Os efeitos colaterais do uso do álcool gel na pele e a opção por outros desinfetantes foram algumas das dúvidas da sociedade enviadas para a campanha “Pergunte aos Cientistas” nessa semana. A dica dos 12 pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) que responderam às perguntas é priorizar lavar as mãos com água e sabão quando estiver em casa e usar o álcool 70% líquido ou gel somente quando estiver na rua. “Ainda, para evitar o ressecamento das mãos, depois de secá-las, use um hidratante, que ajuda devido à sua capacidade de retenção de água na epiderme, restaurando a barreira cutânea e prevenindo irritações”, orientam.
As perguntas da população foram respondidas pelas cientistas Alexandra Acco, Cristina Jark Stern, Juliana Geremias Chichorro e Maria Fernanda de Paula Werner, professoras do Departamento de Farmacologia; doutorandas Maria Carolina Stipp e Bruna Barbosa da Luz e mestrandas Vanessa Bordenowsky Pereira Lejeune e Daiane Momo Daneluz, do Programa de Pós-graduação em Farmacologia; e Patricia Dalzoto, Adriana Mercadante e Edneia Amancio, professoras do Departamento de Patologia Básica. Também participou o presidente da Comissão de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19 da UFPR, Emanuel Maltempi de Souza, professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular.
Para participar da campanha “Pergunte aos Cientistas”, da Agência Escola de Comunicação Pública e Divulgação Científica e Cultural da UFPR, basta enviar a pergunta ao e-mail agenciacomunicacaoufpr@gmail.com ou no direct do perfil @agenciaescolaufpr no Instagram, com nome completo, idade, profissão e cidade onde reside.
Prevenção
“Quais são os efeitos colaterais que podemos ter devido ao uso de álcool gel 70% na pele?” (Maria Rosinei Kotkonski Buba, 45 anos, técnica em enfermagem, Rio Negro-PR)
“Posso trocar o álcool em gel 70% pelo uso do Lysoform sem misturar com água? Enquanto usava o Lysoform puro minhas mãos ficavam lisas, agora com o álcool em gel minhas mãos parecem uma lixa. Não há hidratante que dê jeito nelas. Não entendo a composição dele e minha dúvida é se realmente vou higienizar corretamente” (Maria Lucia, advogada, 61 anos, Toledo-PR)
Cientistas UFPR – Olá, Maria Rosinei e Maria Lucia! A primeira informação importante é que nossa pele funciona como uma barreira protetora para nosso corpo – aliás, é o maior órgão do corpo humano. Formada por três camadas, a mais externa é a epiderme, que possui uma camada natural de gordura, chamado manto hidrolipídico, ou seja, uma emulsão de água e lipídeos (gordura) secretados pelas glândulas sudoríparas e sebáceas. Esse filme hidrolipídico tem como função proteger nossa pele contra agressões naturais e impede que a pele perca água e se torne ressecada. A recomendação do Ministério da Saúde é mantermos nossas mãos higienizadas, lavando-as com água e sabão, e quando não for possível, usar o álcool gel 70% para evitar infecção se tocarmos em superfícies possivelmente contaminadas com o vírus SARS-COV-2. Quando usamos o álcool 70% para higienizar as mãos, removemos essa proteção, pois o álcool é um solvente que tem a capacidade de dissolver as gorduras (lipídios). Desta forma, nossa pele perde água e torna-se ressecada. Isso acontece também quando lavamos as mãos com água e sabão muitas vezes. O uso do álcool 70% em gel diminui um pouco esse ressecamento, pois nesta formulação há substâncias que protegem a pele, que são usadas normalmente em produtos cosméticos. Como estamos fazendo essa desinfecção das mãos muito mais vezes ao dia, o resultado é que perdemos parte dessa camada protetora, levando ao ressecamento da pele. Por isso fica mais áspera e é possível que ocorram rachaduras, irritação e dermatites. A dica para evitar que isso ocorra é priorizar lavar as mãos com água e sabão quando estiver em casa e usar o álcool 70% líquido ou gel somente quando estiver na rua.
Quanto ao uso de outros desinfetantes, como o Lysoform e a água sanitária, estes não são indicados para higienizar as mãos. O Lysoform é um desinfetante líquido cujo princípio ativo é o cloreto de benzalcônio, que possui ação germicida contra um grande número de fungos e bactérias, mas alguns resultados indicam que não é tão eficiente quanto o álcool na eliminação de coronavírus. O Lysoform é regularizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso doméstico, ou seja, pode ser utilizado na higienização de superfícies, pisos, azulejos e vasos sanitários, e também para lavar as roupas, mas o uso bruto ou diluído não é recomendado. De acordo com as especificações do fabricante, isso significa que não deve ser utilizado puro ou diluído para higienizar as mãos, pois seus componentes podem ser prejudiciais à saúde, sendo recomendado usar luvas e evitar o contato com a pele. Por isso leia o rótulo com atenção e use apenas os que são recomendados para higienização das mãos.
Esperamos que suas dúvidas tenham sido esclarecidas e ressaltamos que o ideal continua sendo a higienização das mãos com água e sabão ou álcool 70%. Alguns produtos a base de álcool 70%, em gel ou líquido, contêm em sua formulação agentes umectantes, como a glicerina, que reduzem a perda de água. Se puderem, procurem por esses produtos. Ainda, para evitar o ressecamento das mãos, depois de secá-las, use um hidratante, que ajuda devido à sua capacidade de retenção de água na epiderme, restaurando a barreira cutânea e prevenindo irritações.
“Se o álcool é tão eficiente, por que não pode borrifar o mesmo nas máscaras para reutilização das mesmas?” (Edson Igor Malschitzky, 59 anos, corretor de seguros, União da Vitória-PR)
Cientistas UFPR – Olá, Edson! Esperamos que esteja bem. A sua pergunta é bastante interessante e, com certeza, outras pessoas têm a mesma dúvida. O álcool é realmente um desinfetante bastante eficiente para a eliminação de uma série de microrganismos e vírus, especialmente o coronavírus. O coronavírus tem uma camada de gordura (lipídios), chamada envelope, que é dissolvida pelo álcool e pelo sabão, o que elimina o vírus. Entretanto, o álcool é recomendado para uso em superfícies e na pele, e não deve ser usado em tecidos, pois não há eficácia comprovada de sua ação. Para tecidos, existem outras formas mais eficientes de desinfecção e limpeza. As máscaras comerciais, aquelas usadas pelos profissionais da saúde, são descartáveis e não podem ser reutilizadas. Por outro lado, as máscaras caseiras de pano recomendadas pelo Ministério da Saúde podem e devem ser lavadas para que possam ser usadas novamente.
O uso do álcool não é recomendado para assepsia das máscaras caseiras. Mesmo na concentração de 70%, o álcool é uma substância inflamável, ou seja, ao ser borrifado sob as máscaras, aumenta as chances de queimaduras na face. Além disso, para se obter uma assepsia eficaz, você precisaria borrifar uma grande quantidade de álcool sob toda máscara, deixando-a úmida. Esse fator é problemático, principalmente porque a máscara estará posicionada diretamente sob o nariz e a boca e você estará respirando o álcool borrifado, que é rapidamente absorvido e vai para o sangue. O resultado seria o mesmo que a ingestão de álcool. Dependendo da concentração de etanol inalado, você poderá apresentar um quadro de intoxicação por álcool, com sintomas que variam entre irritação das vias aéreas superiores, dores de cabeça, cansaço e sonolência. Os efeitos adversos observados irão depender de quanto álcool for inalado. Após duas horas do uso da máscara, ou antes disso se estiver úmida por causa de tosse, espirro, saliva, deve ser removida pelos elásticos, com as mãos limpas. As recomendações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) são para que as máscaras úmidas não sejam utilizadas, pois as mesmas perdem a eficácia. Se não for lavar imediatamente, guarde-a em um saco plástico até o momento de lavá-la. Por esses motivos, recomenda-se que as máscaras sejam lavadas com água corrente e sabão neutro e sejam deixadas de molho em uma solução de água com água sanitária (diluída 25 vezes, ou seja, contendo aproximadamente 0,1% de hipoclorito de sódio) por 30 minutos. Em seguida, as máscaras devem ser lavadas em água corrente para remover totalmente o desinfetante. As mesmas devem ser secadas completamente, e depois passadas a ferro quente, e armazenadas separadamente em recipientes fechados. Observação: a solução de água sanitária deve ser a 0,1%. Para isso, você pode diluir duas colheres de sopa de água sanitária em um litro de água.
“Onde encontrar máscaras para vender? Nem todas as pessoas conseguem fazer suas próprias e muitos que fazem não fazem de acordo com as normas” (Paulo Roberto Barbieri)
Cientistas UFPR – A sua preocupação é importante, pois a procura por máscaras está muito grande e está difícil mesmo encontrá-las. É importante lembrar que as máscaras vendidas em farmácias e em lojas de produtos médicos devem ser destinadas apenas aos profissionais de saúde. Estes profissionais estão na linha de frente no combate ao coronavírus e não podem ficar sem equipamentos de proteção individual de jeito nenhum. Por isso o Ministério da Saúde recomenda o uso de máscaras caseiras, feitas de tecido. Você mesmo pode fazer de uma forma bem simples, de acordo com as recomendações do Ministério da Saúde. No portal UFPR também há um passo a passo para confecção de máscaras, seguindo também o que preconiza o Ministério da Saúde. Se você não tem como confeccioná-las, muitas costureiras estão fazendo máscaras para vender. Você pode encontrar uma no seu bairro e pode inclusive levar os modelos encontrados nos endereços acima. Em algumas cidades, uma série de projetos vêm sendo feitos no sentido de produzir máscaras de tecido para venda ou mesmo para doação. E veja que legal, os feirantes da Feira do Largo da Ordem de Curitiba agora têm uma plataforma virtual. Nesse link você encontra máscaras feitas pelos artesãos a um custo em torno de R$ 5. Se realmente não for possível confeccionar sua máscara, procure nas redes sociais (Facebook e Instagram) por estas iniciativas. Por exemplo, a ONG Atitude na Cabeça oferece a um custo de R$ 7 e você pode pedir pelo WhatsApp (41) 99677-1134. Nessas iniciativas a venda das máscaras subsidia a aquisição de tecidos e ainda propicia uma fonte de renda para profissionais que estão sem trabalho durante o distanciamento social. Algumas farmácias também estão comercializando máscaras de tecido. Vale a pena fazer uma pesquisa para saber se tem alguma na sua cidade. Por exemplo, a Big Farma no Jardim das Américas, em Curitiba, está vendendo máscaras de tecido por R$ 8. Além dessas opções, nesse link você aprende a fazer máscaras apenas dobrando o tecido e nesse link há dicas para máscaras em origami. Mas, importante: não deixe de usar a máscara ao sair, pois é uma atitude coletiva para prevenção da Covid-19!
“Se pegamos o coronavírus também através dos olhos, por que é menos importante protegê-los no dia a dia nas ruas?” (Ivone Piseta, 43 anos, estudante de enfermagem, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Oi, Ivone! Ótima pergunta! O contágio da Covid-19 acontece com o contato das gotículas produzidas pela respiração, tosse ou espirro de pessoas contaminadas com a mucosa dos olhos, da boca ou do nariz. Essas gotículas podem ainda se depositar sobre e contaminar superfícies. Ao tocarmos essas superfícies contaminadas e levarmos as mãos à boca, ao nariz e aos olhos, podemos introduzir o vírus nestas mucosas. Portanto, é importantíssimo proteger os olhos sim, e uma maneira de fazer isso é não levar as mãos aos olhos e manter a distância de 1,5 a dois metros entre as pessoas. Assim evitamos que as gotículas alcancem os olhos: evitando tocar olhos com as mãos e também lavando as mãos com água e sabão sempre que possível. O uso da máscara por todos, recomendado pelo Ministério da Saúde, protege exatamente contra a contaminação pelas gotículas da orofaringe, pois o tecido reduz a saída de partículas pequenas em até 78%. Por isso que sempre dizemos: a máscara protege principalmente outras pessoas ao seu redor, não só quem está utilizando. Se uma pessoa está sem máscara, ela emite as partículas que podem entrar em contato com os olhos e contaminar outra pessoa. Mas se todos estiverem usando máscara, o produto da respiração ficará contido na máscara de cada um e não chegará no outro. Então mesmo sem uma barreira física nos olhos, o uso da máscara reduz o contágio por essa via também.
A máscara é particularmente importante no caso das pessoas assintomáticas, aquelas que têm o vírus, mas ainda não apresentaram sintomas da Covid-19. Como a doença pode levar de um a 14 dias para se manifestar, embora o mais comum seja em torno de cinco dias, uma pessoa pode estar infectada e transmitindo o coronavírus sem saber. A maioria das pessoas infectadas com o novo coronavírus desenvolve sintomas leves ou nenhum sintoma. Um artigo recente, publicado na revista Science, estima que três quartos das infecções por coronavírus são causadas por indivíduos assintomáticos. Deste modo, a máscara protege quem está perto se você estiver assintomático. Claro que existem óculos de proteção e máscaras do tipo shield (escudo) que cobrem o rosto inteiro, mas o uso desses equipamentos de proteção individual é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia dentro de ambientes hospitalares para os profissionais que estão em contato frequente com pacientes ou com amostras de pacientes, como quem faz os exames. Você pode usar óculos de sol ou de grau, que também são uma barreira física e oferecem proteção adicional. Mas lembre-se de higienizá-los com água e sabão ao retornar para casa.
“Meu questionamento é sobre o estudo que vem sendo realizado com o plasma de pessoas que já se curaram da doença. Considerando que há casos de pessoas infectadas e que são assintomáticas, estão sendo feitos estudos também com essas pessoas? Uma vez que não desenvolvem sintomas, talvez haja no organismo dessas pessoas alguma característica que possa auxiliar no desenvolvimento de algum tratamento ou vacina” (Louise Ritter Wiedmer, 40 anos, servidora pública, Lapa-PR)
Cientistas UFPR – Louise, sua pergunta é muito pertinente! A Covid-19 não se desenvolve de maneira uniforme, ou seja, não mantém o mesmo padrão de sintomas em todos os indivíduos que foram infectados com o SARS-CoV-2. Apesar de ser uma doença muito nova, as equipes de cientistas vêm recebendo informações dos profissionais de saúde que estão atendendo os pacientes contaminados. Os sintomas iniciais da Covid-19 são semelhantes aos de um resfriado, como febre, tosse e dificuldade para respirar. Até o momento, cerca de cinco meses de pandemia, foi observado que existem pacientes contaminados que desenvolvem a forma mais grave da Covid-19, exigindo internamento em UTI e ventilação, e quando atingem o estado crítico, a mortalidade pode passar dos 50% nesses casos. Paralelamente, existem muitos indivíduos contaminados com o SARS-CoV-2 que não apresentam nenhum sintoma da doença, os considerados assintomáticos, mas com elevada probabilidade de contaminar a população. Uma das explicações para essa diferença pode estar relacionada à carga viral de cada paciente, ou seja, quanto maior a carga viral, pior o prognóstico do indivíduo. Até o momento, não existem estudos científicos que possam explicar por que mesmo contaminados com o vírus, alguns indivíduos permaneçam assintomáticos, sem desenvolver forma grave da doença. Em todo o mundo, a situação ideal para o controle da infecção com o SARS-CoV-2 seria a realização de exames de alta precisão para detectar o percentual de indivíduos contaminados sintomáticos e assintomáticos, isolando quem tem o vírus até que testem negativo (cerca de duas semanas). Infelizmente, essa situação ideal ainda não é possível de ser alcançada. Por isso estudos com pessoas assintomáticas ainda são um desafio em meio à pandemia, considerando que a falta de sintomas diminui a chance da identificação destes pacientes. Um dos testes para comprovar a infecção do SARS-CoV-2 envolve a análise sorológica (do plasma) da produção de dois anticorpos, as imunoglobulinas do tipo M (IgM) e G (IgG).
Então, como ainda não temos uma vacina disponível para ensinar o organismo a se defender do SARS-CoV-2, pode-se terapeuticamente “pular” uma etapa no processo de formação de anticorpos nos casos mais graves (ativação do sistema imune adaptativo), fornecendo aos pacientes os anticorpos, que são proteínas capazes de se ligar aos vírus e neutralizá-los, ou seja, impedi-los de entrar nas células do indivíduo, portanto bloqueando a infecção viral. O fornecimento desses anticorpos é conhecido como “Terapia de Plasma Convalescente”, quando o plasma, que é a parte líquida do sangue, de um doador que apresenta anticorpos contra o SARS-CoV-2, é transferido a um paciente ainda doente. Esses anticorpos começam a ser produzidos cerca de cinco dias após a infecção e depois de 10 a 15 dias atingem níveis suficientes para ajudar a eliminar o vírus. O resultado esperado é que o paciente doente receba os anticorpos prontos que o corpo do doador produziu contra o SARS-CoV-2, conferindo a esse paciente doente a imunidade imediata e mais chances de reconhecer e destruir o vírus. Este procedimento já foi realizado em outras infecções por vírus da mesma família do SARS-CoV-2, a SARS em 2003 e a MERS em 2012, e até para doenças como o sarampo, quando ainda não havia vacina. Esse não é um procedimento novo e já é usado para doenças virais há mais de 100 anos – há relatos de ter sido utilizado na pandemia da gripe espanhola.
O Ministério da Saúde já aprovou pesquisas que vêm sendo realizadas em centros de excelência para avaliar a segurança e a eficácia da “Terapia de Plasma Convalescente”. Aqui no Brasil, há alguns hospitais que estão participando de um ensaio clínico que pretende incluir 400 indivíduos acometidos pela Covid-19, sendo que 200 pacientes receberão o tratamento (a transferência de plasma) e 200 não. Participam do estudo os centros de excelência em pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein, o Hospital Sírio Libanês, a Universidade de São Paulo (USP) e a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Assim como no Brasil, vários países estão avaliando os resultados desta terapia, que indicam uma diminuição da carga viral. Recentemente um trabalho publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences mostrou a eficácia do procedimento, embora tenha usado um número muito pequeno de pacientes (10), além de outros medicamentos como antivirais.
No entanto, não é simples escolher o doador e o paciente que vai receber o plasma devido aos conhecidos riscos de transfusões entre doadores e pacientes, como infecção por vírus HIV, hepatite B e hepatite C. Os cientistas continuam buscando um tratamento mais eficaz contra a Covid-19 e mesmo com um grande potencial terapêutico a “Terapia de Plasma Convalescente” ainda é considerada um estudo experimental que precisa de mais resultados, mesmo seguindo as orientações da Anvisa e do Ministério da Saúde. Sendo assim, os cuidados com a higiene ambiental e pessoal (higienizar e desinfetar bem as mãos) associadas ao distanciamento social continuam sendo extremamente importantes neste momento de pandemia.
Por que não usar plasma de pacientes assintomáticos, como você sugeriu? Não encontramos essa informação nos experimentos conduzidos no Brasil. Mas a agência americana chamada FDA (Food and Drug Administration) define critérios claros para doadores, entre eles que exista evidência de Covid-19 documentada laboratorialmente por teste de RT-PCR (identifica a presença do material genético do vírus) em amostra nasofaringeal, ou seja, soropositivo para SARS-CoV-2 em testes imunológico se o vírus não foi detectado quando se suspeitava de Covid-19. Ou seja, essa diretriz não exclui os assintomáticos desde que o vírus tenha sido detectado. A agência europeia é ainda mais clara a respeito, pois define que portadores assintomáticos com presença de SARS-CoV-2 confirmado por RT-PCR podem também doar plasma após pelo menos 14 dias do isolamento preventivo. De forma geral, para doar é necessário ter teste RT-PCR positivo ou sintomas claros da Covid-19, devem ter passado pelo menos 14 dias após recuperação completa, ou pelo menos 14 dias após o vírus não ser mais detectado no trato respiratório. Outro fator importante é a quantidade de anticorpos, medida em título.
No Brasil, infelizmente, os assintomáticos não estão sendo identificados por falta de testar mesmo as pessoas que têm sintomas leves. Portanto, sua ideia de procurar nesses indivíduos assintomáticos a possível estratégia de ataque ao vírus é viável e já está sendo utilizada. A transferência de plasma de pacientes convalescentes é uma estratégia que pode ser rapidamente implementada como um tratamento para diminuir a letalidade e tempo de hospital.
“O coronavírus entra na célula através das proteínas em sua volta. É possível saber que tipo de proteínas são essas? É possível reduzir a atividade do vírus no corpo, aplicando excesso dessa mesma proteína na pessoa infectada, fazendo com que as células alimentadas demorem mais a se infectar, dando tempo para o corpo reagir contra o vírus? Quais alimentos possuem essas proteínas?” (Wilian Neves, analista de desenvolvimento, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Prezado Wilian, sua sugestão é muito interessante e já há grupos de pesquisa pensando nisso. Em primeiro lugar é importante dizer que muitos estudos de biologia molecular estão sendo feitos para esclarecer a estrutura do vírus e os fatores que o levam a infectar as células humanas. O SARS-CoV-2 é um vírus envelopado e composto de uma fita simples de RNA, seu material genético. Este RNA viral codifica algumas proteínas, sendo quatro proteínas estruturais essenciais: proteína N que se associa com RNA viral, que é recoberto por uma membrana lipídica contendo a proteína M, a proteína E e proteína S da espícula. A proteína S das espículas, que dá o aspecto de “espinho” do vírus, é essencial para infecção viral, pois interage com a enzima conversora da angiotensina 2 (ACE2) presente nas células humanas. Através desta interação ocorre a fusão do vírus com as células humanas e a transferência do RNA viral para as células, que se tornam assim infectadas. A ACE2 também é uma proteína presente em células do sistema gastrointestinal, coração, rins e pulmões. Então seria lógico pensar que um medicamento que tivesse a ACE2 como alvo poderia reduzir a infecção viral.
Alguns cientistas estão tentando pesquisar anticorpos que tenham a capacidade de inibir a ligação das proteínas virais, como a S, com as proteínas das células humanas. Curiosamente, alguns dos anticorpos neutralizantes específicos para SARS-CoV mais potentes (por exemplo, m396, CR3014) que têm como alvo a ligação com ACE2, falharam. Assim, ainda é necessário desenvolver novos anticorpos monoclonais que possam atuar de maneira mais específica na Covid-19, e esta não é uma tarefa simples, nem barata. Normalmente os anticorpos monoclonais, que são medicamentos imunobiológicos utilizados em terapias de câncer, asma e outras doenças, têm um custo muito elevado, inviabilizando sua utilização em grande escala. Nesta mesma linha, uma empresa europeia privada (Apeiron Biologics AG) que produz medicamentos imunobiológicos há poucos dias anunciou que recebeu autorização para iniciar na Áustria, Alemanha e Dinamarca estudos clínicos (fase II) em 200 pacientes severamente infectados pelo SARS-CoV-2, com APN01. A APN01 é uma forma recombinante de ACE2 produzida por técnicas de engenharia genética, que poderia reduzir a viremia, bloquear a infecção de células pelo coronavírus e reduzir os danos pulmonares da doença. Mas temos que aguardar os resultados deste estudo, que ainda está em fase inicial.
Quanto à segunda parte da sua pergunta, as proteínas ACE1 e ACE2, que são enzimas e estão presentes em órgãos e algumas fibras musculares, não estão em abundância nos alimentos que consumimos, bem como não existem em vegetais. Além disso, por via oral essas proteínas seriam degradadas por nossas proteases digestivas. Portanto, não se deve considerar a possibilidade de adquirir tais proteínas de fontes alimentares.
“Minha mãe veio passar férias em Londres na minha casa. Porém ela tem 64 anos, diabetes e pressão alta controlada com medicamentos. Ela volta ao Brasil dia 4 de maio e estou muito preocupada com o trajeto e a viagem. O que posso fazer para que mesmo estando no voo ela esteja segura? Uso de máscaras e luvas? Ou somente máscara?” (Daiane Benatto Pereira, 33 anos, diarista, Londres-Inglaterra)
Cientistas UFPR – Segundo recomendações do Ministério da Saúde, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Organização Mundial de Saúde (OMS), os cuidados que os passageiros devem ter dentro da aeronave são válidos para todos, sendo ou não do grupo de risco. Isto porque o vírus é transmitido pelo contato das mãos com os olhos ou vias aéreas ao se tocar o mesmo lugar que uma pessoa infectada tocou, respirar no mesmo ambiente ou ter contato próximo. Por isso é indicado o uso de máscaras durante toda a viagem, nas dependências do aeroporto e interior da aeronave. É fundamental lavar as mãos com frequência e/ou sempre que necessário com água e sabão, seguido do uso do álcool gel e evitar levar as mãos ao rosto, olhos, nariz e boca. Provavelmente todos serão instruídos em terra e durante o voo sobre o distanciamento, etiqueta respiratória, higiene e o uso correto das máscaras. Lembrando que a máscara pode ser usada cerca de três horas e após este período deve ser trocada por uma nova. Em voos longos, essa troca deverá ser feita mais de uma vez.
O uso de luvas não é necessário, mas deve-se lavar as mãos com água e sabão e, quando não for possível, use álcool gel 70% frequentemente. A luva apenas protege as mãos do contato com o vírus, mas uma vez contaminada pode permitir a infecção se tocar no rosto. Portanto, deve-se cuidar para não tocar o rosto, pois mesmo com luvas poderá se contaminar. Além disso, a tripulação presente no voo fornecerá todas as instruções necessárias para reconhecimento de sinais e sintomas de Covid-19. Todas as áreas dos aeroportos e aeronaves contam com equipes treinadas para limpeza e desinfecção aprimorada de acordo com as autoridades sanitárias, seguindo rigorosos procedimentos padronizados para todos os casos, suspeitos ou não, garantindo mais segurança a todos os passageiros e tripulação.
Com tantos voos cancelados, o movimento nos aeroportos está reduzido e este é mais um fator de segurança a quem realmente necessita realizar sua viagem, como é o caso de sua mãe. Por isso também deve ser possível manter uma distância de pelo menos um assento entre os passageiros. Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano (CDC, sigla em inglês), o risco de infecção por vírus e microrganismos dentro de um avião é baixo. O ar no interior do avião é limpo por um instrumento chamado Filtro de Ar Particulado de Alta Eficiência (HEPA, na sigla em inglês). Este sistema é capaz de capturar partículas menores do que aquelas que são capturadas pelos sistemas comuns de ar-condicionado, incluindo vírus. Desta forma, o ar em um avião poder ter qualidade melhor que outros ambientes que também possuem ar-condicionado. Embora um avião cheio tenha mais pessoas por metro quadrado, o ar é trocado e renovado de forma mais rápida, a cada dois ou três minutos, comparado à troca que acontece entre 10 e 12 minutos em um prédio com ar-condicionado, por exemplo.
No aeroporto:
1) Para realizar o check-in prefira utilizar os equipamentos de autoatendimento, evitando filas e mantendo distanciamento entre as pessoas. Lembre-se de higienizar as mãos antes e depois do uso.
2) Manter distância de pelo menos dois metros de outras pessoas na verificação de segurança, controle de passaporte, espera, embarque e acesso à aeronave.
3) Higienizar as mãos com álcool gel após cada etapa do processo até o embarque.
No site da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) há várias dicas que podem ajudar. Além disso, é importante informar a companhia aérea por sua mãe se tratar de um grupo de risco. Seguindo as recomendações e as instruções recebidas em solo e na aeronave, os riscos de contaminação são reduzidos e ela poderá viajar com tranquilidade, lembrando de manter isolamento por pelo menos sete dias após a chegada ao Brasil, ou 14 dias caso apresente algum sintoma.
“Como agir após os 14 dias de isolamento social de alguém que provavelmente teve Covid-19, porém sem exame? Após esses 14 dias, é possível ter contato para auxiliá-lo? Ainda ocorre transmissão após esse período? Qual seria o tempo ideal?” (Letícia Cuman, 36 anos, fisioterapeuta, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Oi, Letícia! Acredito que essa dúvida é compartilhada por muita gente, pois ninguém tem muita certeza neste momento, principalmente porque não estão sendo feitos testes em casos leves. O ideal é ter um exame negativo de swab da nasofaringe após o desaparecimento dos sintomas. Aqui, o Ministério da Saúde recomenda o período de 14 dias de isolamento depois do início dos sintomas, que é o tempo que vírus permanece no nosso organismo na maioria dos casos leves, período em que podem infectar outras pessoas. O período ideal ainda é incerto devido às características ainda não identificadas da doença. A regra geral é que se a pessoa estiver sem sintomas, isso é indicativo de que está curada e que não tem mais carga viral, ou seja, não deve ser capaz de transmitir o vírus e pode retomar suas atividades. Se os sintomas persistirem, o isolamento deve ser mantido até o momento em que estes desapareçam. O tempo ideal de isolamento vai depender do tempo de evolução da doença, que é variável, podendo levar até mais que 20 dias. Uma vez que há incerteza sobre o tempo em que a pessoa é capaz de transmitir seria prudente sempre usar máscara para proteger os outros e continuar evitando aglomerações.
“Sou dentista e estou em dúvida quanto à limpeza e manipulação do material odontológico. Na rotina clínica usamos sabão enzimático para limpeza dos instrumentais, deixamos o material de molho em água com sabão diluído. Após essa limpeza, o material é levado à autoclave. Porém meu medo é na manipulação desse material entre a lavagem e o processo de embalar antes de esterilizar. A limpeza com o sabão enzimático é eficaz na eliminação do vírus?” (Itauana Rech, dentista)
Cientistas UFPR – Olá, Itauana! Sua dúvida é muito pertinente, pois profissionais da área da saúde estão em contato direto com os pacientes. Você pode continuar com o processo de lavagem dos instrumentos como sempre faz. O sabão enzimático é capaz de eliminar o coronavírus e a autoclave esteriliza o material, eliminando qualquer germe (inclusive vírus) remanescente. Portanto, não há risco. No momento de lavar os instrumentos é importante usar luvas para não entrar em contato com o material contaminado e descartá-las imediatamente após o uso. No caso de dentistas é importante que o profissional se proteja bem durante o atendimento com o uso de equipamentos de proteção adequados para se proteger de aerossóis. O Conselho Regional de Odontologia de São Paulo recomenda:
1) Isolamento respiratório com o uso de máscaras cirúrgicas N95 e trocá-las a cada duas horas para evitar a perda da eficácia, no caso de máscaras habituais.
2) Utilizar o uso de avental descartável, luvas e óculos de proteção. O uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI) deve ser priorizado.
3) Lavar frequentemente as mãos, principalmente antes e depois de tratar o paciente.
4) Após cada atendimento, realizar a desinfecção de todos os ambientes de trabalho, pois o vírus pode ser transportado pelos aerossóis e sobreviver nessas superfícies por mais de nove dias.
5) Cuidados redobrados com o manuseio de modelos e moldes para efetiva desinfecção.
6) Evitar cumprimentos como beijos ou aperto de mão.
7) Seguir rigorosamente todos os procedimentos do manuseio para limpeza e esterilização dos instrumentais para evitar que o vírus seja propagado.
Contaminação
“Tenho ouvido falar de pessoas com muito boa saúde, sem qualquer sinal de imunodeficiência e que foram acometidas pela Covid-19 e que vieram a óbito. Isso é real que possa acontecer? Por quê? Em que grau de probabilidade?” (Walter Tadahiro Shima, professor, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Olá, Walter! Seu questionamento é muito importante e acaba sendo uma dúvida de todos nós. Ainda não conhecemos totalmente como a Covid-19 acomete o nosso organismo e nem como o nosso sistema imune responde ao novo coronavírus. O que inicialmente começou com uma infecção predominantemente de idosos tem se mostrado agora também letal em crianças, jovens e adultos com boas condições de saúde sendo infectadas e morrendo devido à Covid-19. A presença de comorbidades também pode tornar a infecção mais grave, em qualquer idade. Diabetes, doenças vasculares e doenças respiratórias são as principais comorbidades. Recentemente, as mulheres grávidas foram incluídas no grupo de risco, pois foram observados casos com complicações graves e até óbitos. Embora os dados mais importantes de mortalidade ainda sejam em portadores de comorbidades e de idade avançada, há trabalhos discutindo que a estrutura da população poderia explicar a diferença de fatalidade entre os países, seja pela convivência direta com doentes ou mesmo contato frequente.
Outro estudo em Nova York aponta que mais de 40% dos jovens/adultos internados apresentaram Índice de Massa Corporal (IMC) superior a 30 e tinham propensão a terem a Covid-19 de modo mais agressivo, aumentando a mortalidade entre faixas etárias mais baixas e, com isso, seria outro fator de risco a ser considerado. Um estudo da revista Lancet mostrou que a taxa de mortalidade por Covid-19 é 33 vezes maior que a da gripe sazonal em pessoas jovens na faixa etária de 20 a 29 anos. Mas tudo isso ainda é muito incipiente, e ainda há muito a se investigar. Por exemplo, na ausência de comorbidades, pessoas com Covid-19 com idade de 60 anos ou mais possuem aproximadamente 95% de chance de sobrevivência. No entanto, conforme você pontuou, temos observado jovens sem doenças pré-existentes com Covid-19 na sua forma grave. Ainda não podemos responder a sua pergunta com exatidão, as informações estão sendo obtidas conforme os eventos vão acontecendo e ainda há muitas dúvidas. O que podemos dizer é que, da mesma forma que respondemos de forma diferente a um medicamento, também fazemos isso em relação às doenças, ou seja, podemos ser mais ou menos resistentes a um determinado patógeno, dependendo de como nosso organismo responde a ele.
Sua pergunta também deve alertar a todos: não há grupo imune à Covid-19. A forma grave pode se desenvolver em qualquer pessoa. Além disso, muita gente tem uma doença crônica, como diabetes, ainda não diagnosticada. O pior momento para descobrir seria se for contagiado pelo SARS-CoV-2.
“O vírus pode ficar e ser transmitido pelos cabelos? Minha filha precisou sair da quarentena por causa do trabalho e, apesar de tomar as precauções necessárias quando chega à nossa casa, ela não lava os cabelos compridos todos os dias” (Claudiane Camargo Tormes Sales, 45 anos, professora da rede estadual do Paraná, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Oi, Claudiane! Seu questionamento é muito importante. Os cabelos são sim uma superfície que pode carregar o novo coronavírus. Se a distância entre as pessoas for menor que 1,5 a dois metros, as gotículas e aerossóis de um indivíduo que tosse ou espirra podem cair em qualquer superfície dentro dessa distância mencionada, inclusive nos cabelos de indivíduos. É também possível que essas gotículas contendo o vírus caiam em outros lugares (corrimão, mesas, cadeiras, entre outros) e uma pessoa que toque nessas superfícies depois passe a mão nos cabelos, o que é muito natural e um movimento quase involuntário, mas que pode levar à contaminação dos cabelos. Assim, há chances de sua filha carregar o novo coronavírus nos cabelos, sobretudo se ela vai para lugares onde há várias pessoas. É importante dizer que ainda não há estudos a respeito de quanto tempo o vírus em sua forma ativa pode durar no cabelo.
Precisamos tomar os cuidados de não tocar os olhos, a boca, o nariz e os cabelos, de lavar as mãos com água e sabão ou passar o álcool gel 70%. Além disso, recomenda-se usar os cabelos presos, diminuindo a chance de contaminação. Quem trabalha em ambiente hospitalar deve usar gorro justamente porque há suspeita de que o vírus possa ficar no cabelo. Embora não tenhamos muitos dados, sabemos que o vírus pode permanecer ativo por pelo menos algumas horas nas superfícies. Portanto, é recomendado que, ao retornar para casa, a pessoa tome banho, inclusive lavando os cabelos, e coloque as roupas usadas para lavar. Na impossibilidade de lavar os cabelos, pode-se utilizar shampoos a seco já que tem sabão, por exemplo, seguido de secador.
“Tenho doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), bronquiolite obliterante com pneumonia em organização (BOOP) inespecífica. Mesmo fazendo tratamento há anos sempre estou com tosse. Posso ser uma paciente assintomática ou necessariamente terei sintomas devido à doença respiratória presente?” (Regina Garcia Sobral Back, 51 anos, médica veterinária, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Olá, Regina! Você tem razão em se preocupar e procurar informações para reduzir a ansiedade. Nós ficamos muito contentes em poder contribuir. As DPOCs são fatores de risco para a Covid-19, uma vez que os pulmões são os órgãos mais atingidos pela doença. Não há registro de uma maior propensão dessas pessoas contraírem o vírus, mas sim de apresentar complicações devido à condição pré-existente. Nem toda pessoa do grupo de risco vai obrigatoriamente desenvolver os sintomas da doença – isso vai depender de como cada organismo reage à infecção. Segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia, portadores de doenças crônicas devem tomar medidas estritas para restringir o convívio social e, quando possível, desenvolver atividades na forma de home office. Parentes ou amigos saudáveis devem ser incumbidos de buscar receitas, evitando a necessidade dos pacientes comparecerem à consulta médica. Em caso de febre e sintomas respiratórios, devem procurar serviço médico especializado. Recomenda-se também que esses pacientes façam vacinação contra gripe (Influenza) e pneumococos. No seu caso em particular, se perceber que a tosse está mais intensa e tem características diferentes do que você está acostumada, é importante procurar auxílio médico, pois mesmo as gripes sazonais podem ser complicadoras de doenças pulmonares crônicas.
“Fiz cirurgia bariátrica em outubro de 2008, ou seja, há mais de 11 anos. Devido a ter a imunidade um pouco baixa e às vezes estar no limite das vitaminas, ferro etc., faço parte do grupo de risco ou não? Devido a isso estou mais propensa à contaminação? Acredito que não. Mas como moramos apenas eu e minha mãe que já é idosa, diabética e hipertensa, quando precisamos de algo do mercado ou coisa parecida sou eu quem sai de casa. Ela fica muito preocupada, pois afirma que eu sou grupo de risco também” (Edna Cristina Bueno Bighi Gazim, 43 anos, professora, Colombo-PR)
Cientistas UFPR – Oi, Edna! Sua preocupação faz muito sentido. Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, pacientes submetidos à cirurgia bariátrica e metabólica que perderam peso, melhoraram sua saúde e mantêm acompanhamento não estão no grupo de risco do novo coronavírus. Nesses casos os cuidados devem ser os mesmos de uma pessoa normal, a não ser que tenha mais que 60 anos. A forma grave da Covid-19 tem maior letalidade para as pessoas idosas ou que são portadoras de doenças crônicas, entre elas as ocasionadas pela obesidade, como hipertensão, cardiopatias e doenças respiratórias. Ainda, pessoas que apresentam imunossupressão estão no grupo de risco. Portanto, se você de fato tem a imunidade baixa, você faz parte do grupo de risco. Mas isso não quer dizer que há uma propensão maior em contrair a Covid-19. Também não quer dizer que, se contrair o vírus, você vai ter obrigatoriamente uma forma grave da doença. Pertencer ao grupo de risco apenas quer dizer que a chance de complicações mais graves da Covid-19 é maior do que da população geral. Essa conclusão foi tirada com base no que conhecemos até o momento, mas como a doença é nova, ainda temos muito a aprender. Você menciona que tem níveis baixos de algumas vitaminas e ferro. Talvez seu médico tenha prescrito medicamento para reposição nas doses adequadas, o que deve aumentar a proteção do seu sistema imune.
No caso da sua mãe, ela agrega mais fatores de risco e você está correta em mantê-la protegida em casa. Mas às vezes precisamos sair, não tem jeito. Neste caso, redobre o cuidado. Use máscara durante o tempo em que estiver fora de casa. Ao retornar, retire os sapatos usados, retire a máscara e lave-a apropriadamente. Lave as mãos com água e sabão ou use álcool 70% antes de manusear as compras. Higienize os produtos com um papel toalha embebido em álcool 70%, quando for possível (pacotes, caixas etc.) ou então lave com sabão e água. As hortaliças e frutas devem ser limpadas ou deixadas de molho por 15 minutos em uma solução de água e água sanitária (uma colher de sopa de água sanitária em um litro de água). Jogue as sacolas plásticas no lixo. Depois de guardar as compras, lave novamente as mãos, retire as roupas que usou para sair e coloque-as para lavar. É recomendado que se tome banho ao retornar da rua, inclusive lavando os cabelos. Se você usou bolsa, carteira, cartão de crédito, chaves e telefone celular, limpe-os com álcool 70%. Parece exagero, mas é importante para garantir que não levemos o vírus para casa para pessoas que são mais suscetíveis que nós. É um ato de amor e cuidado.
“No dia 1º de abril me desloquei até o hospital com dor de garganta, febre, tosse seca e dores no corpo. Fui atendido em uma área isolada e o médico me passou alguns remédios para controlar os sintomas e pediu pra eu ficar em casa em isolamento. Porém, não foi feito nenhum teste de Covid-19. Cumpri todas as orientações. Hoje estou sem nenhum sintoma e ainda não saí de casa, mas não tive nenhuma certeza de nada. Gostaria de saber se realmente era Covid-19. Se eu conseguir fazer o teste nos próximos dias, vai aparecer que eu já tive contato com o vírus mesmo depois de curado? Consigo fazer esse teste agora mesmo na rede particular aqui na região de Curitiba?” (Leandro de Souza Franceschini, 35 anos, inspetor de qualidade, Pinhais-PR)
Cientistas UFPR – Oi, Leandro! É importante ter certeza antes de sair do isolamento e você tem razão em se preocupar. É possível, pelos seus sintomas, que você tenha tido a Covid-19. Recomenda-se que seja feito o isolamento por 14 dias após o aparecimento dos sintomas. O retorno às atividades e o contato com outras pessoas podem ser retomados depois deste período, se não houver mais sintomas. Se você realizar um teste agora, por RT-PCR, que detecta o vírus, é possível que tenha resultado negativo, pois você não tem mais a infecção. Na verdade, esse teste deveria ser feito para lhe dar a tranquilidade. Você pode fazer um teste sorológico, que investiga a presença de anticorpos contra o coronavírus no seu sangue. Neste caso, se der positivo, você saberá que entrou em contato com o vírus, mas produziu anticorpos contra ele. Em geral são pesquisados dois tipos de anticorpos chamados IgM e IgG. Os do tipo IgM estão presentes durante a fase ativa do vírus e aparecem depois cerca de sete dias após o aparecimento dos sintomas. IgG são anticorpos na fase mais tardia, aparecendo depois de duas semanas e persistem por vários meses e talvez anos. Ou seja, esse teste pode dar positivo mesmo que o vírus já não esteja no seu organismo. Esse teste dá uma boa indicação se você teve Covid-19 e se já passou a fase aguda. Mas cuidado: nenhum destes testes têm sensibilidade de 100%. Vários laboratórios particulares de Curitiba estão realizando os testes, mas é necessária uma solicitação do médico. Consulte seu médico e verifique com ele a necessidade de fazer o teste, se isso o fizer se sentir mais tranquilo.
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Por Chirlei Kohls
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