenação do Projeto de Extensão Laboratório de Cultura Digital da Universidade Federal do Paraná...
Seminário em Curitiba discute democracia brasileira com o apoio da UFPR
Os abalos e os riscos contínuos à democracia brasileira serão temas abordados durante o seminário “A...